Mesmo em ruínas, nunca deixou de ser um ícone da cidade de Lisboa. E ainda hoje se fala na Rotunda do Batista Russo, apesar de ter deixado de o ser há já perto de 20 anos. Durante muito tempo abandonado, o novo futuro do edifício já está em construção. Aquela que foi uma das principais comercializadoras de automóveis dará lugar a uma loja de desporto (ver texto ao lado). A zona oriental de Lisboa vê assim recuperado um dos seus marcos históricos.
A rotunda deixou de ser rotunda já neste século, quando o cruzamento da Av. Infante D. Henrique com a Av. Marechal Gomes da Costa foi resolvido pela Câmara de Lisboa com semáforos. No local, foi também construído um túnel, já previsto nos planos da Expo 98, com vista a desanuviar uma das zonas mais congestionadas da cidade. Era imperativo melhorar a circulação naquele que a autarquia classifica como “um dos cruzamentos que mais condicionam a fluidez de tráfego em Lisboa”. Resumindo: o tráfego sempre foi o ‘core business’ daquilo que deu fama ao Batista Russo – representante em Portugal das marcas BMW, MAN, SAVIEM e também importador dos primeiros Toyota que vieram para Portugal. Mais tarde passariam a ser comercializados pela Salvador Caetano.
Contrato Foi o bom relacionamento com a Batista Russo que abriu ao empresário Salvador Caetano as portas da Toyota. A Batista Russo fora nomeada importadora da Toyota, mas já depois de ter 75 unidades retidas na Alfândega, a BMW não consentiu a acumulação de representações. Coube a Salvador resolver o problema: o contrato foi assinado em 1968.
Antes de se dedicar ao ramo automóvel, Francisco Batista Russo, natural da Moita, esteve ligado à indústria da panificação e possuiu debulhadoras de descasque de trigo, negociou em melões e em cortiça.
A “Francisco Batista Russo & Irmãos, SARL – Sociedade Comercial e Industrial de Automóveis” teve a sua origem na empresa “Francisco Batista Russo e Irmão”, fundada em 1926 por Francisco Batista Russo (pai) como importadora da marca de pneus inglesa ‘Avon’.
Dois dos filhos de Batista Russo, Horácio Batista Russo e Francisco Batista Russo, fundaram a importadora de automóveis, mas por causa de desavenças viriam a separar-se. O primeiro continuou com o negócio e o segundo construiu a Univex, concessionário em vendas, assistência técnica e peças das marcas Mitsubishi, Kia e Fuso para Lisboa e Cascais.
Em 1958 decide construir aquilo que se tornou um ícone na cidade de Lisboa: as oficinas da “Francisco Batista Russo & Irmão” na Rotunda de Cabo Ruivo, com projeto arquitetónico de Joaquim Ferreira. Finda a construção, quatro anos depois, a empresa passa a “Sociedade Comercial e Industrial Automóveis Francisco Batista Russo & Irmão” e é construída uma instalação fabril em Vendas Novas para montagem de camiões “MAN”, “Steyr” e Atkinson”. Mais tarde seriam aqui montados os BMW “1600” e “2002”, que chegaram a Portugal pela mão da Batista Russo.
Insolvência Mas nos anos 90 a sociedade entra em insolvência. A linha de montagem de Vendas Novas seria usada ainda para os jipes UMM “Alter II” entre janeiro e dezembro de 1993.
Já no século XXI a unidade passou a montar veículos comerciais da Isuzu, mas esta deslocalizou-se em 2013, o que levou ao encerramento da fábrica em definitivo em 2014 e à insolvência em 2015.
Já as instalações de Cabo Ruivo, pela sua importância no comércio automóvel – muito por causa da importação exclusiva de marcas conceituadas europeias, mas também pela venda de produtos portugueses –, ficam para sempre associadas ao desenvolvimento económico e industrial dos anos 60 do século XX, tornando-se emblemática referência do local. Que ficaria popularmente conhecido, até hoje, como a “Rotunda do Batista Russo”.