As imagens do vídeo captam os últimos momentos de vida de Abed el-Fatah Abed e-Nabi, de 18 anos. O jovem corria a fugir da fronteira de Israel quando foi atingido por disparos de balas reais do exército israelita. Cai para não mais se levantar. Os disparos do exército de Israel provocaram, pelo menos , 17 mortos e 1400 feridos nos palestinianos que se manifestavam em Gaza, junto à fronteira com Israel.
O exército de Telavive assegura que disparou para matar, depois de os manifestante terem lançado cocktails molotov e pedras contra os soldados hebreus. “Usaram meios de dispersão e disparos contra os principais instigadores” e aqueles que tentaram passar a fronteira. As imagens deste vídeo mostram que não foi bem assim: muitos dos palestinianos foram atingidos a fugir e não a tentar aproximar-se do território ocupado por Israel.
As autoridades israelitas garantem que não vão tolerar manifestações junto à sua fronteira, que apelidam de “atos terroristas camuflados de protestos”: “Se o Hamas pretende prosseguir e converter o local num lugar de eventos violentos diários até a 15 de maio [dia que os organizadores palestinianos têm previsto terminar as manifestações da Grande Marcha do Retorno, que protesta contra a expulsão de milhões de palestinianos das suas terras por Israel], nós não vamos permitir esse jogo de pingue-pongue e que eles provoquem atos terroristas camuflados de protestos, e só respondemos: iremos mais longe para acabar com a violência”, garante o general israelita Romen Menelis.
O presidente palestino, Mahmoud Abbas, respondeu às declarações do Estado hebreu, dizendo que Israel, que disparou as balas contra manifestantes, é a única responsável pelos mortos e feridos causados: “O grande número de mártires e feridos numa manifestação pacífica reafirma a necessidade de que a comunidade internacional intervenha para proteger a nossa gente”, pediu este dirigente palestiniano da OLP.
A ONU e a União Europeia pediram que se faça uma investigação independente sobre o sucedido em Gaza, de que resultou a morte de, pelo menos, 17 palestinianos. E pediram a Israel que “só usasse força letal em último recurso”.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, pediu “contenção” às partes em conflito. “O secretário-geral também pediu aos atores envolvidos que se abstenham de qualquer tipo de atos que possam causar mais mortes, em particular medidas que possam pôr em perigo civis”, informou o porta-voz de Guterres, Farhan Haq.
A União Europeia, por seu turno, pediu a abertura de uma investigação independente sobre o sucedido. “O uso de munição real deve ser objeto de uma investigação independente e transparente. Apesar de Israel ter o direito de proteger as suas fronteiras, o uso da força deve ser sempre proporcional. A liberdade de expressão e reunião são direitos fundamentais que devem ser respeitados”, manifestou em comunicado a responsável pela diplomacia europeia, a comissária Federica Mogherini.
Estes pedidos da comunidade internacional não comovem o governo de Israel. Segundo o ministro da Defesa deste país, Avigdor Lieberman, não há nenhuma razão para proceder a qualquer inquérito: os soldados atuaram respeitando o “protocolo estabelecido” ao disparar sobre milhares de manifestantes palestinianos. “Em nenhuma circunstância se abrirá uma investigação”, informou o ministro, que ironizou em relação à ONU. “Sugeria que a manifestação dos hipócritas iniciasse uma investigação sobre o meio milhão de mortos na Síria”, atalhou Lieberman, defendendo assim a utilização de mais de 100 snipers e de artilharia contra manifestantes desarmados.