Um primeiro ministro nanny só de alguns


Um primeiro ministro nanny só de alguns


Na sexta feira os portugueses viveram um turbilhão de emoções: primeiro, a visita de Sua Santidade o Papa; horas depois o Benfica sagra-se tetra campeão da primeira liga e, como se não bastasse, no final da noite, os manos Sobral mostravam à Europa que a música portuguesa não se limita ao Fado. Mas se estas emoções foram acessíveis a todos, ou a quem quisesse (aqui me confesso portista), uma família portuguesa beneficiou de um lamentável ato de discriminação positiva decretado unilateralmente e por capricho do nosso Primeiro Ministro (PM). É que, em dia de tolerância de ponto para a função pública, o nosso PM deixou de ser nanny de todos os portugueses para dedicar as suas horas matutinas a tomar conta de quatro crianças de um jornalista português. Como não podia deixar de ser, a fotografia, onde, ao fundo, se vê desenhos animados do canal panda, e no centro um PM descontraído e muito divertidos, já correu os jornais e as redes sociais. 

Para quem não conhece a história, João Miguel Tavares (JMT), depois de ter sido anunciada a tolerância concedida por ocasião da visita do Papa, escreveu um artigo de opinião no qual, com a sua magnífica ironia a que já nos habituou, perguntava (retoricamente, claro) a António Costa se não poderia tomar conta dos filhos naquela data, dado que a escola estaria fechada e não tinha a quem os deixar. António Costa prontamente se disponibilizou para resolver o problema de JMT não sem explicar que, da parte da manhã, poderia fazer de babysitter das crianças mas, da parte da tarde, teria de ir a Fátima. 

Todo este episódio tem muito que se lhe diga. Desde logo, mostra a flexibilidade da agenda deste nosso estadista e a sua agilidade para resolver problemas alheios. E mostra também que este não é um PM qualquer: é um político com sentido de humor, com uma fina ironia, com grandeza e largura de espírito suficientes para “encaixar” os críticos e responder com a mesma moeda. Depois, é um magnânimo, um soberano com tamanha bondade e abertura ao próximo que até toma conta das crianças de um dos seus maiores críticos. Tudo isto seria muito pitoresco, seria mesmo uma genial manobra do marketing de gestão da imagem do PM, não fosse dar-se o caso de António Costa ter sido eleito pelos portugueses para resolver os problemas de todos os portugueses e não apenas de alguns. Parece que o nosso PM está mais preocupado em polir a sua imagem e, uma vez conquistados os corações radicais da esquerda portuguesa, está agora determinado em lançar o mesmo feitiço aos seus críticos à direita. Entretanto, ter-se-á esquecido que tem a responsabilidade e a legitimidade para resolver o problema de todas aquelas famílias que, na sexta feira passada, não tiveram a quem deixar os seus filhos. Resta saber, numa próxima tolerância de ponto, qual será a família à qual o Sr. PM disponibilizará os seus serviços. 

 

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