Golpe travado na Turquia. Como aconteceu

Golpe travado na Turquia. Como aconteceu


Uma fação do exército turco anunciou na noite de sexta-feira ter “assumido o controlo do país”. O Governo avisou logo que não passava de tentativa e o regresso de Recep Erdogan a Istambul, horas depois, dava razão ao regime. Foi assim que seguimos a primeira tentativa de golpe militar transmitida em direto para todo o…


O Governo anunciou aquilo a que chama tentativa de golpe antes dos próprios militares, mas a verdade é que o Presidente Recep Erdogan falou ao país através de uma chamada de videoconferência para uma estação televisiva. 

Erdogan apelou aos seus apoiantes para que saiam à rua para contestar a tentativa de golpe. “Peço às pessoas que se juntem nas ruas e no aeroporto. Não há força maior do que o povo”, disse o Presidente. 

 

Esta tentativa de golpe contra o regime de um homem que está no poder há 13 anos (11 como primeiro-ministro e dois como Presidente) surge cerca de uma semana depois de ter sido anunciada uma reaproximação à Rússia, depois do extremar de posições, em novembro do ano passado, que levou ao abate de um caça russo junto à fronteira com a Síria.​

Erdogan garante que apenas um grupo do exército está a tentar derrubar o regime e que os líderes militares não alinham com os golpistas. Ligando o grupo ao seu arqui-inimigo Fethullah Gülen, o chefe do Estado turco disse que “o país não pode ser governado a partir da Pensilvânia”, em referência ao exilo do rival nos EUA.

Mas as imagens da entrada do aeroporto internacional de Istambul e das pontes que ligam a Ásia e a Europa por cima do Rio Bósforo, onde militares armados impedem a passagem de toda a gente – criando filas de quilómetros nos acessos à ponte – não conseguem disfarçar a dimensão da dissidência militar.

Em imagens em direto de Istambul, por volta das 23h em Lisboa, a Al Jazeera mostrava uma rua com muitas pessoas e veículos parados, ouvindo-se tiros ao longe sem que a reação dos presentes indicasse perigo.

Outro sinal da força do golpe foi a tomada da estação televisiva RTR (Rádio e Televisão Turca). Também a Al Jazeera cita jornalistas turcos a contar que os militares entraram, retiraram-lhes os telemóveis e assumiram o controlo da emissão. Terá sido aí que os militares anunciaram “ter assumido o controlo do país” devido ao crescente carater “autocrático do regime”. Segundo a SIC Notícias, essa estação turca tem estado com uma pivot em direto toda a noite, enquanto outras estações mostram imagens das multidões na rua.

As imagens repetiram-se na ponte sobre o Bósforo. Uma multidão já considerável avança a pé em direção aos militares, ouvem-se disparos de armas automáticas mas a reação da multidão filmada parece indicar que os tiros são para o ar.

 

 

Também se observam imagens de festejos, que fazem adivinhar momentos de tensão entre apoiantes e detratores do regime. Outra imagem mostrou uma grande nuvem de fumo em Ancara, parecendo tratar-se de uma explosão. A Reuters relata que tanques do exército dispararam junto ao Parlamento, enquanto a AP avança que os tiros na ponte de Istambul forma mesmo sobre pessoas que tentavam criar a barreira de segruança ali criada.

 

 

Na ponte, o som de tiros é acompanhado por assobios da multidão de civis. Mas agora as pessoas já se deitam no chão e escondem-se atrás dos carros, aparentando recear os tiros como não aconteceu há minutos. 

Mas há também tiros de cima, vindos de helicópteros.

 

E já há relatos de combates entre militares e polícias nas ruas, como se pode observar nestas imagens.

 

Em declarações ao New York Times, o ex-primeiro-ministro Ahmet Davutoglu alertou para as consequências de um eventual golpe ao regime: “A estabilidade da Turquia significa estabilidade em muitos países” e “um refúgio seguro para milhões de refugiados” ­– “se for afetada, o efeito dominó não poderá ser evitado”.

Já Barack Obama defende que “todos os partidos devem defender o governo democraticamente eleito da Turquia, mostrar contenção e evitar qualquer violência e banho de sangue”.

Naquela que será a primeira tentativa de golpe militar transmitida em direto globalmente, a balança de forças parece pender para o regime. As forças militares já começaram a responder – tendo sido abatido um helicóptero dos revoltosos – e são muitas as imagens de militares controlados pela população.

 

 

 

Também a televisão que havia sido captura pelos golpistas parece estar em vias de voltar para as mãos do governo: as imagens mostram a pivot que passou toda a noite a ler comunicados dos golpistas rodeada de populares vitoriosos.

A NATO junta-se ao apoio declarado a Erdogan: o secretário-geral Jens Stoltenberg diz-se “preocupado” enquanto “observa os acontecimentos” na Turquia, um “membro valioso” da Aliança Atlântica.

Binali Yildirim, o primeiro-ministro que anunciou a tentativa de golpe em primeira mão, avança agora que a “situação está controlado”, segundo a BBC. Apesar da visível permanência militar nas ruas, as informações que apontam para a derrotas dos golpistas sucedem-se. A mesma BBC avança que uma multidão se forma agora no aeroporto Ataturk, em Istambul, onde esperam que Erdogan aterre dentro de minutos.

Já falta pouco para as 2h em Lisboa (mais duas na Turquia), Erdogan já aterrou em Istambul, mas as informações sobre trocas de tiros entre polícias e militares mantêm-se. A CNN local, a mesma que entrevistou Erdogan por videochamada no início da jornada, foi assaltada por militares em pleno direto, tal como terá sido a redação do Hurriyet Daily News. 

Também esta a ser noticiada a ocorrência de uma explosão no aeroporto Ataturk, onde momentos antes fora anunciada a terragem de Erdogan.

As televisões mostram agora o carro de Erdogan nas ruas de Istambul, rodeado por uma imensa mutidão de apoiantes. E sai do veículo para os saudar. 

Erdogan a falar: “Um grupo minoritário tentou atingir a integridade deste país. Foi uma traição e vão ter de pagar caro por isto. São governos que foram eleitos pelo o povo, um presidente que foi eleito pelo povo e não podem encarar o facto de Erdogan ser o comandante em chefe”.

“É um movimento que vai acabar por ser desfeito, porque as nossas forças armadas já estão a chegar”, anunciou o Presidente antes de referir que o local onde estava no início da noite foi atingido por bombas momentos depois da sua saída.

"Muitos já estão a ser presos", anunciou. 

nuno.e.lima@ionline.pt