Até aqui, para Nuno Melo, cerveja era mesa de apoio. Vulgo complemento, aquele objeto que seguramos na hora de gritar golo, bebida da qual nos queremos livrar o mais depressa possível a fim de poder pedir outra.
E aqui pode ser longe, algures entre as road trips que Nuno e o seu sócio BrunoCarrilho fizeram para estudar o mercado da cerveja artesanal, aqui é sobretudo Indian Pale Ale (IPA).
“Tudo mudou quando experimentei uma IPA, a cerveja que tem marcado esta revolução da craft beer. Tem um esplendor de frescura incrível, é diferente”, conta-nos Nuno no número 83 da Rua do Açúcar, armazém que é a morada da Musa e que hoje acolhe a festa de apresentação da mesma, a partir das 21h, com direito a concertos de Moullinex, Holy Nothing e Memória de Peixe.
Caso para dizer que com a Musa – isto com a devida autorização de Adelaide Ferreira – a cerveja volta ao papel principal.
Sem querer revelar o que está atrás da cortina que será esta festa, adiantamentos apenas que a sua montagem – onde fomos meras testemunhas – sugere o que já desconfiávamos: a Musa é uma cerveja da cena.
Troque-se cena por indie, assim não fosse e as três cervejas da Musa não se chamariam assim: Mick Lager, Red Zeppelin Ale e Born in the IPA. Quanto a estas três ladies já lá vamos – se não se importarem de esperar um pouco, não demoramos nada – que agora importa explicar a questão levantada atrás.
Ser indie e ser cerveja, portanto. “O nosso objetivo é democratizar a cerveja artesanal, que no futuro a cerveja artesanal seja só cerveja, por isso fomos escolher bandas grandes dar nome às nossas cervejas, mas são bandas que nunca perderam o seu lado irreverente. Esse é o nosso branding, queremos ser contemporâneos, quase como se fossemos uma banda indie, queremos ser uma cerveja indie”, contextualiza Nuno, natural do Porto – que antes disto era mais fato e gravata. “Fazia consultoria para grandes empresas, para empresas do PSI 20 em Portugal e não só”.
Só que, como todos sabemos, a gravata aperta, os sapatos magoam e a consultoria, “no final de 2014 tinha chegado ao fim do seu ciclo”. Para Nuno e para Bruno. Este último, tendo estado na Califórnia a observar a cerveja artesanal a fazer-se senhora, propôs a Nuno que fizessem a sua.
Lançaram um concurso internacional para encontrar o seu mestre cervejeiro, e começaram a produzir em modo gipsy brewer – sim, não fomos nós que inventámos o conceito, é aquilo a que se chama a um cervejeiro sem fábrica própria. Já estão em 25 postos de venda em Lisboa e outros 25 no Porto, entre bares, restaurantes e lojas.
Agora é tempo de caminhar para o cenário ideal: a sua fábrica, lugar onde também terão um bar, lá mais para o final do ano.
O bruxedo tem limites, quem o diz é Nuno Melo, que não querendo arriscar uma data específica pode, no entanto, dizer-se que é perito em futurologia. Aliás, foi através deste que a Musa começou a ganhar pernas.
“Quando se diz Musa as pessoas ligam logo a inspiração, há dois anos estava bem com o que tinha em Portugal, nunca tinha pensado que gostava de ter algo diferente de uma Super Bock ou de uma Sagres. Chama-se Musa porque isto é inspirar as pessoas a virem conhecer uma coisa que não sabem que gostam mas que acho que vão gostar”, diz, confiante.
O pior para o fim, claro. Nisto das sessões fotográficas que ilustram artigos convém, se o assunto é cerveja, que se beba qualquer coisa. Sugerimos a Nuno que o fizesse, a não ser que preferisse simular, é que o relógio só apontava meio dia.
“Para isso bebo, e vocês, querem provar?”, e assim, sorrateiramente, se consegue o que se quer. Só não provámos a Mick Lager, essa fica para mais logo, mas quanto à Red Zeppelin Ale – 5% de volume e a nossa paixão maior, até porque como os Led Zeppelin há poucos – e à Born in the IPA – 6,5% de volume e mais atrevida no sabor, digna de Bruce “Almighty” Springsteen – foi um prazer conhecê-las. E formosas como são isto é para casar. Sim, com as duas.