Se um dia depois de conhecido o resultado das legislativas em Portugal eram evidentes as potenciais alianças para a formação de um governo, em Espanha a situação é tudo menos clara após uma semana .
Os partidos mais votados – PP e PSOE, primeiro e segundo, respetivamente, apesar de terem tido das piores votações da sua história (a do PSOE foi a pior, mesmo) – parecem ainda atordoados. E aperta-se o cerco aos seus líderes.
José María Aznar apareceu de surpresa numa reunião dos populares no dia a seguir às eleições. Não reclamou para já a cabeça de Mariano Rajoy, mas foi claro: com estes resultados terá de haver um congresso extraordinário. Este anunciou que vai tentar formar governo, negociando «com vistas largas e generosidade». E acrescentou que «foi sempre assim que aconteceu na história da democracia espanhola», ou seja, ser o partido mais votado a governar.
‘Dona’ do PSOEdeixa cair Sánchez
No PSOE o descalabro de Pedro Sánchez está a ser cuidadosamente fiscalizado pela presidente da Andaluzia, a ‘dona’ do partido e uma das responsáveis pela ascensão de Sánchez a líder. Se o seu poder já era grande, só aumentou nas legislativas de domingo porque foi a região que governa a impedir os socialistas de serem ultrapassados pelos emergentes Podemos e de caírem num abismo político. Só nesta região foram eleitos 22 dos 90 deputados do PSOE. Mesmo assim, o partido perdeu mais de 1,5 milhões de votos e 20 deputados a nível nacional.
Pouco depois das eleições, Díaz já lamentou os resultados obtidos pelo atual líder – e frisou que não é a favor de entendimentos com os populares nem com o Podemos, nomeadamente porque não admite políticas que conduzam à divisão da Espanha (uma das condições anunciadas por Pablo Iglésias para negociar é um referendo sobre a Catalunha).
O mesmo já tinha dito o número dois de Sánchez, logo no início da semana, mas a reprimenda da presidente da Andaluzia tinha como objetivo deixar cair o secretário-geral, a quem no dia 24 deu a estocada final: a política de pactos «decide-se no Comité Federal», onde manifestará a sua posição na segunda-feira, e não pelo secretário-geral.
Mas apelou a uma nova posição do Podemos: «Toda a gente terá de refletir, inclusivamente os que pretendem ser uma força útil a partir da esquerda».
Podemos e Ciudadanos tomam a iniciativa
São os terceiro e quartos partidos mais votados que estão na liderança de uma política de alianças. Apesar dos sinais negativos dados pelos socialistas, o Podemos ainda tem a esperança de chegar a uma solução de governo composta por PSOE, o seu partido e nacionalistas catalães e bascos.
Pelo meio avançou a possibilidade de afastar Sánchez – «se calhar não está em condições sequer de ser líder do seu partido», considerou – e não esperou pela convocatória do partido mais votado: marcou ele próprio uma conversa com Rajoy. Não é previsível, porém, que tenha sucesso nesta missão.
A quarta formação, os Ciudadanos, também anda a tentar encontrar uma solução. Neste caso, a aposta é um grande entendimento entre PP, PSOE e Ciudadanos para viabilizar um executivo de Mariano Rajoy. E propôs um pacto de regime que possibilite o arranque da legislatura, uma equipa governativa e o impulso para as «reformas necessárias à regeneração política que a Espanha necessita».
Apesar de todos os esforços, o mais certo é que dentro de meses os espanhóis voltem aos boletins de voto.