Poluição. Mais de 6 mil mortes prematuras em Portugal num só ano

Poluição. Mais de 6 mil mortes prematuras em Portugal num só ano


No total dos 28 estados-membros da União Europeia, os números sobem: 432 mil casos de morte relacionados com exposição a ar contaminado.


A sobrevivência das sociedades depende de muitas coisas. Se nesta equação podemos colocar os ecossistemas, também teremos, por outro lado, de incluir as necessidades do dia-a-dia: transportes públicos, automóveis, funcionamento das indústrias e tratamento do lixo. As origens da poluição do ar podem ser variadas mas as conclusões são negras: segundo um relatório sobre a qualidade do ar da Agência Europeia do Meio Ambiente (AEMA), ontem publicado, em 2012 a poluição – exposição a partículas, dióxido de azoto e ozono – foi a causa de morte prematura de 6190 pessoas no nosso país.

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Analisar os dados relativos ao ano seguinte nos 28 estados-membros da União Europeia ajuda a pôr esta questão em perspectiva: foram 432 mil os casos de morte relacionados com a exposição a partículas PM2,5 ou outros poluentes. O ozono troposférico (O3) e o dióxido de nitrogénio (NO2), causaram a morte prematura de, respectivamente, 17 mil e 75 mil pessoas.

Em Portugal, no que às partículas PM 10 diz respeito, “não temos qualquer caso de ultrapassagem em relação aos valores limite”, garante ao i Francisco Ferreira, do Centro de Investigação em Ambiente e Sustentabilidade da Universidade Nova de Lisboa. Há, contudo, um caso preocupante. Não será de estranhar: a Avenida da Liberdade, em Lisboa. Apesar de já ter sido alvo de diversas medidas de acalmia de tráfego, esta via da capital “está quase a ultrapassar” os valores permitidos.“O tráfego automóvel é a principal causa”, justifica o responsável, que deixa ainda uma garantia: “Não temos nenhum outro caso em que estejamos com grandes problemas.”

À escala europeia, são diversos os países que se destacam pela negativa no dossiê das partículas: no Norte de Itália e na Grécia os carros e os transportes públicos são os principais culpados pelos níveis que se apresentam nesta parte do globo. Bulgária, Polónia e Croácia acumulam outro problema: além de terem uma frota automóvel consideravelmente antiga, há ainda uma forte tendência industrial a contribuir para os maus resultados. 

Dióxido de azoto e ozono

Em relação ao dióxido de azoto, a história em Portugal pode até ser considerada mais preocupante. Além de Lisboa, também Braga e “provavelmente o Porto” estão com uma situação bastante grave quanto a este poluente: “Trata-se de um problema genericamente mais complicado”, explica Francisco Ferreira. Tudo tem uma razão:“Enquanto as partículas interferem com a saúde, o dióxido de azoto afecta também os ecossistemas”, acrescenta o especialista. Como se não fosse já suficiente, o “dióxido de azoto é também um precursor do ozono”.

O impacto deste poluente é deste modo mais diversificado, e em Portugal não se sente apenas na capital, como o verificado no caso das partículas: “O que se origina em Lisboa pode depois ser levado até às zonas do Interior”, afectando--as igualmente. 

O dióxido de azoto tem grande incidência nas principais cidades europeias, por exemplo Londres, Paris, Milão ou Roma. Oxford Street, uma das principais e mais movimentadas ruas da capital britânica, é, segundo os dados mais recentes, “o caso mais grave”.

O Verão é a altura do ano em que as concentrações de ozono são mais problemáticas devido às temperaturas mais elevadas. No mapa da Europa, a mancha que mostra a dimensão deste problema prolonga-se do Norte da Grécia a Itália, à Croácia e a Espanha: “É um problema típico da Europa do Mediterrâneo e do Sul. Dos locais com mais calor”, considera Francisco Ferreira. 

Na União Europeia a exposição ao ozono nas cidades está “muito alto”, com cerca de 98% da população urbana a superar os limites definidos pela Organização Mundial de Saúde. Nas zonas rurais o valor situa-se nos 86%. 

O relatório da Agência Europeia do Ambiente revela dados referentes a 2013 e, desde essa data, a tendência tem sido de melhoria das condições do ar: “No caso do ozono varia muito com as condições meteorológicas. No dióxido de ozono, apesar de estarmos a melhorar, estamos longe ainda de conseguir cumprir o limite anual, segundo o relatório”, garante o especialista do Centro de Investigação em Ambiente e Sustentabilidade.

Contudo, conclui, “as medidas que têm vindo a ser tomadas em relação ao tráfego são fundamentais para salvaguardar a diminuição necessária da poluição”.