Refugiados. “Corrida contra  o tempo” para salvar Schengen

Refugiados. “Corrida contra o tempo” para salvar Schengen


Suécia reintroduz controlos de fronteiras, para já por dez dias. UE aprova 1,8 mil milhões de euros para ajudar África.


A ajuda financeira ao continente africano para combater as desigualdades sociais já se provou insuficiente sem outras medidas, mas é no dinheiro que a União Europeia continua a apostar, agora para tentar reduzir o número de pessoas que fogem de várias nações africanas, sobretudo da Eritreia, Somália e Nigéria, em busca de melhores condições de vida no continente europeu.

Ontem, na cimeira a decorrer em Malta, a Comissão Europeia anunciou que vai dar 1,8 mil milhões de euros extra a África para “ajudar a resolver as causas da migração irregular”, numa altura em que se contabilizam mais de 150 mil entradas na Europa de nacionais do Corno de África desde o início do ano. Algumas das nações de que estes refugiados são oriundos já declararam que a soma oferecida é “insuficiente”.

À semelhança do que a UE fez com a Turquia há duas semanas, prometendo 3 mil milhões de euros ao país que mais refugiados sírios e de outras nacionalidades já acolheu este ano, a Comissão compromete-se a ajudar África com dinheiro, mas tal deverá provar-se insuficiente para travar o fluxo de centenas de milhares de pessoas que têm fugido para os países do bloco europeu – mais de 650 mil desde Janeiro, na sua maioria sírios, mas também afegãos, iraquianos e cidadãos de países africanos sobretudo do Corno de África.

Na mesma cimeira europeia de ontem, a Suécia anunciou que vai seguir o exemplo de parceiros europeus e repor os controlos nas suas fronteiras, ainda que tenha sublinhado que é uma medida “temporária” que, para já, está previsto que termine dentro de dez dias. O anúncio sueco surge um dia depois de a Eslovénia ter começado a construir uma barreira de arame farpado na sua fronteira com a Croácia, à semelhança do que a Hungria já fez nas fronteiras com a Sérvia, a Croácia e a Roménia, e que a Bulgária fez na fronteira com a Turquia.

Os argumentos das autoridades suecas para erguer mais muros e barreiras, físicos ou virtuais, dentro do espaço Schengen foram os mesmos dos outros países, com a Suécia a falar de um passo “necessário” devido ao impacto que as novas chegadas estão a ter no país, onde crescem as “ameaças à ordem pública”. “Esta não é uma questão para um ou dois ou três países resolverem”, declarou o primeiro-ministro sueco, Stefan Lofven, em Malta. “Precisamos de outro sistema, isso é óbvio.” De acordo com contas da UE e da Organização Internacional para as Migrações, a Suécia deverá receber, até ao final deste ano, 200 mil requerentes de asilo, o número mais alto per capita de entre todos os estados-membros.

Salvar Schengen Perante isto, o presidente do Conselho Europeu, o polaco Donald Tusk, usou a cimeira para repetir que a UE está numa “corrida contra o tempo para salvar Schengen”, o espaço de livre circulação de pessoas e bens entre alguns dos estados-membros da UE. “Estamos determinados a vencer” essa corrida contra o tempo, garantiu Tusk, declarando ainda que as decisões da Alemanha, Áustria, Suécia, Eslovénia e Hungria de reintroduzir o controlo de fronteiras “mostram com a máxima clareza a enorme pressão sobre os estados-membros” da UE.

As tensões dentro do bloco europeu têm aumentado a cada semana, sobretudo desde a contenda sobre o plano de quotas de acolhimento proposto pela Comissão Europeia em Setembro. Até agora, sob esse plano, apenas 130 refugiados foram retirados da Grécia e de Itália, os dois países por onde estas pessoas entram, e realojados noutros estados-membros da UE. Mas muitos dentro do bloco, com a Hungria, a República Checa, a Eslováquia e a Polónia à cabeça, continuam a recusar-se a partilhar os esforços de redistribuição.

As relações diplomáticas entre parceiros da UE amargaram ainda mais quando a Alemanha anunciou que, por estar a alcançar o seu limite, planeia mandar para trás muitos dos refugiados sírios que já chegaram ao país vindos do sul, mas que não pretende enviá-los para a sobrecarregada Grécia. Até 15 de Setembro, quando a Hungria completou o muro na fronteira com a Sérvia, foi esse o país por onde passou a maioria dos refugiados vindos da Grécia, sendo para aí que Berlim pretende reencaminhar estas pessoas, alimentando ainda mais a ira de Budapeste.