Os sub-21 só sabem ganhar. Foi assim no grupo de apuramento, com oito vitórias, no play-off com dois triunfos e agora na estreia da fase final contra a Inglaterra. João Mário marcou o único golo do encontro, aos 57 minutos, e ofereceu o primeiro triunfo à selecção num Europeu sub-21 desde 2007. Na altura, apesar de não seguir em frente para as meias–finais, bateu Israel por 4-0 com golos de ManuelFernandes, Vaz Tê, Miguel Veloso e Nani. Os tempos agora são outros. Há jogadores com talento para dar e vender e a fasquia nem está muito elevada: o primeiro objectivo é garantir uma vaga nos Jogos Olímpicos. O triunfo sobre a Inglaterra – que até agora só tinha cedido um empate – abre caminho a essa meta e avança já a possibilidade de se fazer ainda mais.
Rui Jorge apostou no modelo que deu excelentes indicações no play-off de apuramento contra a Holanda. Ricardo Pereira (FCPorto) e Ivan Cavaleiro (Benfica) eram duas flechas apontadas com liberdade para desequilibrar no ataque, enquanto o meio-campo surgia em losango, com WilliamCarvalho como pivô, João Mário pela direita, Sérgio Oliveira pela esquerda e Bernardo Silva no vértice ofensivo. As rotinas existiam e apareciam em campo, a qualidade de definição no último terço nem por isso.
A Inglaterra também não ajudava. Num onze em que o goleador Harry Kane (Tottenham)era a grande figura, a ideia de jogo estava muito diferente daquela que se tornou numa imagem de marca do futebol britânico. Em vez de lançamentos em profundidade, havia futebol apoiado. Em vez da força acima da técnica, havia técnica aliada à força. Para não falar da interpretação táctica que provocava muitas dificuldades a Raphaël Guerreiro no lado esquerdo da defesa. Foi esse flanco que os ingleses privilegiaram enquanto perceberam que o lateral doLorient não tinha o apoio necessário, explorando as subidas constantes de Jenkinson. Do lado contrário, Portugal fazia o mesmo e a integração de RicardoEsgaio no ataque criava perigo. Aos sete minutos, depois de lançado por João Mário, cruzou com perigo para o coração da área e viu Liam Moore quase fazer autogolo – valeu a defesa de Butland.
último capítulo O jogo estava animado e intenso. Se a qualidade técnica de um meio-campo com William, Sérgio Oliveira, João Mário e Bernardo Silva elevava a fasquia, a resposta da Inglaterra com Chalobah, Ward-Prowse e Carroll não ficava nada atrás. Só não parecia servir o suficiente para gerar situações de desequilíbrio. Era como uma história bem contada, com suspense, com personagens cativantes mas com um fim que desiludia e fazia com que o cinéfilo se perguntasse ‘mas é só isto?’
Os ataques falhavam em momentos distintos. No lado lusitano, havia velocidade e espaços criados mas no último passe ou mesmo no momento do remate, tudo se perdia. Fosse por João Mário escorregar, por atirar muito mal para a bancada, por Bernardo Silva ganhar boa posição apenas para oferecer a bola a Butland ou por Ivan Cavaleiro recuperar um lance aparentemente perdido para se precipitar na altura do remate. Na resposta, a Inglaterra não estava melhor. Eram vários os instantes de superioridade numérica num flanco ou no miolo, mas os remates só davam para assustar, já que não visavam a baliza. A primeira parte teve uma excepção, aos 34 minutos. Harry Kane recebeu a bola em posição frontal, enquadrou-se com a baliza e rematou forte para José Sá (Marítimo) voar para uma defesa sensacional que afastou a bola para canto.
Exigia-se mais na segunda parte. Rui Jorge não cedeu à tentação de mudar logo e o tempo deu-lhe razão, aos 57 minutos. Bernardo Silva teve uma grande oportunidade mas acertou no poste. Butland negou-lhe a recarga mas afastou a bola para os pés de João Mário, que não teve dificuldade de inaugurar o marcador com a baliza deserta. A pressão estava do lado inglês e Portugal começou a gerir. Guardou mais a bola e preparou-se para outro tipo de transições, com as entradas de Mané e Iuri Medeiros.
A Inglaterra tentou forçar o empate – Pritchard entrou muito bem – e assustou nos últimos minutos, mas José Sá mostrou ser um último obstáculo impossível de superar. Os três pontos foram garantidos com a resistência final e dá para já a liderança do grupo, em igualdade com a Suécia, que ontem começou mal com a Itália (a perder e reduzida a dez) mas que conseguiu dar a volta. Portugal volta a entrar em campo no domingo, contra a Itália (19h45).