A face negra do feminismo


As mulheres que pediram a cabeça de Hunt mostraram um desejo de vingança pouco saudável. E uma falta de sentido de humor que – perdoem-me a franqueza – roça a tolice.


Podia ser uma daquelas mentirinhas inofensivas que os jornais publicam no dia 1 de Abril ou uma notícia saída directamente da secção de insólitos. Eu, pelo menos, não queria acreditar. Tim Hunt, Prémio Nobel da Medicina em 2001, viu-se obrigado a renunciar ao cargo de professor honorário de uma universidade de Londres por causa de declarações feitas há dias na Coreia.

Na Conferência Mundial de Jornalistas de Ciência, Hunt disse qualquer coisa como isto: “Deixem-me falar-vos sobre o meu problema com as miúdas. Quando elas estão no laboratório, podem acontecer três coisas: apaixonamo--nos por elas, elas apaixonam-se por nós e, quando as criticamos, elas choram.”

Estas palavras – que obviamente não eram para ser levadas a sério, até porque Hunt é casado com uma ilustre imunologista – desencadearam a ira das feministas. Choveram protestos e insultos nas redes sociais. E auniversidade, à qual se exigia um pouco mais de clarividência, foi na conversa. Enquanto o Nobel ainda se encontrava no voo de regresso ao Reino Unido, a sua mulher recebeu uma chamada telefónica de um alto responsável académico a avisar que o marido teria de renunciar ao cargo.

Sempre imaginei que havia uma certa complacência para com os grandes homens. Que os seus feitos lhes davam margem para dizerem ou fazerem alguns disparates. Pelos vistos, estava errado:hoje, asseguram--me, quem recebe uma distinção como o Nobel passa a ter uma responsabilidade acrescida e, como tal, deve pesar cada palavra para não ofender quem quer que seja – nem a brincar.

Mas, pior do que isso, o desfecho deste caso constitui uma péssima publicidade para a causa feminista. As mulheres que pediram a cabeça de Hunt mostraram um desejo de vingança pouco saudável. E uma falta de sentido de humor que – perdoem-me a franqueza – roça a tolice.

A face negra do feminismo


As mulheres que pediram a cabeça de Hunt mostraram um desejo de vingança pouco saudável. E uma falta de sentido de humor que – perdoem-me a franqueza – roça a tolice.


Podia ser uma daquelas mentirinhas inofensivas que os jornais publicam no dia 1 de Abril ou uma notícia saída directamente da secção de insólitos. Eu, pelo menos, não queria acreditar. Tim Hunt, Prémio Nobel da Medicina em 2001, viu-se obrigado a renunciar ao cargo de professor honorário de uma universidade de Londres por causa de declarações feitas há dias na Coreia.

Na Conferência Mundial de Jornalistas de Ciência, Hunt disse qualquer coisa como isto: “Deixem-me falar-vos sobre o meu problema com as miúdas. Quando elas estão no laboratório, podem acontecer três coisas: apaixonamo--nos por elas, elas apaixonam-se por nós e, quando as criticamos, elas choram.”

Estas palavras – que obviamente não eram para ser levadas a sério, até porque Hunt é casado com uma ilustre imunologista – desencadearam a ira das feministas. Choveram protestos e insultos nas redes sociais. E auniversidade, à qual se exigia um pouco mais de clarividência, foi na conversa. Enquanto o Nobel ainda se encontrava no voo de regresso ao Reino Unido, a sua mulher recebeu uma chamada telefónica de um alto responsável académico a avisar que o marido teria de renunciar ao cargo.

Sempre imaginei que havia uma certa complacência para com os grandes homens. Que os seus feitos lhes davam margem para dizerem ou fazerem alguns disparates. Pelos vistos, estava errado:hoje, asseguram--me, quem recebe uma distinção como o Nobel passa a ter uma responsabilidade acrescida e, como tal, deve pesar cada palavra para não ofender quem quer que seja – nem a brincar.

Mas, pior do que isso, o desfecho deste caso constitui uma péssima publicidade para a causa feminista. As mulheres que pediram a cabeça de Hunt mostraram um desejo de vingança pouco saudável. E uma falta de sentido de humor que – perdoem-me a franqueza – roça a tolice.