Os snipers estavam às ordens dos líderes da praça Maidan?


Os franco-atiradores que nas últimas manifestações em massa em Kiev dispararam sobre a população e as forças de segurança foram contratados pelos líderes dos protestos na Praça Maidan, e não pelo líder deposto, Viktor Yanukovytch. Numa chamada telefónica posta ontem a circular na internet, entre o ministro dos Negócios Estrangeiros da Estónia e a chefe…


Os franco-atiradores que nas últimas manifestações em massa em Kiev dispararam sobre a população e as forças de segurança foram contratados pelos líderes dos protestos na Praça Maidan, e não pelo líder deposto, Viktor Yanukovytch.

Numa chamada telefónica posta ontem a circular na internet, entre o ministro dos Negócios Estrangeiros da Estónia e a chefe da diplomacia da União Europeia, Urmas Paet diz a Catherine Ashton que “há agora um entendimento cada vez mais certo de que não foi Yanukovytch a contratar os snipers, mas alguém da nova coligação [governamental interina]”. “Penso que queremos investigar [isso]. Quer dizer, eu não me apercebi disso, isso é interessante… Deus”, ouve–se Ashton a responder.

O telefonema, cuja autenticidade foi confirmada por Paet, aconteceu após o político ter visitado a capital ucraniana a 25 de Fevereiro no pico dos confrontos entre manifestantes pró-UE e as forças de segurança ucranianas. Nele, Paet explica que conversou com uma médica que tratou alguns dos feridos pelos disparos dos snipers e que esta confirmou que tanto manifestantes como a polícia foram atingidos pelos mesmos atiradores. “O que é bastante perturbador é que esta mesma Olga [Bogomolets] também me disse que todas as provas demonstram que pessoas de ambos os lados foram mortas pelos snipers, entre a polícia e depois entre as pessoas nas ruas, que foram os mesmos snipers que mataram pessoas de ambos os lados […] É realmente preocupante que agora a nova coligação [liderada por Arseniy Yatseniuk] não queira investigar o que realmente aconteceu”, sublinha Paet, facto que “desacredita [o governo interino] logo à partida”.

De acordo com os media locais, o ficheiro áudio foi colocado na internet por funcionários dos Serviços de Segurança da Ucrânia leais ao presidente deposto, que através de escutas conseguiram aceder aos registos dos telemóveis de Paet e Ashton. No mês passado, 94 pessoas foram mortas e 900 ficaram feridas nos confrontos entre opositores e apoiantes de Yanukovytch na Maidan.

À semelhança do que se tem passado nas últimas semanas, desde que Yanukovytch fugiu de Kiev, ontem manifestantes pró-Rússia invadiram a sede do governo ucraniano em Donetsk, hasteando a bandeira do país vizinho, enquanto os media locais noticiavam novos confrontos na cidade do Sudeste da Ucrânia.

A essa hora era também noticiado que um grupo de homens armados ameaçou o enviado especial da ONU para o país, que ontem deveria ter visitado a Crimeia mas aceitou cancelar essa viagem depois de a sua equipa ter sido cercada e ameaçada por uma multidão em Simferopol que gritava “Rússia! Rússia!”

A notícia foi confirmada pela assessora de Robert Serry, que no entanto desmentiu informações iniciais de que a equipa teria sido raptada pelo grupo. Esta surgiu horas depois de Yatseniuk ter dito que a república autónoma da Crimeia poderá vir a obter mais poderes locais, mas que uma “equipa especial” deve ser estabelecida para considerar que autonomia adicional deve ser atribuída à região.