Rúben Semedo.  A redenção chega no maior dos palcos

Rúben Semedo. A redenção chega no maior dos palcos


Menos de ano e meio após ter sido libertado da prisão de Valência onde passou cinco meses (e ainda a aguardar julgamento), o central que renasceu no Rio Ave vai brilhando na Grécia e regressou ao radar de Fernando Santos.


Em fevereiro de 2018, a carreira de futebolista profissional de Rúben Semedo parecia estar acabada. No dia 20, o central que despontou para a alta-roda do futebol no Sporting e que poucos meses antes tinha sido contratado pelos espanhóis do Villarreal a troco de 14 milhões de euros dava entrada no Centro Penitenciário de Picassent, em Valência, sob acusações de roubo com violência, agressão, ameaças, detenção ilegal, posse ilegal de armas e tentativa de homicídio.

Rúben Semedo, nascido a 4 de abril de 1994 na Amadora, declarou-se inocente desde o início, garantindo ter sido vítima de uma armadilha e de “uma série de coincidências”, mas a verdade é que o comportamento errante do atleta português já vinha de longe e dificilmente poderia contribuir para decisões diferentes por parte do juiz que ficou a cargo do processo. Em 2013/14, ainda antes da primeira passagem por Espanha (cedido ao Reus, da II Divisão B), chegou a ser apanhado pela PSP a conduzir sem carta de condução; já no Villarreal, depois da explosão com o empréstimo ao Vitória de Setúbal e consequente afirmação na equipa principal do Sporting, foram frequentes os relatos (e imagens) de Semedo em bares e discotecas de Valência até altas horas, num comportamento pouco aconselhável para um atleta de alta competição.

“Achava que podia fazer o que queria, que não haveria nenhum problema. Todos os problemas que tive foram em ambientes noturnos. Numa semana saía quatro ou cinco vezes”, confessava numa entrevista à TVI, no passado mês de julho. Numa dessas saídas, uma discussão terminou com Rúben Semedo a agredir um indivíduo com uma garrafa na cabeça, em outubro de 2017; em abril de 2018, enquanto estava detido pelas outras acusações, o central reconheceu o delito e chegou a acordo extrajudicial com o queixoso – o segundo no espaço de pouco tempo, depois de um anterior onde era acusado de ameaça e agressão e que acabou arquivado depois de os denunciantes terem retirado a queixa.

Fiança, Rio Ave e Champions Os antecedentes pouco abonatórios, como se pode perceber, eram mais que muitos, o que levou o juiz do tribunal valenciano a decretar a prisão preventiva imediata de Rúben Semedo sem possibilidade de pagar fiança. A defesa do jogador, todavia, nunca deixou de porfiar e tentar a sua saída dentro desses parâmetros, frisando que o jogador tinha mulher e filha à sua espera, e os pedidos formais foram atendidos a 13 de julho de 2018: a juíza de instrução encarregue do caso permitiu a saída de Rúben Semedo da prisão onde esteve durante 142 dias mediante o pagamento de 30 mil euros e uma série de condições que ficou obrigado a cumprir, como manter-se a uma distância mínima de 300 metros da vítima ou não frequentar os lugares onde esta costuma estar.

Para tentar reabilitar o atleta, o Villarreal (onde Semedo só cumpriu cinco jogos) cedeu-o ao recém-promovido Huesca. A experiência não foi a mais profícua e em janeiro é devolvido à procedência, surgindo então no horizonte a solução que lhe viria a ressuscitar a carreira: o empréstimo ao Rio Ave. Em Vila do Conde, sob o comando de Daniel Ramos, Rúben Semedo recupera o nível exibicional que havia mostrado no Sporting, com 14 jogos e dois golos, e começa até a falar-se do interesse dos “grandes” do futebol nacional.

O destino acabaria, no entanto, por levá-lo para a Grécia e para outro gigante: o Olympiacos, orientado por Pedro Martins, que paga 4,5 milhões para garantir a compra definitiva do seu passe ao Villarreal. Em Atenas, a evolução tem sido notória: 12 jogos e três golos (todos na Liga dos Campeões), que deram no olho de Fernando Santos a ponto de levar o selecionador a chamá-lo pela primeira vez aos trabalhos da seleção principal. “Não é por um percalço que as pessoas não têm o direito de viver. O Rúben demonstrou claramente que soube reagir, soube estar, está a fazer uma campanha muito boa no Olympiacos. A última vez também esteve perto da convocatória, mas depois lesionou-se. O que conta é a sua capacidade e aquilo que pode dar à equipa”, frisou o técnico na passada quinta-feira, depois de anunciar o nome dos convocados para os jogos contra Luxemburgo (esta sexta-feira, em Alvalade) e Ucrânia (na próxima segunda-feira, em Kiev), quando entramos na fase decisiva do apuramento para o Europeu do próximo verão.