Galeria de Arte Urbana comemora três anos a sensibilizar Câmara de Lisboa para artistas no meio do lixo


 Em três anos de atividade, a Galeria de Arte Urbana (GAU) de Lisboa deu cores a um autossilo, a prédios devolutos e a vidrões e fez com que as equipas municipais de limpeza conseguissem distinguir obras de arte de rabiscos. "Foi uma aprendizagem para nós, mas também para os serviços da câmara. Só se olhava…


 Em três anos de atividade, a Galeria de Arte Urbana (GAU) de Lisboa deu cores a um autossilo, a prédios devolutos e a vidrões e fez com que as equipas municipais de limpeza conseguissem distinguir obras de arte de rabiscos.

"Foi uma aprendizagem para nós, mas também para os serviços da câmara. Só se olhava para a dimensão destrutiva [dos graffitis], que também existe, mas não se olhava nunca para o outro lado", disse em declarações à Lusa o Diretor Municipal de Cultura de Lisboa.

A GAU, coordenada pelo Departamento do Património Cultural da Câmara Municipal de Lisboa (CML), foi criada em 2009 como parte de uma "estratégia deliberada de, por um lado, valorizar uma expressão artística, que vai ganhando uma importância cada vez maior em todo o mundo, e, por outro lado, valorizar um instrumento de gestão de uma dimensão da cidade".

Francisco Motta Veiga contou que houve um "trabalho pedagógico feito internamente [na autarquia]" para passar a ideia: "isto tem valor, ajudem-nos a preservar".

Agora, "a adesão é tal" que, quando as equipas de limpeza municipal "chegam aos locais para dar uma mangueirada de areia ou uma pintadela por cima para destruir aquilo [as pinturas], questionam-se se podem", disse.

Francisco Motta Veiga recordou que foi esta preocupação esteve na origem da primeira reabilitação na cidade, no Bairro Alto, na Calçada da Glória. Ao mesmo tempo, foi composta uma equipa "que começou a fazer um trabalho para lá do Bairro Alto" e em junho de 2010 arrancou o Crono, projeto que envolvia a pintura de fachadas de prédios devolutos, desenvolvido em quatro fases e que contou com a parceria da GAU.

Na segunda fase deste projeto, idealizado pelo artista plástico Alexandre Farto (VHILS), o curador e mentor do festival italiano FAME Ângelo Milano e o designer urbano Pedro Soares Neves, nasceram na fachada de um prédio na Avenida Fontes Pereira de Melo, pinturas dos artistas estrangeiros, OsGemeos (Brasil) e Blu (Itália), que correram mundo e figuraram numa lista do jornal britânico The Guardian como uma das melhores obras de arte urbana do mundo.

"De repente começou a ter ecos noutras cidades que têm este mesmo tipo de preocupação, apoio e atenção dada a esta expressão artística. Fala-se de Lisboa como uma das cidades referência a nível mundial", afirmou o responsável.

Para reforçar a ideia, o diretor do Departamento de Património Cultural da CML, Jorge Ramos Carvalho, conta que a divisão que coordena tem sido contactada por jornalistas de vários países: "isto está a ter uma repercussão tão grande que os grandes órgãos de comunicação social, como o [jornal espanhol] El Pais e o [diário norte-americano] The New York Times já fizeram trabalhos sobre isto. A visibilidade é notória, muito além do que imaginaríamos, pelo menos em tão pouco tempo, quando tudo isto começou".

Outro dos projetos com mais visibilidade da GAU, até porque contou com a participação de muitos lisboetas, foi o "Reciclar o Olhar".    Este projeto incluiu intervenções artísticas em cinco camiões do lixo, com percursos nas zonas da Baixa Pombalina, Bairro Alto e Avenida 24 de Julho, e em vidrões com um formato tipo iglo.

Entre os projetos desenvolvidos pela GAU, sozinha ou em parceria com outras entidades, estão também o autossilo do mercado do Chão do Loureiro, cujas paredes foram pintadas por um conjunto de artistas convidados, a sede da AMI em Marvila e um muro no Alto da Eira.

Os sete painéis da Calçada da Glória são ocupados por exposições feitas com curadoria da GAU, ou mostras, através de concursos. No dia 17 é inaugurada a "Low Brow", exposição que assinala os três anos deste projeto da Câmara de Lisboa.

Três anos depois de ter sido criada, "a GAU estendeu-se a toda a cidade, já não é só ali", na Calçada da Glória.

Para comemorar tudo isto, além da inauguração da exposição "Low Brow", no dia 17 há festa da Rua Nova do Carvalho, com o lançamento do site da GAU e de um livro que passa os três anos de atividades em revista, e intervenções em três vidrões.