“Comportas-te como deve ser”


Como encontrar o meio-termo entre uma educação de tipo militar e a bandalheira total? Até que ponto se deve ser permissivo? Quem tem filhos sabe que não é nada fácil chegar a um equilíbrio


Há dois dias, numa cerimónia de homenagem a veteranos de guerra em Paris, um jovem com o cabelo a cair sobre os olhos abordou Emmanuel Macron de uma forma pouco ortodoxa. “Hei, Manu, tudo bem?”. O presidente francês não gostou e chamou-lhe a atenção: “Não, não, não, não. Estás numa cerimónia oficial, comportas-te como deve ser”, explicou-lhe. “Tratas-me por senhor presidente da República ou por senhor”. O jovem encaixou o corretivo: “Sim, senhor”. 

Creio que, mais do que noutras épocas ou latitudes, deparamo-nos hoje com um sério problema de autoridade em Portugal. Macron pôs o jovem irreverente na ordem, mas o que pode fazer um professor numa das nossas escolas se o aluno lhe faltar ao respeito? Das duas uma: ou tem autoridade natural e consegue resolver a situação ou vai passar um mau bocado. Há um sentimento generalizado de impunidade entre os estudantes que leva a situações terríveis, algumas das quais têm sido notícia.

Curiosamente, em sentido contrário, um amigo partilhava ontem no Facebook um artigo do “Guardian” sobre como as crianças holandesas são felizes. O artigo apontava como responsável por isso a liberdade que lhes é concedida: segundo uma das pessoas ouvidas, Ruut Veenhoven, o diretor da Base de Dados mundial da Felicidade, “os holandeses e os dinamarqueses são os mais permissivos [na Europa] e focam-se mais no desenvolvimento da autonomia do que em dar prioridade à obediência”. Parece um excelente princípio. Mas funcionará em contextos menos desenvolvidos do que a Holanda e a Dinamarca?

Esse constitui, aliás, o grande dilema da educação: como encontrar o meio-termo entre um regime de tipo militar e a bandalheira total? Quem tem filhos sabe que não é nada fácil chegar a um equilíbrio.

Mas uma coisa parece certa: um pouco de respeito e um “puxão de orelhas” (em sentido figurado) no momento certo nunca fizeram mal a ninguém. Mas a falta deles sim, e pode ter consequências terríveis.