Memeoirs. Do chat do Facebook para a sua estante


Fundado por dois portugueses, o serviço permite seleccionar conversas e conteúdos partilhados online e guardá-los num livro. A ideia, que parte do contemporâneo para o tradicional, tem atraído clientes de todo o mundo e é um sucesso nos EUA. Ana Tomás foi perceber o que leva as pessoas a trocar os seus álbuns na web…


Fundado por dois portugueses, o serviço permite seleccionar conversas e conteúdos partilhados online e guardá-los num livro. A ideia, que parte do contemporâneo para o tradicional, tem atraído clientes de todo o mundo e é um sucesso nos EUA. Ana Tomás foi perceber o que leva as pessoas a trocar os seus álbuns na web pelos de papel

Muitas têm sido as ocasiões em que se vai vaticinando o fim dos livros na sua versão tradicional, conforme o espaço que a tecnologia vai ocupando nas nossas vidas ou roubando à fonte de saber e de histórias que ao longo dos séculos se foi compilando em páginas de papel encadernadas. Com o aparecimento da internet e das redes sociais, a partilha de pensamentos e experiências, passou a fazer-se em grande medida no espaço da web e as interacções humanas também. As cartas, por exemplo, passaram a dar lugar a emails, mensagens instantâneas, chats de conversação, e a simples troca de opiniões acontece hoje tanto num fórum de debate organizado para o efeito como em blogues, no Facebook ou no Twitter. Voltando aos livros, são muitas as obras que estão disponíveis para serem lidas num ecrã.

Mas se por um lado é evidente que essa tendência se consolidou, por outro há quem aproveite a infinitude da internet para fazer o caminho inverso e retomar práticas que afinal estão longe de ser obsoletas. É o caso do “Memeoirs”, projecto fundado por dois portugueses e um italiano, que põe em livro conversas online, dos emails ao WhatsApp passando pelo Facebook. “O livro é um objecto que evoluiu durante séculos, e que está para ficar”, diz convictamente Fred Rocha, um dos co-fundadores. A justificação, segundo o engenheiro de telecomunicações, prende-se também com o lado afectivo do livro, “de ter estado ao nosso lado durante a nossa educação e nos melhores anos de exploração intelectual. A sensação de ter nas mãos a nossa história, contada por aquilo que regularmente escrevemos aos nossos, é ímpar”. Paralelamente, há uma questão mais prática a ponderar: a preocupação de que os conteúdos criados e partilhados a dada altura se percam nas malhas da web. Essas são as principais razões que levam as pessoas a procurar os serviços do projecto que reivindica ter criado em 2011,  o conceito “Turn Your Emails into a Book”.

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Fred Rocha, Paulo Pinto e Giacomo Miceli conheceram-se na Bélgica, onde fizeram Erasmus. Após o intercâmbio, mantiveram-se em contacto recorrendo às tecnologias que acabam por lhes servir de fonte de negócio. Começaram a acumular uma quantidade importante de correio e decidiram contar a sua história transformando-a em livro. Depois alargaram essa ideia e construíram uma ferramenta que qualquer pessoa pudesse usar para fazer os seus próprios livros. “Com a aplicação web Memeoirs qualquer pessoa pode fazer um livro contendo as suas conversas online (email, Facebook, WhatsApp) de forma simples e intuitiva. Para isso basta seleccionar os contactos com quem se trocaram mensagens e imagens e o período em que as conversas ocorreram. A aplicação trata de fazer o download, filtrar e paginar o conteúdo com base nestas escolhas, de forma automática. O resultado final é um livro de capa dura, de qualidade idêntica aos que se encontram em livrarias”, explica Fred Rocha. São histórias que na realidade já estão escritas nos emails, no Facebook ou nos telemóveis dos clientes, mas que são desta forma compiladas, encontrando um veículo para a sua divulgação e duração. Mensagens de amor que estreitaram a distância na relação, apontamentos da viagem de três meses que o filho vai contando aos pais no WhatsApp, a mãe que escreve para o filho que ainda não nasceu, amigos ou familiares que se agrupam num chat e vão trocando ideias e experiências são as informações mais comuns que o “Memeoirs” ajuda a imortalizar. “Tudo isto merece ser resgatado dos grandes serviços e preservado pelas pessoas. Fazer um Memeoirs é uma das soluções para garantirmos que o nosso conteúdo está do nosso lado, e não desaparecerá, por exemplo se o serviço que usamos para comunicar (GMail, Facebook, WhatsApp, Skype, etc.) fechar, ou decidir apagar conteúdos”, diz Fred Rocha. São, regra geral, exemplares únicos, a não ser quando o cliente opta por fazer mais, de acordo com o número de participantes nas conversas.

Para o co-fundador da “Memeoirs”, o livro é por isso a melhor forma de as revisitar. É só “escolher um intervalo de tempo e contactos, que o download, a filtragem e a paginação são feitos de forma automatizada”. Fred Rocha promete para breve novas opções, já que “estão a ser desenvolvidas formas mais poderosas de filtragem, como a escolha individual de mensagens e imagens”.