Felipe Oliveira Baptista . A exposição do ano a partir de hoje no MUDE


Pergunta Alice quanto tempo dura a eternidade. Responde o Coelho que “às vezes apenas um segundo”. A citação recebe os visitantes no terceiro piso do Museu do Design e da Moda no arranque de uma viagem caleidoscópica pelo universo criativo de Felipe Oliveira Baptista, marcado por traços que se eternizam. Se a personagem ficcionada por…


Pergunta Alice quanto tempo dura a eternidade. Responde o Coelho que “às vezes apenas um segundo”. A citação recebe os visitantes no terceiro piso do Museu do Design e da Moda no arranque de uma viagem caleidoscópica pelo universo criativo de Felipe Oliveira Baptista, marcado por traços que se eternizam. Se a personagem ficcionada por Lewis Carroll já se aventurou atrás do espelho, espera-nos uma experiência em tudo semelhante.

Um jogo de luzes e reflexos marca o percurso pela cenografia, com a galeria intersectada em diferentes ângulos, ficando em aberto uma leitura multifacetada do trajecto do criador. Alexandre de Betak assina a instalação produzida pelo Bureau Betak, que foi criada para o 28.o Festival Internacional de Moda e Fotografia em Hyères (onde arrebatou o Grand Prix) e apresentada de Abril a Maio deste ano no Centro de Arte da Villa Noailles, até chegar a vez de Lisboa acolher o designer de origem açoriana. Oportunidade soberana para revisitar o trabalho do actual director criativo da Lacoste ao longo destes quase 1500 metros quadrados, onde a high e a low tech se encontram em perfeita harmonia e arrancam suspiros à generalidade dos corpos femininos.

“Explica-se o processo dos notebooks à exibição dos trabalhos. A exposição materializa o objectivo de apostar em talentos nacionais, que estejam num momento de reconhecimento na sua carreira”, explica Bárbara Coutinho, directora do MUDE e curadora da mostra, que opta por propor um espaço sensorial que se sobrepõe a discursos cronológicos. O roteiro compreende 12 instalações que destacam cinco núcleos distintos, que abrangem peças concebidas em diferentes anos. Para cada sector uma música de fundo, com Michel Gaubert a assinar o sound design, mais uma das pistas de leitura que remetem para as estruturas mentais subjacentes à criação.

“Doravante tudo é diferente mas nada mudou” (grafitti anónimo). Estamos entre o real e a ficção, o objecto e a sua imagem, sempre a piscar o olho ao espírito performativo da moda, fértil em metamorfoses, sem esquecer raízes e heranças bem vincadas. De resto, basta espreitar o primeiro dos núcleos, Protecção, para reavivar memórias insulares e sentir o apelo à possibilidade mística de um esconderijo. Capotes e capelos, cartão postal do traje açoriano, evidenciam-se entre um conjunto de silhuetas negras.

Soluções práticas e funcionais animam o sector Novos Uniformes e Roupa de Trabalho, ou como converter um camuflado da tropa num feminino macacão “lido com outro requinte”, como sublinha a curadora, enquanto o criador, com zelo próprio da profissão, tenta manusear os tecidos e as formas. “Agora não posso abrir a peça porque estamos num museu”, graceja Felipe, o desconstrutor de padrões que repetem ideias de conforto.

“Geometrias variáveis” é o capítulo que nos transporta para “a primeira colecção de todas”, com ênfase em “Stripes on strike”, ou “riscas em greve”, de novo vestidas de espelhos. “Quisemos iluminar e proteger a exposição do espaço”, explica Alexander, o mentor deste suporte, que começou a ser planeado juntamente com Oliveira Baptista há cerca de um ano em Nova Iorque. “Os espelhos permitem que as pessoas vejam as coisas de maneira diferente de cada vez que olham.”

Suzy Menkes e o ritmo de Grace Jones insonorizam a experiência Revisitando os Clássicos, uma escala com direito à revisão do smoking e do “little black dress”, clássicos Yves Saint Laurent e Chanel reinterpretados pelo designer. Finalmente, Tecnologia vs. natureza, duas faces da mesma moeda nas criações que aqui desfilam. Cavalos, borboletas e tigres cruzam-se nos coordenados com Lamborghinis e naves espaciais.

Para mergulhar mais a fundo na psique, nada como consultar o Espelho da Mente (“A screen to the brain”), o centro nevrálgico deste imaginário, que projecta imagens aleatórias de fotografias, notas, desfiles, colagens e desenhos, compondo um emaranhado de ecrãs, cabos e fios. No coração da mostra, esta malha enciclopédica de explorações aponta para influências no trabalho do designer. Uma extensa lista onde se reúnem nomes como Pina Bausch, JG Ballard, Diane Arbus, Kubrick, Louise Bourgeois e ainda elementos como aviões supersónicos, wrestlers americanos, punks e esquimós.