Turismo. Afeganistão é país-surpresa

Turismo. Afeganistão é país-surpresa


O turismo no Afeganistão tem um potencial significativo devido à sua rica História, paisagens deslumbrantes e cultura diversificada. No entanto, devido à instabilidade política e aos conflitos, o setor do turismo tem sido severamente prejudicado ao longo das décadas. Contudo, agora, o regime talibã diz que chegam cada vez mais turistas ao país


Aproximadamente 5 mil turistas estrangeiros visitaram o Afeganistão desde aquela que é denominada como «mudança política» do país. Ou, pelo menos, é este o número que o regime talibã aponta, indicando que o turismo cresceu 120% desde 2021. Tanto que o Ministério da Informação e Cultura disse que os turistas estrangeiros têm ido àquele país visitar locais antigos, especialmente. Enfatizando a segurança dos turistas, Muhajir Farahi, deputado do Ministério da Informação e Cultura, disse que o Afeganistão tem facilitado o turismo no país para cidadãos estrangeiros. «A maioria dos turistas vem para visitar áreas antigas e históricas», explicou. «Os turistas estrangeiros estão muito ansiosos para visitar o Afeganistão, incluindo possivelmente cidadãos da Grã-Bretanha. O Emirado Islâmico do Afeganistão tem a responsabilidade de proteger todos aqueles que recebem vistos e são autorizados a permanecer no Afeganistão», disse, à sua vez, Zabihullah Mujahid, porta-voz do Emirado. Contudo, o Afeganistão continua a não ser um dos primeiros países em que pensamos quando queremos marcar férias.

Apesar de ser um país geograficamente diversificado, que abriga a bela cidade azul de Mazar-e-Sharif, as encostas selvagens das montanhas Hindu Kush e a Ponte Natural Hazarchishma, entre outras atrações, a verdade é que associamos palavras como o perigo e não o lazer ao país. Tanto que uma conta verificada – embora de paródia – do Twitter, que se autodenomina de equipa de relações públicas dos talibãs, escreveu: «Visite a magnífica nação do #Afeganistão, a verdadeira terra dos livres e o lar dos corajosos, ao contrário dos americanos», lê-se. «Um país acidentado habitado por homens musculados e mulheres tradicionais. Estará 100% seguro já que a guerra acabou e não capturaremos mais turistas para resgate», é acrescentado ainda. Mas a descrição da conta constitui algo que muitos de nós desejamos: «Preenchendo a divisão entre o Oriente e o Ocidente e com o objetivo de criar uma sociedade harmoniosa no Afeganistão para todos os grupos étnicos».

Segundo o sistema de aconselhamento de viagens do Departamento de Estado dos EUA, por exemplo, o Afeganistão ainda está situado no Nível 4 – Não Viajar. 

Nas décadas de 1960 e 1970, o país fazia parte da rota terrestre da «trilha hippie» pela Ásia e acolheu centenas de milhares de turistas ocidentais. Mas à medida que a sua complicada História moderna se desenrolava, o fluxo constante de viajantes parou. À semelhança dos EUA, o Ministério dos Negócios Estrangeiros do Reino Unido desaconselha atualmente todas as viagens ao Afeganistão, destacando a sua situação de segurança «volátil» e uma «ameaça elevada e contínua de ataques terroristas». 

Ser estrangeiro e estar no Afeganistão pode ser, no mínimo, desafiante. No final do ano passado, os talibãs detiveram funcionários de uma Organização Não Governamental (ONG) por alegadamente «difundirem o Cristianismo» na semana anterior. O Express Tribune do Paquistão viria a divulgar, mais tarde, que um dos 18 detidos era uma mulher norte-americana e 17 eram cidadãos afegãos, funcionários da ONG. Apesar disto, há quem resista e continue a acreditar no potencial do turismo do país. É o caso de Fatima Haidari, uma jovem de 24 anos que estudava Jornalismo e Comunicação na Universidade de Herat, no Afeganistão, e apresentava um programa de rádio chamado Winner Women, onde partilhava histórias inspiradoras de mulheres que superaram desafios e tabus para alcançar os seus sonhos. O seu objetivo era consciencializar outras mulheres sobre o seu valor e a sua capacidade.

Antes da chegada dos talibãs ao poder, em 2021, Fatima trabalhava como guia turística local para pagar os seus estudos, encantada em mostrar a beleza e a riqueza cultural do seu país aos visitantes. No entanto, após a fuga para Itália, continuou o seu trabalho de maneira virtual, oferecendo passeios virtuais pelo Afeganistão a partir de Milão. A jovem procura desafiar a imagem negativa frequentemente associada ao Afeganistão, destacando os seus lugares incríveis e a sua cultura vibrante. Atualmente, Fatima está a estudar Política Internacional e Governo na Universidade Bocconi, em Milão, enquanto continua o seu trabalho de divulgação e apoio às mulheres afegãs.

O trabalho de Fatima é particularmente importante porque o regime talibã tem uma história bem documentada de opressão das mulheres e já proibiu a entrada das mesmas num parque nacional, afirmando que o turismo não é uma «obrigação» para as mesmas. Ainda que a Untamed Borders organize excursões mistas, são muitos os relatos que existem nos órgãos de informação internacionais sobre mulheres que são totalmente ignoradas quando visitam aquele país. 

Entrar no Afeganistão e obter permissão para o fazer nunca foi fácil. Sob o domínio talibã, apenas algumas embaixadas em todo o mundo conseguiram emitir vistos. Os turistas também precisam de seguro especializado, pois os provedores regulares não cobrem viagens para países na lista vermelha dos Ministérios de Relações Exteriores/Negócios Estrangeiros de vários países.