Carlos Barbosa. “Portugal não está preparado para ter carros elétricos como desejam os políticos”

Carlos Barbosa. “Portugal não está preparado para ter carros elétricos como desejam os políticos”


O presidente do ACP diz que os carros de combustão não vão desaparecer e aponta para as críticas aos elétricos: “Fala-se das baterias e dos incêndios que não se conseguem apagar”. 


Os carros elétricos têm estado envolvidos em novas polémicas. A última diz respeito ao facto de um ter provocado um incêndio num navio de transporte de vários veículos. Também nas inundações em Lisboa, o único que ficou parado foi um elétrico…

Os carros elétricos vão ter os mesmos problemas que têm os carros a combustão. Ainda estamos no princípio dos elétricos, mas mesmo assim penso que os carros a combustão não irão desaparecer nunca, porque cada vez mais os motores são mais limpos e os combustíveis são mais limpos com os novos combustíveis sintéticos e, portanto, penso que os carros a combustão não vão desaparecer nem em 2035, nem em 40 nem em 50. No entanto, acredito que os carros elétricos vão fazer o seu percurso normal e tranquilo. E penso que o futuro passará muitos pelos carros híbridos pelo facto de poderem andar na cidade a elétrico e depois quando vão para a estrada poderem andar a combustível e, neste caso, já não poluem as cidades. Já os carros a combustão vão continuar tranquilos e de ótima saúde. 

Sente que há uma grande pressão por parte da União Europeia para o uso dos carros elétricos? 

A Comunidade Europeia é composta por burocratas que estão nos seus gabinetes, que não fazem a mínima ideia do que é a vida real e limitam-se a estudos de associações, como a Zero e companhia. Nunca fizeram nada na vida, nunca trabalharam a não ser pertencerem a essas organizações e depois a Comissão Europeia é confrontada com tristezas, como a de Itália a dizer que não vai cumprir, a da Alemanha a dizer que não vai cumprir e com tudo isso ficamos a perceber que em 2035 ninguém vai cumprir nada disso, porque obviamente os países não estão dispostos a estar a suportar a indústria elétrica quando esta nem sequer é capaz de suportar toda a carga para os carros elétricos. 

E depois vê-se imagens como a que assistimos na bomba de gasolina para o Algarve, em Alcácer do Sal, com filas de Tesla para abastecer…

É uma vergonha. Imagine fazer uma viagem Lisboa/Algarve. Demora seis horas porque tem de estar na fila, tem de esperar horas e horas para que os carros vão carregando. Conclusão: nunca mais de lá saem..

Mas mesmo assim, os fabricantes têm apostado cada vez mais em carros elétricos com maior autonomia…

Portugal ainda não está preparado para ter carros elétricos conforme desejariam mesmo os políticos, porque não temos carregadores suficientes no país, não temos localidades com carregadores. E sobretudo, não se esqueça disso, quando houver cinco milhões de carros elétricos na Comunidade Europeia quero saber onde é que eles vão carregar. 

Vai ser uma dor de cabeça…

Não há capacidade produtiva para carregar cinco milhões de carros na Europa. Por isso temos de dar passo a passo. 

E no caso, por exemplo, dos combustíveis normais de combustíveis fósseis, estamos a sofrer um agravamento da carga fiscal. Poderá penalizar a decisão dos portugueses? 

Isso tem a ver com o Governo, não tem com as políticas europeias. Como o Governo não sabe governar vai sempre buscar ao mesmo sítio, ou seja, aos carros que é a galinha dos ovos de ouro. E nada tem a ver com poluição, mas sim com o Governo querer mais impostos. E se amanhã os maiores impostos forem as galinhas que se vendem nos supermercados eles vão lá buscar. O problema aqui é de governação porque não sabem governar a não ser com impostos. A nossa taxa fiscal é uma loucura na Europa e, ainda por cima, esse dinheiro nem sequer é bem aplicado, porque se esse dinheiro fosse aplicado na iniciativa privada para crescer os ordenados, etc., mas não é. Fica tudo retido no Estado. E, por isso, continuamos na cepa torta e não saímos daqui enquanto tivermos Governos socialistas à frente deste país. 

O setor automóvel continua a ser o bode expiatório dos últimos governos? 

Completamente. Não é só deste. É de todos os governos, porque como não sabem governar precisam de impostos e onde é mais fácil cobrar impostos é no setor automóvel, claro. É no IUC, é na gasolina, é em todo o lado. 

E quando se fala na venda de carros novos ainda se assiste à tal dupla tributação… 

É, pedimos a isenção dessa obrigatoriedade na Comunidade Europeia, mas continua tudo na mesma.

Em relação aos elétricos é acenado como carros amigos do ambientes, mas depois assistimos ao problema das bateria de lítio…

Fala-se da bateria, fala-se dos incêndios dos carros elétricos que não se conseguem apagar. Fala-se de uma série de coisas e realmente não há dúvida nenhuma de que ainda estamos muito longe e quando digo nós é a Europa, não é Portugal. Portugal está a séculos, mas a própria Europa ainda está a léguas de conseguir ter um consenso para poder ter alguma política europeia no que diz respeito à mobilidade elétrica, que ainda não está consensual. Todos os países são diferentes e, por exemplo, se quiser ir para França se calhar em Espanha tem carregamentos, mas pode chegar a França e não haver carregadores ou vice-versa. 

Sente que está na moda comprar um carro elétrico, apesar de os preços ainda serem elevados?

As pessoas que, nesta altura, compram carros elétricos acham que estão a fazer um grande negócio, mas não estão, porque quando os quiserem vender ninguém dá nada por eles. 

E o futuro poderá passar pelo hidrogénio?

Não é possível porque o hidrogénio é muito pesado e, enquanto que o hidrogénio para barcos, para autocarros e para camiões serve para o transporte individual não serve porque é muito pesado. Um carro a hidrogénio é no fundo um carro elétrico, mas as células são de tal maneira pesadas e o sistema é de tal maneira complicado que não é tão cedo que irão nascer os carros a hidrogénio, pelo menos, para comercialização.