Recursos minerais inteligentes


O engenheiro informático do futuro, para ser completo, deverá ser equipado com um conhecimento sobre os recursos minerais e energéticos e como estes podem ser explorados e geridos de forma sustentável.


O progresso científico e tecnológico surpreende-nos pelos segredos do universo que nos permite desvendar e tem grandemente contribuído para o aumento generalizado da nossa qualidade de vida. Este início de década tem sido particularmente profícuo neste domínio com pelo menos três eventos que, pelo seu potencial de transformação do nosso quotidiano, podem ser destacados. O primeiro, a descoberta das vacinas contra a covid-19 em tempo record, sensivelmente um ano após o aparecimento da doença. O segundo, a criação, pela primeira vez, de energia através de fusão nuclear em quantidade maior do que a necessária para o processo de geração. O terceiro, os grandes avanços tecnológicos relacionados com um conjunto de ferramentas computacionais a que genericamente chamamos inteligência artificial. É quase impossível passar ao lado da onda de entusiasmo gerada pelos grandes modelos de inteligência artificial recentemente desenvolvidos, como por exemplo o ChatGPT, o DALL-E ou o Midjourney. São plataformas de acesso mais ou menos gratuito com interfaces gráficas de fácil utilização que permitem ultrapassar a necessidade de conhecimento aprofundado ao nível da programação destes modelos. Este conjunto de características permitiu a adoção massiva num curto espaço de tempo desta tecnologia por utilizadores em todo o mundo. 

Apesar dos aparentes sucessos, há várias questões relacionadas com esta tecnologia que se apresentam como desafios para nós enquanto sociedade. Há por um lado o impacto que estes modelos possam vir a ter no trabalho, no modo como hoje a aprendizagem dos nossos estudantes é feita, nomeadamente na universidade, com a obtenção e qualidade dos dados utilizados para treinar estes grandes modelos computacionais, e a necessidade de que estes não sejam enviesados e discriminatórios para minorias. Por outro, um conjunto de questões que é frequentemente ignorado nesta discussão e que está relacionado com a grande quantidade de recursos minerais e energéticos necessários para desenvolver, alimentar e suportar estes modelos estatísticos. Os grandes modelos de inteligência artificial requerem enormes quantidades de recursos minerais em toda a sua linha: do treino dos modelos até à sua utilização pelo utilizador comum. Este tipo de tecnologia assenta num sistema global de computação, em que os componentes eletrónicos utilizados são sorvedores de minerais e matérias-primas críticas e de elementos de terras raras, e na utilização massiva de baterias, nos computadores portáteis dos utilizadores e nos sistemas de back-up dos grandes servidores de dados e computação. Baterias em que o lítio é o principal componente. 

Estes recursos minerais encontram-se em condições geológicas especiais que demoraram milhares de anos a serem desenvolvidos e estão por isso localizados em regiões específicas do globo. A sua exploração em grande escala tem obrigatoriamente de ser sustentável simultaneamente para o meio ambiente e para as populações locais. A qualidade dos grandes modelos de inteligência artificial deve estar não só na sua performance e nos resultados fornecidos quando interrogados, mas também pela sua relação com o planeta, garantindo a menor utilização possível de recursos. 

Os avanços tecnológicos computacionais estão, e serão cada vez mais, intrinsecamente ligados às ciências da Terra. O engenheiro informático do futuro, para ser completo, deverá ser equipado com um conhecimento sobre os recursos minerais e energéticos e como estes podem ser explorados e geridos de forma sustentável. O engenheiro de minas (e áreas do conhecimento afins) equipado do conhecimento computacional necessário para o desenvolvimento de novos métodos que sejam eficazes do ponto de vista dos recursos. É com os olhos postos no futuro, e também com base neste paradigma, que o Instituto Superior Técnico criou recentemente o Departamento de Engenharia de Recursos Minerais e Energéticos. As ofertas educativas deste novo departamento têm como objetivo preparar uma nova geração de engenheiros equipados com um conhecimento científico sólido nas geociências computacionais para enfrentar os desafios do desenvolvimento sustentável, da transição energética e da transição digital. Será esta a geração que nos continuará a surpreender com os avanços tecnológicos do futuro.

 

Professor do Instituto Superior Técnico

Recursos minerais inteligentes


O engenheiro informático do futuro, para ser completo, deverá ser equipado com um conhecimento sobre os recursos minerais e energéticos e como estes podem ser explorados e geridos de forma sustentável.


O progresso científico e tecnológico surpreende-nos pelos segredos do universo que nos permite desvendar e tem grandemente contribuído para o aumento generalizado da nossa qualidade de vida. Este início de década tem sido particularmente profícuo neste domínio com pelo menos três eventos que, pelo seu potencial de transformação do nosso quotidiano, podem ser destacados. O primeiro, a descoberta das vacinas contra a covid-19 em tempo record, sensivelmente um ano após o aparecimento da doença. O segundo, a criação, pela primeira vez, de energia através de fusão nuclear em quantidade maior do que a necessária para o processo de geração. O terceiro, os grandes avanços tecnológicos relacionados com um conjunto de ferramentas computacionais a que genericamente chamamos inteligência artificial. É quase impossível passar ao lado da onda de entusiasmo gerada pelos grandes modelos de inteligência artificial recentemente desenvolvidos, como por exemplo o ChatGPT, o DALL-E ou o Midjourney. São plataformas de acesso mais ou menos gratuito com interfaces gráficas de fácil utilização que permitem ultrapassar a necessidade de conhecimento aprofundado ao nível da programação destes modelos. Este conjunto de características permitiu a adoção massiva num curto espaço de tempo desta tecnologia por utilizadores em todo o mundo. 

Apesar dos aparentes sucessos, há várias questões relacionadas com esta tecnologia que se apresentam como desafios para nós enquanto sociedade. Há por um lado o impacto que estes modelos possam vir a ter no trabalho, no modo como hoje a aprendizagem dos nossos estudantes é feita, nomeadamente na universidade, com a obtenção e qualidade dos dados utilizados para treinar estes grandes modelos computacionais, e a necessidade de que estes não sejam enviesados e discriminatórios para minorias. Por outro, um conjunto de questões que é frequentemente ignorado nesta discussão e que está relacionado com a grande quantidade de recursos minerais e energéticos necessários para desenvolver, alimentar e suportar estes modelos estatísticos. Os grandes modelos de inteligência artificial requerem enormes quantidades de recursos minerais em toda a sua linha: do treino dos modelos até à sua utilização pelo utilizador comum. Este tipo de tecnologia assenta num sistema global de computação, em que os componentes eletrónicos utilizados são sorvedores de minerais e matérias-primas críticas e de elementos de terras raras, e na utilização massiva de baterias, nos computadores portáteis dos utilizadores e nos sistemas de back-up dos grandes servidores de dados e computação. Baterias em que o lítio é o principal componente. 

Estes recursos minerais encontram-se em condições geológicas especiais que demoraram milhares de anos a serem desenvolvidos e estão por isso localizados em regiões específicas do globo. A sua exploração em grande escala tem obrigatoriamente de ser sustentável simultaneamente para o meio ambiente e para as populações locais. A qualidade dos grandes modelos de inteligência artificial deve estar não só na sua performance e nos resultados fornecidos quando interrogados, mas também pela sua relação com o planeta, garantindo a menor utilização possível de recursos. 

Os avanços tecnológicos computacionais estão, e serão cada vez mais, intrinsecamente ligados às ciências da Terra. O engenheiro informático do futuro, para ser completo, deverá ser equipado com um conhecimento sobre os recursos minerais e energéticos e como estes podem ser explorados e geridos de forma sustentável. O engenheiro de minas (e áreas do conhecimento afins) equipado do conhecimento computacional necessário para o desenvolvimento de novos métodos que sejam eficazes do ponto de vista dos recursos. É com os olhos postos no futuro, e também com base neste paradigma, que o Instituto Superior Técnico criou recentemente o Departamento de Engenharia de Recursos Minerais e Energéticos. As ofertas educativas deste novo departamento têm como objetivo preparar uma nova geração de engenheiros equipados com um conhecimento científico sólido nas geociências computacionais para enfrentar os desafios do desenvolvimento sustentável, da transição energética e da transição digital. Será esta a geração que nos continuará a surpreender com os avanços tecnológicos do futuro.

 

Professor do Instituto Superior Técnico