O diretor do São Luiz não sabe o que é representar


Além da linguagem ordinária, o trans conseguiu o que queria. Os responsáveis do teatro, mostrando que não sabem o que é representação, logo aceitaram contratar um ator trans para desempenhar esse papel de Lola, não fosse cair o Carmo e a Trindade.


Na sexta-feira passada cheguei a um jantar onde estavam alguns amigos ligados ao teatro e à televisão e a indignação era evidente, embora eu não percebesse a razão. “Não viste o que se passou no teatro São Luiz?”, disseram-me, e como a resposta foi negativa, remataram: “Hoje morreu um pouco a nossa profissão, pois a partir de agora nunca mais poderemos interpretar nenhuma figura que não seja a nossa. Imagina-me a fazer de psicopata, ainda aparece algum em palco a ameaçar-me de não saber o que estou a fazer e ainda me agride”, comentou um ator. A história, depois percebi, referia-se à palhaçada que tinha acontecido no São Luiz, onde um trans ou travesti, como se queira, invadiu o palco pois na peça Tudo Sobre a Minha Mãe, a personagem Lola era interpretada por um homem heterossexual, ou cisgénero como se diz agora – a propósito, é preciso ter um curso superior para perceber tanta categoria de trans e afins – e o espetador trans, dizendo-se ator e desempregado, rompeu pelo palco adentro acabando com o espetáculo, já que é inaceitável que um trans seja interpretado por um cis (!). 

Além da linguagem ordinária, o trans conseguiu o que queria. Os responsáveis do teatro, mostrando que não sabem o que é representação, logo aceitaram contratar um ator trans para desempenhar esse papel de Lola, não fosse cair o Carmo e a Trindade.

Como é óbvio, aqui não está em causa as questões de género – todos devem ter os mesmos direitos –  mas sim a estupidez humana. Desde quando é que representar significa apresentar, como disse, e muito bem, Francisco Louçã? – quem diria que alguma vez estaríamos de acordo… Querem os responsáveis do São Luiz dizer que um ator não pode, por exemplo, representar um médico, pois pode sempre aparecer um profissional de saúde que faça uma ‘perninha’ no teatro do hospital e se sinta violado pela interpretação do ator? E os atores e atrizes que fazem de toxicodependentes? A estupidez humana não tem mesmo limites.

Espero é que Dustin Hoffman não seja atingido pela doença que corrói o mundo e apareça a pedir desculpa pelo seu magnífico papel no filme Tootsie, de 1982, onde se ‘mascara’ de mulher para conseguir um papel num filme. Talvez o ator não se sinta arrependido mas nunca se sabe se não vai aparecer por aí uma associação qualquer a exigir que se penitencie por ter tido a ousadia de interpretar uma mulher sem se sentir verdadeiramente mulher! Chiça, isto está mesmo tudo ao contrário.

O diretor do São Luiz não sabe o que é representar


Além da linguagem ordinária, o trans conseguiu o que queria. Os responsáveis do teatro, mostrando que não sabem o que é representação, logo aceitaram contratar um ator trans para desempenhar esse papel de Lola, não fosse cair o Carmo e a Trindade.


Na sexta-feira passada cheguei a um jantar onde estavam alguns amigos ligados ao teatro e à televisão e a indignação era evidente, embora eu não percebesse a razão. “Não viste o que se passou no teatro São Luiz?”, disseram-me, e como a resposta foi negativa, remataram: “Hoje morreu um pouco a nossa profissão, pois a partir de agora nunca mais poderemos interpretar nenhuma figura que não seja a nossa. Imagina-me a fazer de psicopata, ainda aparece algum em palco a ameaçar-me de não saber o que estou a fazer e ainda me agride”, comentou um ator. A história, depois percebi, referia-se à palhaçada que tinha acontecido no São Luiz, onde um trans ou travesti, como se queira, invadiu o palco pois na peça Tudo Sobre a Minha Mãe, a personagem Lola era interpretada por um homem heterossexual, ou cisgénero como se diz agora – a propósito, é preciso ter um curso superior para perceber tanta categoria de trans e afins – e o espetador trans, dizendo-se ator e desempregado, rompeu pelo palco adentro acabando com o espetáculo, já que é inaceitável que um trans seja interpretado por um cis (!). 

Além da linguagem ordinária, o trans conseguiu o que queria. Os responsáveis do teatro, mostrando que não sabem o que é representação, logo aceitaram contratar um ator trans para desempenhar esse papel de Lola, não fosse cair o Carmo e a Trindade.

Como é óbvio, aqui não está em causa as questões de género – todos devem ter os mesmos direitos –  mas sim a estupidez humana. Desde quando é que representar significa apresentar, como disse, e muito bem, Francisco Louçã? – quem diria que alguma vez estaríamos de acordo… Querem os responsáveis do São Luiz dizer que um ator não pode, por exemplo, representar um médico, pois pode sempre aparecer um profissional de saúde que faça uma ‘perninha’ no teatro do hospital e se sinta violado pela interpretação do ator? E os atores e atrizes que fazem de toxicodependentes? A estupidez humana não tem mesmo limites.

Espero é que Dustin Hoffman não seja atingido pela doença que corrói o mundo e apareça a pedir desculpa pelo seu magnífico papel no filme Tootsie, de 1982, onde se ‘mascara’ de mulher para conseguir um papel num filme. Talvez o ator não se sinta arrependido mas nunca se sabe se não vai aparecer por aí uma associação qualquer a exigir que se penitencie por ter tido a ousadia de interpretar uma mulher sem se sentir verdadeiramente mulher! Chiça, isto está mesmo tudo ao contrário.