Sérgio Sousa Pinto não leu o inquérito de 36 perguntas sem o qual mais ninguém entra no atual Governo de António Costa. Confessou-o na CNN Portugal, em mais um comentário revelador das qualidades que fazem dele, hoje e cada vez mais, uma voz de referência política, ética e de bom senso num PS e numa democracia portuguesa em crise profunda de quadros e de gente de bem.
Não leu nem vai ler e com razão.
Como também disse, não se imagina personalidades como Jaime Gama, Sottomayor Cardia ou Salgado Zenha sujeitarem-se a assinar aquelas folhinhas (o questionário) ou um compromisso de honra a atestar a sua probidade.
Mário Soares, Almeida Santos, Palma Carlos, Galvão Telles, Francisco Sousa Tavares ou Jorge Sampaio e tantos outros socialistas também não o fariam com toda a certeza.
Como é impensável que alguma vez Ramalho Eanes, Cavaco Silva, Sá Carneiro, Passos Coelho, Álvaro Barreto, Mário Raposo, Meneres Pimentel, Gonçalves Pereira, Amaro da Costa, Lucas Pires, Adriano Moreira, Bagão Félix ou Ribeiro Telles, Álvaro Cunhal, Carlos Carvalhas ou Jerónimo de Sousa se prestassem a semelhante desonra.
Ao contrário do que António Costa pretende, alguém que aceite responder às 36 perguntinhas e assinar a declaração de honra por baixo é quem não tem condições para ser governante.
Voltando a citar Sousa Pinto, o problema, grave, é dos partidos e da democracia que não conseguem atrair para a causa pública gente de bem e com provas dadas – ou seja, reconhecida pelo que é e pelo que fez e cujo currículo, obra e personalidade não precisem de apresentação nem de atestado de honestidade ou probidade.
O problema, mais grave, dos partidos e da democracia em Portugal, na Europa e no mundo é que essa gente, boa gente, começou por ser afastada, deixou-se afastar ou afastou-se dos partidos e da administração pública e não se vê nem interesse nem razão para que regresse.
Sérgio Sousa Pinto já foi um enfant terrible do PS e da política portuguesa; hoje, é um senador.