Phineas Barnum, empresário norte-americano do século XIX na área do divertimento, tornou-se o primeiro milionário desse ramo de negócio, muito devido aos métodos originais e extravagantes que utilizava para atrair gente aos seus espectáculos.
Desconhecido, as pessoas mal acorriam aos shows do primeiro salão que montou em N. York, até ao dia em que encontrou um mendigo à porta do teatro e teve a repentina inspiração de o contratar para um trabalho muito peculiar. Entregou-lhe uma sacola de tijolos e definiu-lhe os locais ao redor do quarteirão onde deveria ir deixando cada um deles. Quando ficasse com apenas um, voltava para trás, depositava esse tijolo no sítio do anterior, apanhando o que lá estava e assim sucessivamente, ficando sempre com um na mão e refazendo o trajecto até chegar ao salão onde deveria entrar. Aí, demorava um pouco e sairia por outra porta, retomando o circuito, o depósito e levantamento dos tijolos.
A cena, de tão repetida, intrigou os moradores, comerciantes e passantes no local que começaram a seguir o mendigo e a tentar saber o que por faria dentro do salão. Aí encontravam Barnum, que lhes vendia um bilhete de ingresso. Conta-se que ao fim do primeiro dia largas centenas de pessoas tinham comprado uma entrada.
Foi a forma criativa e excêntrica de publicitar os seus espectáculos que tornou Barnum o rei do show business.
Olhando para o país, igualmente me parece que o actual primeiro-ministro se tornou um rei, agora do show business político. É que, também ele, vai semeando tijolos, não já para publicitar os seus espectáculos, mas para desviar a atenção das deprimentes performances governamentais.
Se à porta do seu teatro se levantam manifestações perante o doloroso espectáculo das urgências hospitalares, logo planta dois coriscantes tijolos, um Plano de Emergência para o SNS e uma Comissão de Acompanhamento, fantasiando acção e trabalho, mas ironicamente sinal confesso de que não havia qualquer plano e o ministério nada acompanhava.
Nada se alterando, e subindo na rota da ficção, logo lhes junta mais dois vistosos tijolos para distracção pública, um vistoso aumento histórico das pensões (e com ele a ideia de benesse governamental e não de imposição legal devida a uma inflação como há 30 anos não havia), ou um repto aos empresários de aumento dos salários em 20% nos próximos 4 anos, não referindo se em termos reais ou nominais, importante foi a exibição de número tão redondo como virtual.
E se se levanta indignação perante a desobediência ministerial no caso do novo aeroporto, logo deixa mais um esplendoroso tijolo, a aprovação em Conselho de Ministros do Estatuto do SNS, garantia firme de resolução administrativa dos problemas estruturais da saúde, como se um regulamento alterasse o absurdo ideológico da Lei de Bases que visa servir.
E se nas ruas adjacentes ao teatro se contesta os preços da electricidade, logo encandeia os contestatários com mais dois luminosos tijolos, a vitória no campeonato da descarbonização, forma de encobrir o resultado de uma fundamentalista política energética, e um plafond no preço do gás, mas ficando-se sem saber quem vão ser os últimos suportar o ónus, segredo bem guardado na ambiguidade da resolução.
E quando o peso dos impostos nos salários atinge o incrível valor de 41,8% e os contribuintes suportam a maior carga fiscal da Europa, mais um cintilante tijolo vem atribuir o facto ao crescimento económico, como se a carga não medisse o peso de todas as componentes da fiscalidade no PIB.
E tão bem treinado e afoito na tarefa, não hesitou em mostrar peito e arremessar mais um tijolo, este bem grosseiro, aos países europeus que tanto nos têm apoiado, o da recusa da solidariedade nas restrições do gás.
Os tijolos de Barnum promoviam os seus espectáculos, os do governo apenas visam controlar as pateadas. Mas foi longe demais, que a arrogância, sobretudo do pedinte, tem um efeito de boomerang que sempre lhe é fatal. Mas certamente já serão outros a apanhar a pancada.
Economista e Gestor
Subscritor do Manifesto Por uma Democracia de Qualidade
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