Autarca de Mariupol alerta que russos usam crematórios móveis para ocultar crimes

Autarca de Mariupol alerta que russos usam crematórios móveis para ocultar crimes


Anabela Alves já tinha feito alerta semelhante ao i: “O que os russos estão agora a fazer é queimar e desfigurar os corpos para dificultar a identificação das vítimas e da forma como foram mortas, tentando destruir a prova”.


O presidente da Câmara de Mariupol alertou, esta quarta-feira, para o facto de as tropas russas estarem a “tentar ocultar os seus rastos", afirmando que começaram a utilizar crematórios móveis para fazerem desaparecer os "vestígios dos seus crimes" naquela cidade.

"Após o genocídio generalizado cometido em Bucha, os principais líderes da Rússia ordenaram a destruição de qualquer evidência dos crimes cometidos pelo seu exército em Mariupol", lê-se numa mensagem publicada no Telegram por Vadym Boychenko.

"Há uma semana, algumas estimativas cautelosas indicavam 5000 mortos [em Mariupol]. Mas, dado o tamanho da cidade, a destruição catastrófica, a duração do bloqueio e a resistência feroz, dezenas de milhares de civis de Mariupol podem ter sido vítimas dos ocupantes russos", sublinhou.

As denuncias de Boychenko confirmam assim o que afirmou ao i Anabela Alves, a jurista portuguesa que trabalhou no Tribunal Penal Internacional para a ex-Jugoslávia e no Tribunal Penal Internacional (TPI), sobre o modus operandi dos russos.

“O que os russos estão agora a fazer é queimar e desfigurar os corpos para dificultar a identificação das vítimas e da forma como foram mortas, tentando destruir a prova”, explicou, garantindo, no entanto, que os investigadores “estão no terreno a recolher indícios e a proteger as vítimas, porque sem testemunhas não há caso e eles sabem disso”.

O autarca de Mariupol sublinhou também que é por isso que a Rússia "não tem pressa" em autorizar operações humanitárias para a retirada de civis da cidade, Boychenko afirmou que as tropas russas querem silenciar potenciais testemunhas das "atrocidades cometidas".

Acusa também os russos de estarem a recrutar “terroristas locais" e membros de brigadas especiais para os apoiar nas tarefa de “encobrimento”. "O mundo não viu uma tragédia com a magnitude que Mariupol está a experimentar desde os campos de concentração nazis", acrescentou.

Recorde-se que no pré-guerra Mariupol tinha cerca de meio milhão de habitantes, dos quais restam agora apenas 160 mil, sem acesso a água, eletricidade, medicamentos ou outros serviços básicos devido ao cerco – que já dura há semanas – das tropas russas.