Portugal-Turquia. Navegar é preciso! Viver também é preciso!

Portugal-Turquia. Navegar é preciso! Viver também é preciso!


Hoje, no Porto, pelas 19h45, a seleção nacional tem a sua primeira oportunidade de ainda chegar ao Mundial. Nada mais conta do que vencer!


É hoje! Daqui a pouco, nas Antas, Portugal procura recuperar do tropeção da fase de qualificação para o Mundial do próximo Outono/Inverno, no Qatar, desatando os pés das mãos para vencer a Turquia e poder, em seguida, entrar no tudo por tudo contra a Itália ou Macedónia do Norte que jogam igualmente pelo mesmo objetivo.

Não há forma de dizer as coisas de outra forma: estamos metidos numa camisa de onze varas por incapacidade própria – sem esquecer aquele erro alheio do golo não considerado a Ronaldo que daria a vitória na Sérvia. O facto é que tivemos tudo a favor para superar essa falha arbitral primordial. A duas jornadas do final do apuramento, tínhamos dois jogos para fazer dois pontos, um em Dublin, contra a Irlanda, outro em Lisboa, na Luz, frente à Sérvia. Falhanço rotundo com o seu quê de chocante, ainda por cima quando, no jogo frente aos sérvios, nos vimos em vantagem logo aos dois minutos e fomos derrotados no último lance do encontro. Pela primeira vez nos derradeiros 20 anos estamos de facto em muito maus lençóis, correndo o risco de não comparecermos numa fase final de um_Campeonato do Mundo desde 2002.

Mas, caramba!, não é altura para limpar a lágrima ao canto do olho e encher o peito de saudades de um tempo que já lá vai. É, pelo contrário, a altura certa para dar uma resposta convincente àqueles que já não creem na capacidade de uma seleção que, depois de ter sido campeã da Europa (2016) e vencedora da Liga das Nações (2019) tem acumulado um excesso de frustrações, precisamente quando seria de esperar que se impusesse definitivamente no panorama internacional daqueles que jogam para vencer todas as provas.

Lamente-se o retrocesso. Lamente-se o tempo perdido a construir uma equipa em redor dos talentos emergentes deste futebolzinho português que continua a dar ao mundo jogadores ímpares, como sucedeu com Bruno Fernandes, Bernardo Silva ou João Félix. Mas também não é o momento do mea culpa, como o disse o selecionador nacional Fernando_Santos. Há dois jogos para ganhar, façamos os impossíveis. Depois se farão as contas com a dona da pensão da vida. Quando Petraca citou Pompeu – “navegar é preciso, viver não é preciso!” – esqueceu-se de que viver também é preciso! Ou sobreviver, neste caso.

 

Futuro imediato.

A ausência do Mundial do Qatar seria um golpe duríssimo no futuro imediato da Equipa-de-Todos-Nós, como lhe chamou Ricardo Ornellas. O desfalque financeiro imposto a uma federação que tem enriquecido à custa de presenças contínuas nas fases finais de campeonatos do mundo e da Europa far-se-á sentir. A desvalorização de uma equipa que ainda há pouco se encontrava nos pináculos da fama, será inevitável. Eis porque a opção é apenas uma: ganhar. Ou duas, se quiserem: ganhar e ganhar. Ganhar hoje e ganhar na próxima terça-feira.

Nunca gostei dos discursos que nos afirmam ser o abismo já aí, bastando dar um passo em frente. Pensar jogo a jogo, como se tornou banal ouvir da boca e qualquer treinador que se preze, tem aqui a sua razão de ser, não estivéssemos nós perante uma situação que é bem o reflexo disso mesmo. Não haverá Itália (muito provavelmente vencedora do seu jogo) sem vitória frente à Turquia. E, convenhamos, depois de ter sido incapaz de bater uma Irlanda mazomba, estilo abana-pinheiros, e de perder frente a uma Sérvia que está muito longe de ser uma equipa temível, a derrota contra os turcos seria aquilo que se poderia dizer, de forma popularucha, uma violenta pancada de um pano (turco) encharcado na tromba lusitana. Aí, chapéu!, ninguém poderá carpir-se de injustiças.

A oportunidade continua em aberto. “Ser descontente é ser homem”, escreveu Fernando Pessoa no_Quinto Império. “Que as forças cegas se domem/Pela visão que a alma tem”. Nos tempos de antanho, os jornalistas portugueses apelidavam a seleção nacional de Alma, contrapondo-se ao hábito espanhol de chamar Fúria à sua equipa. Alma: parece-me bem. É de alma que Portugal precisa para bater os turcos, logo ao fim da tarde, uma alma que eles decididamente costumam apresentar a cada jogo num fanatismo nacional muito particular. Talvez não seja preciso discutir nem a tática nem a equipa._Talvez não seja preciso rezar para que Cristiano Ronaldo saia do nevoeiro sebastiânico que o rodeia, agora que está à beira de falhar o último Mundial da sua carreira. Talvez baste apenas acreditar, ou melhor, saber que somos melhores. E que os melhores estão sempre mais perto de ganhar.