João Diogo Ramos, fundador do museu LOAD ZX Spectrum. “Não somos um conjunto de saudosistas dos anos 80”

João Diogo Ramos, fundador do museu LOAD ZX Spectrum. “Não somos um conjunto de saudosistas dos anos 80”


Há cerca de 35 anos, o engenheiro informático natural de Cantanhede recebeu o primeiro computador. Hoje é curador de um museu dedicado ao ZX Spectrum.


Esta é uma conversa para quem nunca esqueceu o seu ZX Spectrum, mas não só. João Diogo Ramos, engenheiro informático de profissão, quis manter viva a memória (a sua e a de tantos outros) e o resultado é o primeiro museu no mundo dedicado ao velhinho computador. Onde? Em Portugal, na Escola Básica Conde Ferreira, em Cantanhede. 

Quando surgiu a sua paixão pelo ZX Spectrum?
Estive a recuperar vídeos de cassetes antigas e encontrei um, do primeiro aniversário da minha irmã, em que já tinha um. Portanto, diria que o recebi entre os 7 e 8 anos. E hoje tenho 43. 

O que captou a sua atenção?
Costumo fugir deste tipo de perguntas porque não me considero suficientemente conhecedor, no entanto posso dizer que ao início me senti fascinado por aquele objeto e a curiosidade foi crescendo: queria saber mais. O que atrai qualquer criança é a opção de jogar e foi isso que aconteceu, mas também importa dizer que tive a plena consciência daquilo que queria fazer. Nem devia saber dizer palavras como “engenharia” ou “informática” e já estava certo de que teria de seguir uma profissão relacionada com computadores. 

E quando é que decidiu colecioná-los?
Não foi há muitos anos. Não sei se há aqui algum gene adicional ou não [risos], mas sou de Cantanhede [no distrito de Coimbra] e há muitas pessoas a colecionar. Na minha família, colecionavam porta-chaves, canetas, etc. Em miúdo, tinha uns 2000 porta-chaves e os meus pais incentivavam-me! Era conhecido por isso. Ao longo da minha adolescência, fui colecionando algumas coisas, mas nada muito sério. Sou aquela pessoa que, imaginemos sai um filme e gosta de ter todos. Aprecio muito História também e isso, de alguma forma, vem tocar no tema dos computadores. Cantanhede tem feito um trabalho muito engraçado: é aqui que vai nascer o Museu da Arte e do Colecionismo.

Que, segundo informação disponível no site oficial da Câmara Municipal de Cantanhede, “nasce da ação benemérita de Cândido Ferreira, médico, colecionador e escritor da Gândara, que doou ao Município de Cantanhede um acervo constituído por cerca de 800 mil peças reunidas em cerca de 100 coleções, que serão colocadas ao serviço da causa do desenvolvimento sociocultural e económico do Município de Cantanhede”.
O doutor Cândido Ferreira teve uma carreira conceituada, fez uma coleção gigante de tudo e mais alguma coisa, avaliada por entidades oficiais e doou parte do espólio a Cantanhede e agora já existe o edifício. Já foram feitos os inventários e tudo o mais. Aqui no concelho há bastante atenção a este tema. No meu caso, sou engenheiro informático e, por natureza, muito empreendedor desde miúdo. Quis praticar ténis de mesa, karaté e outros desportos e criei as equipas porque não havia nada cá. Claro que isto aconteceu porque o meu pai foi diretor do “AuriNegra”, um jornal amador.

De que forma as duas coisas estão relacionadas?
O meu pai e alguns amigos criaram uma cooperativa e, a partir daí, nasceu a publicação. Comecei a envolver-me e criei atividades desportivas. Com 14-15 anos, escrevia a rubrica “Computando” mensalmente: com um estilo muito cáustico. Tanto que há uns dias estive a escrever o prefácio de um livro e lembrei-me de expressões que utilizava naquela época. Tudo isto me tornou bastante empreendedor. Estou ligado a uma start-up tecnológica. Há uns anos, uns 10 no máximo, comecei a pensar que devia fazer uma coleção de maneira mais séria com um objetivo: homenagear o primeiro computador que os portugueses tiveram em casa, o ZX Spectrum. Apareceu nos anos 80, mas está ligado ao nosso país. Houve, na zona de Lisboa, na Caparica, a Timex, uma fábrica que produziu muitos destes computadores. Portugal teve um papel muito relevante nesta história e quando faleceram o diretor-geral e o “número dois”, não houve nenhuma notícia sobre isto. Queria agradecer aos meus familiares que me deram o computador. Tem 40 anos e continua muito vivo: todos os anos, são lançados cerca de 250 jogos. Isto acontece porque os putos da altura ainda hoje gostam, têm poder de compra, etc. e isto mostra um dinamismo muito grande. Foi lançado um computador em crowdfunding e, num mês, foram reunidos 2.2 milhões de euros! Sem saber de nada disto, há 10 anos, decidi comprar os computadores, colecionar e garantir que isto não se perde. 

E quais foram os passos seguintes?
Comprei os computadores, tentei perceber tudo e há um capítulo que acho importante: em 2013, eu e mais uns amigos tivemos uma ideia. Queríamos mostrar os computadores, toda a gente reagia às fotos que púnhamos nas redes sociais, e achei que devia haver uma rede só para isto. Criei a “Collectors Bridge”, juntei três colegas e convenci-os a fazer uma empresa. Precisávamos de dinheiro e não o tínhamos. Concorremos a um concurso de ideias e estava inscrito num mestrado na Universidade de Coimbra. Não havia mais alternativa nenhuma e ganhámos o primeiro prémio, 20 ou 25 mil euros. Contratámos uma pessoa, financiámos uma empresa que nos montou esta plataforma. Falei sobre colecionismo em eventos, na revista dos CTT, etc. Houve quem adorasse a plataforma, valorizavam-na muito, mas aquilo não teve os resultados que esperávamos. Dois anos depois, pagámos tudo e fechámos a empresa. 

Mas já tinha em mente um projeto ainda mais ambicioso.
Fui falar com diretores de museus e lembro-me de ter uma conversa com o diretor do Jardim Botânico de Coimbra: não sabia quase nada, aquilo que me ajudou foi ter lido uma sebenta, algures, sobre o tema. Mantive a plataforma viva porque precisava dela para gerir a minha coleção e antes de comprar qualquer coisa ia lá ver se já a tinha ou não. Esse ciclo foi encerrado, mas nestes 10 anos as pessoas associaram o colecionismo e o ZX Spectrum a mim. Em abril de 2016, o Museu Nacional de História Natural e da Ciência convidou-me para celebrar o 34.ª aniversário do computador e organizar a exposição. Acedi e gostei muito. 

O programa dessa exposição ainda está disponível online, no site do museu, e é possível ler que o evento teve início com uma “uma mostra de objetos de coleção da época reforçada com recursos e componentes audiovisuais do universo ZX Spectrum”.
Exatamente! Não sou aquele colecionador de computadores geek que gosta de pegar no computador e ir para um encontro montá-lo numa banca. Gosto da parte da arqueologia, digamos assim, de investigar para poder ensinar: descobrir os pequenos mistérios e explicá-los. Por isso é que o LOAD ZX Spectrum não é um museu em que está tudo protegido ou um emaranhado de objetos: quero-o com História. Depois de ter quase todos os computadores, comecei a comprar as rádios, calculadoras, etc. que a pessoa que tinha criado o ZX Spectrum, o Clive Sinclair, fazia. Não é para dizer que ele e os restantes envolvidos neste projeto são uns heróis e temos de lhes prestar vassalagem: é para homenagear quem teve esse dinamismo. E o bichinho ficou. Depois, houve pequenas coisas que fui fazendo e que não se conseguem explicar racionalmente. Não faço grandes planos, sou muito mais de agarrar as oportunidades quando me aparecem à frente. Não sou aquela pessoa que planeia tudo, apenas sonho e não perco demasiado tempo com isso. Por exemplo, por volta de 2018, soube que havia um hotel em Beja a vender televisores pesados. Contactei-os, tinham os anúncios no OLX. Convenci o meu pai a passar lá quando viesse do Algarve. Não tinha uma ideia definida, mas sabia que aquilo ia ser útil. Não tenho sensibilidade para o design, mas sei a importância que tem. O conceito da Apple é um sinónimo de prestígio e glamour, por exemplo. Fui dando estes pequenos passos e faltava uma coisa: mudei de casa, guardei uma divisão para ter tudo e, sempre que alguém vinha cá, fazia uma espécie de visita guiada. E eu achava que os computadores mereciam mais! Tinha de arranjar uma solução. 

E conseguiu.
Sim, porque o empreendedor, quando tem um problema, resolve-o de alguma forma. Não queria ter os computadores em Lisboa, mas aqui porque senão estaria longe deles e assim contribuo para a evolução do meu concelho. Trabalhava numa empresa cuja sede é em Coimbra e estava habituado a este exemplo de ver uma empresa cuja sede não está em Lisboa ou no Porto a ter sucesso. Ou seja, o museu teria de ser fundado em Coimbra ou em Cantanhede. Como falar com a Câmara Municipal de Coimbra era quase impossível naquele tempo, falei com o reitor da Universidade de Coimbra. A conversa acabou por não resultar em nada e falei com a Câmara Municipal de Cantanhede. Deram-me atenção, tivemos uma reunião exploratória, mas queria fazer uma coisa definitiva e eles algo temporário. Saí da reunião e em abril o ZX Spectrum fazia anos. Estávamos a um mês dessa data, enviei um email para a Câmara e arranjaram-me uma sala no Museu da Pedra.

Como é que foi essa conquista?
Foi um mês em que praticamente não dormi. Ainda me lembro de estar a montar a exposição na Páscoa. Hoje, sei que o museu é genericamente conhecido, mas na altura eu era apenas um colecionador como qualquer outro. Desafiei a Câmara, fiz uma tertúlia, pus 200 pessoas no jardim do museu e disse ao meu pai “Vou encher aquilo”. Estava gente de todos os sítios, do Norte ao Sul do país. Um advogado do Porto ouviu na rádio que o museu seria inaugurado, foi a casa da mãe buscar o computador de infância, meteu-se no carro e veio dar-mo. 

Estamos a referir-nos ao museu, contudo, nessa época, ainda se tratava de uma exposição.
Era suposto estar no Museu da Pedra cinco ou seis meses, mas tudo correu bem e até comecei a ter visitantes internacionais. Na altura tive 5000 visitantes em seis ou sete meses. Gente da Polónia, da Turquia, Inglaterra, Brasil, Espanha e muito mais. A comunicação faz-se dos núcleos de colecionadores para o público em geral: tudo o que é jornais, canais, etc. já vieram cá. O museu é único no mundo e trata-se da segunda fase da exposição que abriu em 2019. Isto porque quando o tal prazo se estava a aproximar, falei com a Câmara, preparei uma proposta, ficaram embasbacados e disse-lhes “Tenho câmaras e juntas de freguesia interessadas. O que fazemos?”. Adiantaram-se e tinham pensado onde podíamos fazer algo permanente. Cederam uma parte da antiga escola primária do centro de Cantanhede e, deste modo, o museu abriu formalmente a 17 de outubro de 2020. 

Quando todas as pessoas se questionavam acerca do futuro, tomou uma decisão arriscada. 
As coisas têm corrido muito bem. Deixei de ser visto como colecionador para curador do museu. As pessoas começaram a olhar para o projeto de outra maneira e consegui chegar a todos aqueles que trabalharam no ZX Spectrum na época. Mais do que doar os objetos, quero deixar tudo documentado. Por causa da pandemia, tive de apostar muito no YouTube. Lançámos três vídeos para celebrar o aniversário da fábrica Timex em Portugal. O projeto só não tem mais projeção ainda porque temos sido casmurros e queremos falar em português! Sei que, no dia em que começar a traduzir os vídeos, a projeção será maior. Mas isto é um hobby: tenho trabalho, responsabilidades e a minha vida é uma loucura de há uns anos para cá. Acredito que vai haver um equilíbrio que justifique tanta dedicação. O tempo dedicado a isto é tão grande como aquele dedicado a um filho. Quando reflito acerca de tudo aquilo que já vivi, em relação a este computador, lembro-me do meu tio Carlos. Fazia rádio amadora, que era uma forma de comunicar com pessoas de todo o mundo, e ganhou um gosto muito grande por tudo o que era eletrónica. Tem três filhos, mas nenhum se interessava por esta área no geral nem pelo ZX Spectrum em particular. Por isso, deu-me jogos e outras coisas. É por este motivo que, quando pensei em colecionar, já tinha um espólio vasto. No caso específico do museu, não penso que o objetivo seja colecionar objetos: a minha preocupação é documentar a História. 

Como é que os visitantes reagem?
Tenho alguns computadores a uso, outros não, mas estão quase todos disponíveis ao toque. Tenho pessoas que me dizem que querem tocar neles porque nunca tinham visto nada parecido. Quando passámos para o museu definitivamente, achei que devíamos proteger isto, pôr sistemas de vigilância, mas as pessoas deviam poder tocar. Não era um quadro do Van Gogh! Algumas até são peças únicas, mas é preciso pôr em perspetiva aquilo que estamos a ver. Os colecionadores são sempre “os maiores do mundo”, mas acho que há quem tenha coleções bem maiores do que a minha. É diferente: não coleciono apenas para mim, mas igualmente para os outros. 

E tem colaborado com outros aficionados.
O museu tem muitas valências e uma delas é a preservação: sempre tive uma visão muito peculiar, pois achava que devia ser um facilitador e potenciador de outros projetos. Há muitos colecionadores que se inibem, mas, por exemplo, tenho uma parede cheia de cassetes típicas da minha infância. Pirataria que se fazia em Portugal. E as pessoas podem dizer “Eu comprava em x sítio e as caixas eram estas”. Então, a parede serve para as pessoas tirarem fotos e divulgo o trabalho do Vasco Gonçalves, de Almada. Tenho um quadro de ardósia na parede, com um diagrama meio impresso, meio feito a giz, e é de um colecionador inglês, o Jared Bentley. Há um museu de Inglaterra que fez um vídeo espetacular sobre o Clive Sinclair, pedi-lhes autorização e pusemos o vídeo a rodar lá. 

Mas tem um colaborador muito especial.
Sim, que se tornou num dos meus grandes amigos! O André Leão fundou o “Planeta Sinclair” que é um dos blogues mais conceituados nesta área. Dedica-se à preservação de software português destes computadores. Fazemos muitas coisas em conjunto. Por exemplo, dão-me cassetes antigas, passo-as para eles, ele preserva-as e unimos esforços. O museu vai lançar, em abril, o primeiro livro com a sua chancela e é assinado pelo André. O título será “Os Programadores Portugueses” e é dedicado a estes profissionais da Timex. O museu é uma coisa de nicho, mas as pessoas olham para o primeiro computador como olham para o clube de futebol. Há uma relação emocional muito grande. Por exemplo, o André, no livro, tem testemunhos de pessoas da altura. Em agosto, veio cá um rapaz que trabalha na área da hotelaria, veio com a cassete da sua infância, gravámos a sessão e… recuperámos o jogo dele! Estamos a juntar a comunidade. Temos pessoas de 80 anos que voltaram a mexer no computador. Há programadores portugueses, mas há uns ingleses que fizeram jogos míticos quando eu era miúdo e, hoje, mandam coisas para o museu. Houve um colega meu que uma vez disse que o museu lhe deu oportunidade de contactar com os heróis de infância dele! 

E guarda mais alguma memória, em particular, como eles? Existe algum jogo em que ainda pense ou que até jogue atualmente?
Se falarmos dos jogos que me marcaram, posso mencionar imensos: High Noon, Final Fight, Manic Miner, Xevious, 3D Deathchase, Mega Phoenix, Skool Daze… Também não me esqueço do Daley Thompson’s Decathlon porque, para pormos o boneco – que representava o atleta – a mexer-se mais rápido, carregávamos em duas teclas a uma velocidade inacreditável e podíamos dar cabo do computador. E houve alguém que me disse que fazia pressão numa das teclas com um isqueiro! Hoje em dia, os jogos são produzidos por carolice. Alguns, demoram 2-3 anos a serem criados. O que move estes informáticos é pegar num computador limitado e ter o desafio de fazer coisas inovadoras. Muitos espanhóis, alguns ingleses e imensos da Europa de Leste investem nisto. Até há muitos que não são vendidos e ficam disponíveis gratuitamente online: recorrem a um emulador para que se possa jogar no PC ou Mac. Em Portugal, mais especificamente em Portimão, o Rui Tito e o Marco Paulo Carrasco criaram o Alien Evolution. Por outro lado, o José Antunes tem o primeiro jogo de ZX Spectrum registado na Sociedade Portuguesa de Autores. 

Conhece mais produções nacionais?
Eu e o André concluímos que há por volta de 1000 programas portugueses e, destes, aproximadamente 250 são jogos. Há um certo misticismo porque os jogos eram extremamente difíceis. E isto leva a que muitas pessoas mais novas se interessem por eles. 

E quando é que as novas gerações, mas também os fãs “da velha guarda” podem visitar o museu?
Está aberto de terça a sábado e não se paga a entrada. Eu não estou lá, só lá vou para visitas guiadas ou algo específico. Se for uma “normal”, os visitantes podem contar com o staff da Câmara. Só tive uma crítica negativa até hoje: de um senhor que diz ter chegado ao museu e não ter encontrado alguém que percebesse do tema. O museu tem 230 códigos QR com conteúdos. Nem uma semana depois, estavam vídeos gravados em português e em inglês para quem lá vai e temos um guia ao qual se acede com um telemóvel ou tablet. E todos podem ter acesso ao mesmo que faço quando estou a fazer a visita guiada presencialmente. Isto é um projeto amador, mas, ao mesmo tempo, muito profissional. Formalmente, resulta da Associação Geração Spectrum – pondo o património à disposição da comunidade – e da Câmara. E quem está mais? Depende! O André está sempre disponível. Estamos ligados a uma revista luso-brasileira que se chama “Spectrum” e são mais dois ou três amigos. Há um núcleo e, depois, colaborações pontuais. 

E também mecenas.
Isso. Como a virtualtour.pt com a qual fui surpreendido no final do ano passado. Recebi um email e até parecia spam. Disse que não éramos o cliente típico, o rapaz era de Aveiro, disse que adorava o museu, e que fazia a nossa visita virtual sem pagarmos nada. E eu só lhe perguntei: “Quando é que vens?”. Lançámos a visita e acho que está fenomenal. Se as pessoas não se envolvessem, acho que já teria desmoralizado. Apesar de saber que me reinvento muito facilmente. 

Para além da crítica que mencionou anteriormente, houve mais algum episódio desagradável?
Respeito a opinião de toda a gente, mas não aceito extremismos. Temos a recriação de uma sala dos anos 80 e, por ter um crucifixo, duas pessoas discutiram comigo porque acharam que estava a impor a religião católica, enquanto na primeira exposição tínhamos impresso “O Menino da Lágrima” e deram-me uma cópia para que fosse mais fidedigno. Há quem diga bem, há quem diga mal, pode haver inveja, mas não me chega ou se chega nem me apercebo. O museu foi a escapatória que arranjei para continuar a colecionar. O problema de já não ter espaço para os objetos fez-me avançar.

O que deseja para o futuro do museu?
Somos a segunda atração turística de Cantanhede no Trip Advisor e, no final de janeiro, estive presente nos GOTY – Game of the Year – que são encarados como os óscares dos jogos ZX Spectrum. Para além da Timex, dos seus funcionários e de tudo aquilo de que falámos, há outros detalhes incríveis: o Estádio das Antas tinha publicidade controlada por um computador destes e este também serviu para criar coisas para a antecessora da agência Lusa, a Notícias de Portugal. Portanto, não se trata de algo desconhecido. A Câmara vai aumentar o espaço, estamos a trabalhar nisso e envolvidos num documentário inglês que vai ser feito no próximo ano. Sem revelar muito mais, posso dizer que estamos a trabalhar na preparação de outro pensado internacionalmente. Obviamente que com a questão do novo espaço para o museu, também há outras valências que queremos juntar: não tenho a ambição de transformar o museu do ZX Spectrum num museu de tecnologia. Estragaríamos aquilo que temos de especial, mas quero completá-lo com pequenas coisas. Nos anos 80 havia os salões de jogos com flippers e tudo o mais e queremos montar um semelhante, mas com tecnologia atual também, para mostrar o que era o passado e o que será o futuro. A maioria das pessoas, tanto pelo dinheiro como pela falta de espaço, tem estas coisas, mas não pode mostrá-las ao público. Pretendemos dar a conhecer o início do lazer à volta disto e por onde estamos a ir. O futuro deste projeto passa pelo alargamento, pela junção de todas as valências e pela contribuição para a formação em ciências da computação.