E sobre recursos minerais?


Não é suficiente apostar em energias renováveis e ignorar a origem dos seus componentes, os seus impactos locais e as condições de segurança dos trabalhadores nos locais de produção destes minerais.


Por Leonardo Azevedo, Professor do Instituto Superior Técnico

Qualquer que seja o resultado final das eleições legislativas do próximo domingo, da composição dos lugares na Assembleia da República e do governo que daí resultará, foi ignorado do debate da campanha um dos tópicos mais relevantes para que as próximas décadas sejam de sustentabilidade. Os dias que faltam para o final da campanha eleitoral não deverão trazer grandes novidades. 

Para além da provável contração da economia europeia e dos desafios que daí resultem, temos a obrigação de conhecer as propostas que existem para uma transição energética e digital justa e que papel queremos desempenhar na atual emergência climática. Que não se tenham apresentado e discutido aprofundadamente as estratégias nacionais propostas por cada partido nestes tópicos e que resposta o Plano de Recuperação e Resiliência inclui para o cumprimento das metas pretendidas, torna-nos mais frágeis e representa também uma oportunidade perdida para incluir e mobilizar a sociedade em torno de um futuro mais sustentável.

Correndo o risco de repetir algumas das ideias que já deixei neste espaço, não se vislumbra um futuro menos dependente de combustíveis fósseis, e com a eletrificação como base para uma economia sustentável, sem o aumento global da produção de minerais críticos essenciais para a alteração da matriz energética atual. Estes minerais, que existem em elevadas concentrações em localizações muito específicas distribuídas pelo nosso planeta, Portugal incluído, são essenciais por exemplo na construção de painéis fotovoltaicos, geradores eólicos, na produção de hidrogénio e na produção de baterias para o armazenamento da energia utilizadas por exemplo em carros elétricos e em grandes infraestruturas que armazenam o excesso de energia produzido através de fontes renováveis.

Estes minerais terão que ser produzidos em grandes quantidades dos jazigos minerais conhecidos, dos que eventualmente estão ainda por descobrir e quantificar, e acima de tudo, é necessário garantir a sustentabilidade em toda a sua cadeia de valor, desde a sua origem até ao consumidor final. Não é suficiente apostar em energias renováveis e ignorar a origem dos seus componentes, os seus impactos locais e as condições de segurança dos trabalhadores nos locais de produção destes minerais. Devemos a todo o custo evitar resolver um problema à escala global criando outro de natureza semelhante. 

Outro dos desafios prementes e que aparece frequentemente mencionado nos relatórios dos principais think-tanks internacionais da indústria dos recursos minerais e energéticos será a necessidade de garantir o fornecimento atempado e em quantidade suficiente dos recursos minerais para que a transição energética e a meta da neutralidade carbónica se cumpram à velocidade desejada. É um desafio que não acautelado e pensado estrategicamente irá levar a uma situação de disrupção com impacto local, prejudicando previsivelmente os mais frágeis.

Um cenário que poderá ser até certa forma comparado à realidade vivida neste momento em algumas regiões do globo com a falta de matérias-primas devido à disrupção das cadeias de distribuição. A geopolítica dos próximos anos irá também passar por aqui e a nossa exposição e dependência a países estrangeiros terá que eventualmente ser equacionada. Temos a oportunidade, os recursos e a capacidade científica e tecnológica para assumir uma posição de liderança global na transição energética e na utilização sustentável dos recursos minerais necessários para a fazer cumprir.

Apesar de uma lista de argumentos a favor de uma discussão sobre estes temas ser mais extensa, estes dois pontos deviam ser suficientemente importantes para que a estratégia nacional sobre os recursos minerais e energéticos fizesse parte dos programas eleitorais dos principais partidos. Não só não faz, como os partidos que a referem, menos de metade dos partidos representados no parlamento, é de forma marginal.

Como última nota, para cumprir de forma eficaz os objetivos da transição energética e nos colocarmos na liderança nesta área será igualmente necessário reforçar a importância da educação em geociências, e em particular para os recursos naturais e energéticos, que é atualmente é quase nula. Os currículos de geologia do ensino básico e secundário são hoje pouco apelativos para os alunos e não refletem a importância desta área científica no nosso quotidiano e nos desafios que estão perante nós.

E sobre recursos minerais?


Não é suficiente apostar em energias renováveis e ignorar a origem dos seus componentes, os seus impactos locais e as condições de segurança dos trabalhadores nos locais de produção destes minerais.


Por Leonardo Azevedo, Professor do Instituto Superior Técnico

Qualquer que seja o resultado final das eleições legislativas do próximo domingo, da composição dos lugares na Assembleia da República e do governo que daí resultará, foi ignorado do debate da campanha um dos tópicos mais relevantes para que as próximas décadas sejam de sustentabilidade. Os dias que faltam para o final da campanha eleitoral não deverão trazer grandes novidades. 

Para além da provável contração da economia europeia e dos desafios que daí resultem, temos a obrigação de conhecer as propostas que existem para uma transição energética e digital justa e que papel queremos desempenhar na atual emergência climática. Que não se tenham apresentado e discutido aprofundadamente as estratégias nacionais propostas por cada partido nestes tópicos e que resposta o Plano de Recuperação e Resiliência inclui para o cumprimento das metas pretendidas, torna-nos mais frágeis e representa também uma oportunidade perdida para incluir e mobilizar a sociedade em torno de um futuro mais sustentável.

Correndo o risco de repetir algumas das ideias que já deixei neste espaço, não se vislumbra um futuro menos dependente de combustíveis fósseis, e com a eletrificação como base para uma economia sustentável, sem o aumento global da produção de minerais críticos essenciais para a alteração da matriz energética atual. Estes minerais, que existem em elevadas concentrações em localizações muito específicas distribuídas pelo nosso planeta, Portugal incluído, são essenciais por exemplo na construção de painéis fotovoltaicos, geradores eólicos, na produção de hidrogénio e na produção de baterias para o armazenamento da energia utilizadas por exemplo em carros elétricos e em grandes infraestruturas que armazenam o excesso de energia produzido através de fontes renováveis.

Estes minerais terão que ser produzidos em grandes quantidades dos jazigos minerais conhecidos, dos que eventualmente estão ainda por descobrir e quantificar, e acima de tudo, é necessário garantir a sustentabilidade em toda a sua cadeia de valor, desde a sua origem até ao consumidor final. Não é suficiente apostar em energias renováveis e ignorar a origem dos seus componentes, os seus impactos locais e as condições de segurança dos trabalhadores nos locais de produção destes minerais. Devemos a todo o custo evitar resolver um problema à escala global criando outro de natureza semelhante. 

Outro dos desafios prementes e que aparece frequentemente mencionado nos relatórios dos principais think-tanks internacionais da indústria dos recursos minerais e energéticos será a necessidade de garantir o fornecimento atempado e em quantidade suficiente dos recursos minerais para que a transição energética e a meta da neutralidade carbónica se cumpram à velocidade desejada. É um desafio que não acautelado e pensado estrategicamente irá levar a uma situação de disrupção com impacto local, prejudicando previsivelmente os mais frágeis.

Um cenário que poderá ser até certa forma comparado à realidade vivida neste momento em algumas regiões do globo com a falta de matérias-primas devido à disrupção das cadeias de distribuição. A geopolítica dos próximos anos irá também passar por aqui e a nossa exposição e dependência a países estrangeiros terá que eventualmente ser equacionada. Temos a oportunidade, os recursos e a capacidade científica e tecnológica para assumir uma posição de liderança global na transição energética e na utilização sustentável dos recursos minerais necessários para a fazer cumprir.

Apesar de uma lista de argumentos a favor de uma discussão sobre estes temas ser mais extensa, estes dois pontos deviam ser suficientemente importantes para que a estratégia nacional sobre os recursos minerais e energéticos fizesse parte dos programas eleitorais dos principais partidos. Não só não faz, como os partidos que a referem, menos de metade dos partidos representados no parlamento, é de forma marginal.

Como última nota, para cumprir de forma eficaz os objetivos da transição energética e nos colocarmos na liderança nesta área será igualmente necessário reforçar a importância da educação em geociências, e em particular para os recursos naturais e energéticos, que é atualmente é quase nula. Os currículos de geologia do ensino básico e secundário são hoje pouco apelativos para os alunos e não refletem a importância desta área científica no nosso quotidiano e nos desafios que estão perante nós.