Fernando Branco. “O problema dos jovens engenheiros são os baixos salários”

Fernando Branco. “O problema dos jovens engenheiros são os baixos salários”


De acordo com o candidato à Ordem dos Engenheiros, há pleno emprego no setor mas os contratos é que ditam as regras salariais. 


Por que decidiu candidatar-se à Ordem dos Engenheiros?
Porque há problemas para resolver e quis trabalhar nesse sentido. Há cerca de um ano fui contactado para me disponibilizar. Isto coincidiu com o facto de me ter aposentado no início do ano. Havendo essa pressão e tendo tempo disponível – enquanto estava a trabalhar seria impossível –, decidi candidatar-me. A primeira coisa que fiz – e enquanto estive a chefiar outras organizações sempre tive o mesmo procedimento – foi falar com muitas pessoas, ler documentos e textos sobre o assunto. Identifiquei os principais problemas que senti e que deviam ser melhorados, ao que chamei o meu ponto de partida, e depois fiz o meu programa de ação, que são os famosos 5R.

São os pontos em que se baseia a sua candidatura. Que 5R’s são estes?
Os 5R’s são divididos: três para a Ordem, um para o país e um para o mundo. Os três primeiros são: Reorganizar os problemas que senti na Ordem, Resolver problemas pendentes, que necessitam de resolução, e Rejuvenescer. Essa foi uma coisa que me chocou. A Ordem precisa de rejuvenescer. Temos de trazer os jovens para dentro da Ordem. Os jovens são a inovação e o futuro. Fiz sempre este esforço nas organizações internacionais onde estive, que é de trazer jovens para dentro. Para cada um desses R tenho medidas concretas.

Quase todas as ordens dizem o mesmo, que os membros têm todos uma certa idade. As pessoas mais novas estão de costas voltadas para este tipo de estruturas?
Posso falar pela minha. Sinto que os jovens engenheiros não sentem muita vontade para estar na Ordem. Um dos problemas que quero resolver é precisamente atrair um grande número de engenheiros que não estão inscritos na Ordem. Temos que lhes mostrar que a Ordem traz vantagens, não é só o que se paga. Aliás, na Ordem paga-se 10 euros por mês, por isso, não é pelo valor. É preciso mostrar que a Ordem traz vantagens e essas resultam precisamente na defesa dos seus interesses. Temos que ter uma Ordem muito mais ativa e isso prende-se, precisamente, com o quarto R, que é atuar a nível nacional. A Ordem tem que ser proativa, não só mostrar ao país quais são as grandes linhas de desenvolvimento, como tomar posições face aos problemas que vão surgindo.

Quantos membros tem neste momento?
À volta de 60 mil. 

Fica aquém para o total de profissionais que existem…
Sim. Não tenho noção de quantos engenheiros exercem, mas só as universidades devem formar cerca de dois mil por ano. 

Ia falar de outro R…
A Ordem tem que ser muito mais ativa face à sociedade. E isso prende-se também com os outros R. Um dos aspetos principais no reorganizar diz respeito à Ordem. Atualmente tem uma organização matricial, vive de regiões. Tem o bastonário, tem a região Norte, Centro, Sul, Madeira e Açores e depois tem colégios. Mas o know-how está nos colégios: engenharia civil, engenharia florestal, etc., e são as pessoas que estão nestes colégios que sabem identificar os problemas e sabem resolvê-los. A primeira coisa que quero fazer é inverter a posição na Ordem. Ou seja, quero trazer os colégios muito mais para a frente. Isso significa que têm que ser eles a identificar os problemas e depois a Ordem tem que mostrar à sociedade quais são esses problemas e como é que se podem resolver. Isto passa também por um outro aspeto: a Ordem não tem uma boa imagem, no sentido de não ter uma imagem personalizada. Temos que, para fora, trabalhar muito nesse sentido. Há muita gente que não sabe: mas a engenharia vai da civil à hidráulica, a estruturas de edifícios, a estradas, etc. Isso são especializações. Uma pessoa de estradas, em geral, não sabe nada de hidráulica e por aí fora. Há toda uma imagem de atuação nossa na sociedade que não é conhecida pela sociedade. As pessoas deram por adquirido que é fácil todos os trabalhos: abre a torneira e tem água. Mas para conseguir ter isso há uma barragem a montante que capta água, tem que haver toda uma canalização que traga água do Tejo até Lisboa, mais o tratamento. Mas como isto há imensas coisas. Carrega no interruptor da luz e tem uma barragem a montante que lhe produz a eletricidade. E isso tornou-se tão banal que as pessoas não percebem qual é o papel do engenheiro. É esta imagem que claramente falta à sociedade e é também por isso que depois é mais difícil trazermos jovens para a engenharia. Quando meto o rejuvenescer nos cinco R’s, passa por atuar logo na origem ao nível do secundário. Temos, por um lado, de ter colegas para ir aos liceus, aos secundários para lhes chamar a atenção para as vantagens de virem para as ciências exatas e depois, no 12.º ano, chamar-lhes a atenção para os vários cursos da engenharia. Nos jovens engenheiros há um problema muito maior. Não é o emprego, os engenheiros têm pleno emprego…

São os salários?
São os salários. Os salários são um problema muito complicado neste momento. É um problema de economia do país e a Ordem não resolve os problemas de economia do país. Mas pode atuar. E pode atuar com duas vias. Tenho uma formação anglo saxónica. Quando me formei nem havia mestrados em Portugal e fui fazer mestrado no Canadá. E os meus colegas, quando se acabava o curso, perguntava: ‘Então e agora? O que vais fazer?’. Todos diziam: ‘Vou fazer uma empresa’. Em Portugal, faço a mesma pergunta aos meus alunos e dizem: ‘Vou arranjar um emprego’. É uma diferença radical. Temos que transformar os nossos engenheiros porque têm esse know-how. Isto é um trabalho que não é fácil, tem que nascer nas universidades. Nos últimos anos, os alunos têm que começar a pensar em criar empresas e depois é preciso ir buscar às organizações que apoiam a ciência para pegar nessas empresas que devem nascer nas universidades e, pelo menos, aguentá-las durante dois anos, que é o tempo deles criarem clientes.

Startups…
É isso mesmo que quero deles: ter muitos dos nossos engenheiros a criar startups. É fundamental. Porque eles têm o know-how para fazer isso. 

Poderá ser uma alternativa para combater os salários baixos?
Sim. Há muitas startups – e já começamos a ver isso –, por exemplo, na informática, que trabalham para o estrangeiro. E se trabalham para o estrangeiro têm salários do estrangeiro e vivem cá em Portugal. É o melhor dos dois mundos. Temos que ter startups e têm que ser internacionais. Neste momento temos muitos engenheiros no estrangeiro. Quero transformar esses engenheiros em embaixadores da engenharia no estrangeiro. Temos que estabelecer redes com eles e são eles que nos vão permitir arranjar os tais contratos para os engenheiros que ficam cá. Temos que pôr tudo a funcionar em rede.

Há uns anos havia muitos engenheiros, por exemplo, em Angola. Essa situação já não é bem assim…
Vamos a outro problema que temos e nem é preciso ir a Angola, podemos começar cá. Porque que é que as empresas pagam salários baixos? Porque recebem contratos muito baixos. A contratação é feita com base no preço mais baixo. E como recebem pouco, pagam pouco. É, claramente, algo que tem que mudar na contratação pública. A contratação pública que é feita hoje em dia é feita essencialmente com base no custo mínimo. E porquê? Porque as pessoas que adjudicam esses concursos têm medo de depois ser recriminadas e metem outros critérios. Mas os critérios têm que ser mudados. Além do custo mínimo e do tempo – que atualmente são as duas variáveis que contam – temos que meter a qualidade. Porque inclusivamente estamos a dar cabo da qualidade dos nossos empreendimentos. Um exemplo: vai adjudicar a construção de um prédio ou de outra coisa qualquer. Se adjudica pelo custo mínimo, é óbvio que o empreiteiro vai pôr lá o mais barato. É assim que ele consegue. E quando é que vai pagar isso? Não é no dia da inauguração mas passado 50 anos ou durante o período da manutenção. Vai ter custos muito mais caros de manutenção. Temos de começar a pensar no custo das nossas construções para um período de vida longo. E quem diz construções diz redes de eletricidade, seja o que for. Temos que começar a investir em boa qualidade logo na altura da construção. E se investirmos em boa qualidade nessa fase também começamos a ter contratos mais altos e podemos começar a pagar mais alto. Se não fizermos isso, os assalariados não vão conseguir subir os salários.

E agora numa altura em que se fala tanto da falta de mão de obra, essa escassez não poderá obrigar ou impulsionar um aumento?
Pode, embora haja um senão, que é começar a importar pessoas do estrangeiro que vêm de países de salários mais baixos. Na engenharia temos pleno emprego e os nossos engenheiros estão ocupados e já não chegam. Apesar disso, obrigar a subir ligeiramente os salários. As universidades são o primeiro sítio onde as empresas vão buscar novos engenheiros. Todos os dias perguntam-me se não arranjo um engenheiro. Isso faz subir ligeiramente os valores mas se o tempo de adjudicação não subir, eles não podem. Se não, a empresa vai à falência. O que está a acontecer é que estarmos a começar ir buscar engenheiros a países como a Índia. A formação também não é muito má e, para certos lugares, estão a substituir engenheiros portugueses.

Fala em revolucionar a importância nacional e internacional da profissão. Como tenciona fazer isso?
É ao nível dos colegas que estão no estrangeiro. Temos uma rede internacional já muito grande e de pôr essa rede a trabalhar com Portugal, com os colegas portugueses. Pode ser útil não só para as startups como também para as empresas portuguesas. Uma empresa portuguesa que se queira lançar no estrangeiro tem sempre dificuldades porque lhe falta um contacto local. Temos já esses contactos. Temos que incorporar esses engenheiros nos nossos contactos locais e aí a Ordem pode ser facilitadora para os engenheiros que vão para o estrangeiro. Outra coisa a fazer é melhorar a imagem da engenharia portuguesa no estrangeiro. A engenharia portuguesa é relativamente bem conceituada, ganhamos prémios internacionais e devemos mostrar isso no estrangeiro e dizer que somos bons e que as nossas empresas são boas.

Numa altura em que falamos tanto do PRR, que importância pode ter a Ordem na sua execução?
O PRR, para ser feito, tem áreas muito grandes como a habitação, florestal, transições climáticas, a ferrovia, etc. Tudo isto envolve engenheiros. Sem engenharia não temos PRR. Sem engenharia temos intenções de PRR porque chegamos ao fim e não há nada. É fundamental termos a engenharia a funcionar. Não vai ser fácil porque nestes últimos anos, nomeadamente na engenharia civil – que foi a que sofreu mais – houve muitas empresas portuguesas que desapareceram. As grandes empresas de construção estão reduzidas a quatro ou cinco e também os gabinetes de projeto desapareceram imensos. Isto significa que vamos ter que importar tecnologia estrangeira, o que significa que depois o PRR acaba por ir parar ao estrangeiro. 

A maioria das construtoras em Portugal são espanholas…
As grandes construtoras portuguesas são pequenas face às espanholas. Em Espanha há construtoras quase mundiais, com dimensão muito grande. Depois entram aqui com muita facilidade. Isso mostra que quem lança os concursos deve apostar no conceito de qualidade e, ao mesmo tempo, inserir critérios que permita adjudicar a empresas portuguesas. Não pode ser por nacionalidade porque viola a legislação europeia, mas temos de arranjar critérios. As empresas estrangeiras vêm, vêm com preços mais baixos, mas não trazem mais qualidade. Pelo menos eu, e alguns colegas meus, queixam-se, muitas vezes, na adjudicação, da falta de qualidade dos projetos.

Em relação aos projetos que foram apresentados, acha que foram as melhores escolhas ou o PRR podia ter dado outro destaque a outras áreas?
Em termos de grandes linhas de ação, isso passa por saber qual o conceito para o desenvolvimento do país. O meu conceito e, não o conceito da Ordem dos Engenheiros, é que Portugal deve ser um país muito mais de serviços do que propriamente de indústria. Obviamente que todos os países têm que ter indústria mas Portugal, neste momento, com o grande desenvolvimento das universidades, tem muito know-how, que pode ser facilmente transformado em exportações e serviços. O PRR aposta muito nisso? Não sinto muito. Se fosse primeiro-ministro tinha claramente feito uma aposta nas startups porque isso significaria uma mudança do funcionamento do país. Não temos matérias primas significativas, por isso, não é com isso que vamos desenvolver. As indústrias – temos alguns nichos importantes, como os automóveis – mas também não é isso irá criar o grande desenvolvimento do país. Se queremos mudar o país é apostar nos serviços. É transformarmo-nos numa coisa tipo Dinamarca, Irlanda ou Singapura. Singapura não tem uma única indústria. Vive só de serviços. Devíamos apostar claramente nisso porque, neste momento, temos a sorte de ter pessoas bem formadas. Agora temos é que transformá-las em empreendedores.

E mantê-los cá…
Se forem empreendedores ficam cá. Hoje em dia com a internet consegue-se fazer quase tudo. Por exemplo, no caso da engenharia civil, a obra não pode ser feita ainda pela internet. Mas os projetos sim. Ainda estive há 15 dias no Porto e uma empresa que é capaz de ser o maior gabinete de projetos da cidade do Porto está a trabalhar para a Arábia Saudita. Isto é um conceito que o PRR não desenvolveu.

Mas no caso da ferrovia. Há muito que se pedia este investimento, mas deixou de lado a alta velocidade…
Vamos discutir a qualidade do investimento no abstrato. Para mim, a qualidade do investimento tem de responder a seis vetores. O primeiro é a funcionalidade, o segundo é a segurança, o terceiro é a durabilidade, o quarto é a economia, o quinto é a estética e o sexto é o impacto ambiental. Isto significa que todo o empreendimento que se faz tem de ser analisado consoante estes critérios – seja a ferrovia, seja o aeroporto – porque é um investimento económico e esse investimento deve ser recuperado ao longo da sua vida. E só pode ser recuperado se for funcional. Quando se investe num prédio é preciso recuperar o dinheiro que foi investido, ou através da venda ou através de rendas, logo tem de ser funcional. Segundo tem de ser seguro e tem de ser durável, ou seja, não se pode degradar ao longo do tempo porque se se degrada ao longo de 50 anos deixa de ser funcional. Habitualmente quando se discute, quer o aeroporto, quer a linha de comboio, cada pessoa só fala de um destes vetores e isto é que está errado. A boa decisão é aquela que otimiza cada um destes vetores. Aliás, o que o Governo devia fazer era pesar cada um destes vetores e depois para cada um defendia os prós e contras. Claramente um dos problemas que temos é que o avião não vai ser transformado em elétrico tão rapidamente e a alternativa é o comboio para distâncias até 600 quilómetros – em números redondos é a distância Lisboa/Madrid – e aí o TGV é claramente competitivo, desde que tenha clientes, é claramente algo que se pode apostar. Se me perguntar em relação a Lisboa/Porto, se calhar não, porque quando falamos num TGV estamos a falar de 300 Km/hora ou mais e até já estão em estudo comboios para 1000 km/hora. Se passarmos para 1000km/hora já estamos a falar de uma distância Lisboa/Barcelona. No caso de Lisboa/Porto se fizer a 300 km/h ou 200 km/h temos de ver o que é que vale a pena, porque quanto mais velocidade se tem maior é o custo. E o ganho da funcionalidade pode não ser muito maior. Aqui deve ser otimizado que tipo de comboio é que queremos, pode não ser o de alta velocidade, pode ser uma velocidade mais baixa. Mas claramente que para anular o avião Lisboa/Porto que, para mim é o principal objetivo, temos de saber qual é a velocidade razoável que queremos e, a partir daí, investir numa linha para essa velocidade.

A alta velocidade está esquecida no PRR…
Mas fala-se de investimentos na ferrovia. Temos de pensar nisto: ‘Qual é o objetivo’? Acho que temos é de tentar eliminar o avião nas curtas distâncias e aí o comboio é uma boa solução. Neste momento temos o corredor do comboio que está completamente ocupado, o que vai exigir corredores completamente novos. Vai ser muito complicado. A linha Lisboa/Porto é aquela que tem mais movimento em Portugal. Quanto aos projetos em Évora, são para fazer a ligação Sines/Europa, mas isso está relacionado com o conceito de mercadoria, em que a velocidade não é tão importante. Esses comboios não são competitivos com o avião.

E em relação ao novo aeroporto?
As opções que estão em cima da mesa são Alcochete e Montijo. Temos de pensar na funcionalidade, durabilidade, impacto ambiental, etc. No caso da durabilidade qual é que dura mais tempo? Alcochete ou Montijo? Temos que pôr nestas duas localizações os tais seis vetores. Por exemplo, em relação ao impacto ambiental, acho que Alcochete também tem problemas com aves, mas dá-me a sensação que o Montijo tem muito mais problemas em temos de impacto ambiental tanto das populações, como dos pássaros. Mas se analisar do ponto de vista económico, se calhar o Montijo ganha em relação a Alcochete. O que deve ser feito, e isso nunca vi, é pôr estes seis vetores e dizer ‘este tem vantagens aqui’, ‘aquele tem vantagens ali’ e esclarecer o público. Mas o que vimos é que cada um defende a sua teoria e só no vetor que lhe dá jeito.

E já fez essa análise?
Não fiz porque quando faço uma análise gosto fazê-la com conhecimento das causas todas e não tenho esses conhecimentos. 

O atual Bastonário diz que o aeroporto Humberto Delgado está “obsoleto”…
Devemos analisar não só Alcochete ou Montijo, mas todo o sistema aeroportuário de Lisboa. E isso passa por saber quanto tempo é que queremos ter a Portela a funcionar. Essa é a primeira variável, que é a funcionalidade. Como é que queremos pôr o sistema aeroportuário a funcionar em Lisboa? Não sou especialista, a minha formação base é pontes. Sei como é que se deve avançar para resolver o problema, mas não sei qual é a solução.

Termos agora eleições antecipadas poderá atrasar alguns projetos?
Penso que não há razões para atrasar significativamente. Se tudo correr bem, teremos um Orçamento de Estado em março/abril e não é isso que vai atrasar as grandes realizações. Mas se estamos a falar em atrasos tenho mais medo do que pode acontecer com a habitação. Qual é o grande problema da realização da habitação? É termos licenciamentos nas câmaras que duram dois anos. Isso é que são problemas, temos de dar a volta a isso. É preciso fazer o PRR até 2026, estamos em 2022, se esperamos dois anos pelos licenciamentos quando é que se fazem as casas? Esses problemas administrativos são mais complicados. O Governo se tiver os departamentos a funcionar em condições não há razão para as coisas não avançarem.

Acresce o problema da falta de matérias-primas…
A inovação serve para resolver problemas. Na construção podemos ter alguns problemas em algumas matérias, mas não na base. Estive com o presidente da Associação das Janelas, que me disse que todo o vidro vem da Alemanha. Deixámos de ter fábricas de vidro em Portugal. Isso está relacionado com um problema global que está muito longe de ser resolvido e que está relacionado com a reindustrialização da Europa. Passámos as nossas indústrias todas para a Ásia e agora percebemos que quando eles fecham a torneira ficamos aflitos. Faz algum sentido Portugal não ter uma fábrica de vidros?

E como vê a alteração às Ordens?
Temos de falar com o próximo Governo, seja ele qual for, porque o documento que surgiu tem muitas coisas que nem se aplicam à Ordem dos Engenheiros. O problema que se põe é a criação de um órgão de supervisão controlado pelo Governo. Esse órgão até pode ser criado, mas não tem lógica a sua existência porque o papel da Ordem é ajudar, não é travar o desenvolvimento, não é criticar. Até podemos estar todos sentados à mesma mesa e o Governo dizer ‘vocês têm boas ideias, mas não tenho dinheiro’, mas é esta a relação que deve existir. A Ordem deve ser pensada para ajudar os Governos. Claro que depois também temos que defender os interesses dos nossos associados. As Ordens nunca são decisores, mas podem ser considerados parceiros na evolução do país. A Ordem existe para ajudar ao desenvolvimento do país.