Frederico Falcão. “Temos tido um crescimento fantástico, valores que Portugal nunca atingiu”

Frederico Falcão. “Temos tido um crescimento fantástico, valores que Portugal nunca atingiu”


Os vinhos portugueses têm ido cada vez mais longe. O crescimento das exportações foi grande em 2020 e 2021 vai pelo mesmo caminho. O retrato é feito ao i pelo presidente da Vini Portugal. 


Ao contrário do que tem acontecido com outros países europeus, Portugal tem dado cartas na produção e exportação de vinho, alcançando números históricos. Frederico Falcão, presidente da ViniPortugal, assume que 2020 foi um ano excelente, apesar da pandemia. 2021 vai pelo mesmo caminho e os objetivos traçados para o final de 2023 serão alcançados até um pouco antes.

Um setor em expansão mas que não deixa de ser afetado pelos problemas mundiais, como a falta de mão de obra ou as dificuldades de transporte. Ainda assim, o principal objetivo está sempre em cima da mesa: levar o nome de Portugal o mais longe possível. 

Que balanço faz destes 25 anos de ViniPortugal?

O setor organizou-se há cerca de 25 anos para criar a ViniPortugal, que é a associação interprofissional do vinho que, de certa maneira, representa todos os vinhos de Portugal e tem como missão a promoção genérica da marca Portugal e a valorização dos vinhos portugueses.

Podemos afirmar que a criação da Vini Portugal e o trabalho que tem vindo a fazer tem sido verdadeiramente essencial e preponderante no crescimento nas exportações dos vinhos portugueses e naquilo que é hoje o reconhecimento internacional da marca vinhos de Portugal.

Desde que foi criada houve uma subida muito grande das nossas exportações e, hoje, a marca ‘vinhos de Portugal’ tem reconhecimento lá fora. Isso deve-se, no fundo, à organização do setor, a ter percebido esta necessidade e ter conseguido criar a ViniPortugal e o trabalho que temos vindo a fazer. Obviamente não sozinhos, obviamente em conjunto com o setor, com os produtores e até com as entidades certificadoras. Temos conseguido dominar e fazer subir as nossas exportações ano após ano.

A ViniPortugal está em quatro continentes. Que feedback nos chega?

Atua, hoje em dia, em 21 mercados, com Portugal incluído. Portanto, são 20 mercados nos quatro continentes. Os vinhos portugueses são vinhos que já têm reconhecimento por parte sobretudo dos líderes de opinião. Falamos em jornalistas e líderes de opinião do setor dos vinhos nestes mercados onde estamos a trabalhar.

Aí já temos um reconhecimento muito grande. Todos olham para os vinhos portugueses com grande reconhecimento e prestígio, fruto do trabalho que temos estado a fazer. A dificuldade é chegar aos milhões e milhões de consumidores por este mundo fora.

Nestes 20 mercados que estamos a trabalhar – e temos andado a estudar esses mercados e sinalizámos os últimos cinco, seis anos – Portugal é quase sempre líder de crescimento. Se não é líder de crescimento é número 2 ou número 3. Nesses mercados, de facto, temos estado a crescer a um ritmo maior que os nossos concorrentes. Isto mostra um pouco que estamos a conseguir chegar – devagar, é verdade – aos consumidores, que começam a dar preferência aos vinhos portugueses em relação aos nossos concorrentes no mercado mundial.

Quais são os principais mercados?

O nosso principal mercado em exportação é França. Seguida dos Estados Unidos, Canadá e Brasil. Esses são os nossos maiores mercados, atualmente, em vinhos. Embora façamos em França um investimento muito baixo. Os investimentos maiores que fazemos são nos Estados Unidos, no Canadá, no Brasil e na China. Digamos que estes quatro são países que nós consideramos um pouco mais estratégicos e para onde canalizamos a maior parte das verbas do investimento.

Temos alguns países onde fazemos investimentos que, para nós, ainda são pequenos mas que achamos que ainda têm muito potencial de investimento. Dou como exemplo o México, a Ucrânia e a Coreia do Sul. São mercados onde acreditamos que vamos conseguir crescer muito, embora ainda tenham uma pequenina cota de mercado das nossas prestações.

Vamos conseguindo apostar em mercados onde estamos com muita força, onde temos um crescimento grande e para onde temos muitas exportações e conjugamos com mercados que ainda são pequenos para nós mas que acreditamos que têm muito potencial para crescer e para serem muito importantes no futuro para os vinhos portugueses. 

No ano passado, Portugal registou 856 milhões de euros na exportação de vinho. Mesmo num ano pandémico, foi um bom valor para o país?

Foi um excelente valor para nós porque Portugal cresceu, nos últimos 10 anos, a uma média de 3,3% ao ano. 2020 foi um ano de retração do comércio mundial de vinhos. Foi um ano em que houve menos comércio mundial de vinhos. E, nesse ano, nós acabámos por crescer a 4,5%.

Portanto, crescemos até a um ritmo superior ao que temos vindo a crescer anteriormente. Só houve dois países no mundo – dos países produtores de vinho – a conseguir aumentar as suas exportações em volume e em valor. E Portugal foi um deles. É mais um sinal do reconhecimento que os vinhos portugueses vão tendo lá fora. Foi um ótimo valor atingir os 856 milhões de euros. 

Só no mês de agosto, as exportações do vinho cresceram 13%, muito acima dos 6% que esperavam. 

Correto.
É um sinal de recuperação.

Certo. Até agosto tínhamos atingido o valor mais alto – comparando de janeiro a agosto – dos últimos 10 anos. Foi o valor mais alto que atingimos, perto dos 13%. Este ano, até agosto, tivemos um crescimento de 13%. E, até setembro – neste momento já temos esses valores – estamos com um crescimento próximo dos 12% em valor face ao mesmo período do ano passado, de janeiro a setembro.

Bons valores. Que perspetivas tem para este ano?

Neste momento estimo um crescimento um pouco mais baixo. Estimo que este ano vamos acabar próximo de 10% acima do ano passado, o que seria um crescimento fantástico. São valores que Portugal nunca atingiu, nunca atingimos estas percentagens de crescimento que estamos a conseguir este ano. São de facto números inéditos porque os nossos crescimentos são sempre muito mais tímidos do que têm sido este ano.

É também um sinal da boa produção que por cá se faz?

É sinal da qualidade dos nossos produtos e do bom trabalho de marketing que temos estado a fazer em termos internacionais.

Qual é o peso total das exportações de vinho?

Creio que o vinho representa 2,4% das nossas exportações. O que é bom. Mas sobretudo, para além dos 2,4%, que já tem algum peso, mais do que isto é que quando exportamos outros produtos – e não quero estar aqui a rotular os outros produtos ou a denegrir a imagem deles – mas muito daquilo que nós exportamos não leva a marca Portugal. As garrafas de vinho levam a marca Portugal escrita no rótulo.

Cada garrafa de vinho, no fundo, está a ajudar a afirmar Portugal no mundo, o que não acontece com a maior parte dos produtos agrícolas, que são indiferenciados e com muitos outros produtos que são exportados que não levam a marca Portugal escrita. Cada garrafa de vinho leva o nome de Portugal mais longe.

Durante a pandemia os portugueses bebiam mais vinho em casa. Foi uma ajuda?

Sim e não. De facto, o consumo dos portugueses terá aumentado. Temos alguns estudos mas não os quero tomar muito como certos. Mas a perceção que temos – porque não temos números muito fiáveis sobre isto – é que os portugueses claramente consumiram mais vinhos durante a pandemia. Tivemos um aumento de vendas nas grandes superfícies, nos supermercados e hipermercados. Aí houve um aumento de vendas. E deduzimos que tivessem sido os portugueses a comprar. Mas tivemos uma grande quebra…

Nos restaurantes…

Sim, os restaurantes estavam fechados, não tínhamos turismo. Foi um ano 2020 e ainda uma parte de 2021 em que não houve turismo. O que sabemos é que o consumo total em Portugal caiu. Os portugueses consumiram mais mas houve uma falta da outra fatia grande que foram os turistas que não vieram cá e, portanto, não houve consumo de vinho dessa fatia. O consumo total de vinho em 2020 em Portugal baixou, ainda que nós, per capita, sejamos os maiores consumidores de vinho do mundo. E continuámos a sê-lo em 2020, ainda que com uma diminuição de consumo per capita porque houve muito menos visitantes em Portugal.

A pandemia acabou por prejudicar também este setor.

A pandemia afetou negativamente o nosso setor no mercado nacional. Se pensarmos nos produtores de vinhos, os maiores, os grandes produtores de vinhos, que exportam muito – até mais de metade daquilo que produzem e, quando exportam para outros países, também exportam para grandes cadeias de supermercados –, esses não sofreram muito com a pandemia, sofreram pouco. E alguns até aumentaram vendas.

Quem sofreu muito foi aquela faixa dos pequenos produtores e engarrafadores que viviam muito da restauração nacional e que, mesmo quando exportavam, exportavam para restaurantes ou pequenas lojas. Essa faixa, que é o grosso do setor dos vinhos, sofreu com a pandemia. Houve muita quebra de vendas. Passaram – e alguns ainda estão a passar – dificuldades.

Houve, digamos assim, duas dificuldades no setor. Houve um grupo de empresas que aumentou muito e houve outro grupo de empresas de maior dimensão – não em termos de número mas menos visível em termos de grandes números – que sofreram muito porque, de repente, viram o seu mercado principal – o mercado da porta ou da restauração – a fechar durante o ano 2020.

Chegou a dizer que durante a pandemia podia assistir-se ao abandono das vinhas. Isso aconteceu?

Creio que abandono de vinhas não houve. O que temos estado a assistir muito é a empresas a mudarem de mãos. Ou seja, muita compra e venda de empresas. Há muitas à venda. Mas não estão a ser abandonadas, pelo menos não conseguimos detetar casos desses. Aquilo que está a haver são muitos produtores a abandonar a atividade e a vender as suas empresas a outros. Isso está a acontecer muito, mesmo muito.

Pode prejudicar a tendência de crescimento que temos vindo a assistir?

Não. O que está a haver é que em vez de ser um setor muito atomizado com muitas empresas e muitas pequenas empresas, estão a criar-se grupos maiores em termos de vinho. O que não é totalmente negativo. O maior risco era que houvesse muito abandono da atividade, de vinhas e adegas a fechar. E isso felizmente não tem acontecido. 

Os produtores fazem chegar muitas preocupações? Os apoios ao setor são suficientes?

O setor dos vinhos não tem tido muito queixume em relação àquilo que são os apoios públicos. Mesmo nesta parte da promoção, os apoios que temos são essencialmente um envelope financeiro europeu, não é nacional. E o envelope nacional é dinheiro do próprio setor. Ou seja, nós não temos orçamento do Estado a contribuir para a promoção dos vinhos portugueses. O setor não tem grandes problemas, não tem sentido grandes dificuldades em termos legislativos ou de apoio.

Quando foi a situação pandémica houve, de facto, alguns apoios que foram os possíveis em termos europeus. Aquilo que era possível fazer foi aplicado em Portugal. Nesse aspeto, a grande preocupação é sempre que haja um aumento de carga fiscal – o que não tem acontecido – para o setor dos vinhos. Essa preocupação temos sempre e, de facto, não se tem agravado a carga fiscal sobre os vinhos. O setor tem feito o seu caminho dentro das limitações que tem e daquilo que é possível mas não temos tido a vida dificultada pelos vários governos ao longo dos últimos anos.

Nesta altura em que se fala da falta de mão de obra, problemas de transporte, aumento de preços… onde fica o setor do vinho?

Neste momento temos um problema estrutural no país que é um problema de falta de mão de obra, sobretudo em algumas regiões, que têm muita falta de mão de obra nos períodos mais críticos, como é o caso do período da colheita, da vindima. Aqui temos um problema estrutural da falta de mão de obra que se está a agravar em algumas regiões, um bocadinho mais do interior. Têm que ser encontradas soluções e, claramente, ir buscar mão de obra fora.

Trazer mão de obra de fora nestas épocas torna-se cada vez mais essencial. Mas é um problema que nós temos, estrutural, e que vai continuar a agravar-se. Sobre as exportações, de facto, apesar de estarmos com crescimento de quase 12% até setembro, há enormes problemas de falta de contentores e com os custos de transporte muito agravados. Esses custos e a falta de contentores têm feito com que muitos não consigam exportar ou, pelo menos, não conseguissem exportar quando queriam.

Às vezes têm que esperar dois e três meses para ter contentores disponíveis para exportar. Apesar disso, estamos com crescimento de quase 12%, o que é bom. E com crescimento do preço médio. Se não tivéssemos estes problemas com contentores, as nossas exportações até estariam muito acima do que estão mas esse é um problema que não temos forma nenhuma de controlar.

A falta de contentores no mercado e os custos de transporte, fruto também do aumento de combustíveis, são coisas que não conseguimos controlar. Afeta-nos negativamente mas, apesar disso, o setor está a crescer em exportações e em interesse médio.

Segundo dados da Organização Internacional da Vinha e do Vinho, está a ser um mau ano para o continente europeu. Mas Portugal está em sentido contrário.

Está. Portugal passou um pouco à margem disso. Em termos climatéricos, a maior parte dos nossos concorrentes – e falamos dos três grandes: Espanha, França e Itália – vão ter alguma quebra grande de produção. Portugal esperava um aumento de 1%. Ainda não há números oficiais mas deduzimos que o aumento até vai ser um pouco superior a 1%. Mas aqui temos andado, nos últimos anos, um bocadinho em contraciclo dos três grandes.

Quando eles sobem, nós descemos, quando eles descem, nós subimos. Isto está tudo muito dependente do clima e, sobretudo, dos extremos climáticos. Falo de excesso de chuva ou de granizo e problemas com doenças que estão relacionadas com chuva e humidade. Temos andado um bocadinho em contraciclo mas, de alguma forma, temos um ligeiro aumento de produção este ano. É positivo porque vai ser um ano em que vai haver muito menos produção de vinho, sobretudo aqui na Europa. É vantajoso que nós tenhamos um pouco mais porque isso fará com que não haja muita baixa de preço.

Quando estes países produzem em excesso pode haver um excesso de vinho no mercado e há uma tendência de os vinhos virem para baixo. Havendo menos produção nesses países, tal, deduzo, não irá acontecer. E isso é positivo para nós.

É um pouco aproveitar a desgraça dos outros…

É um bocadinho… Eles, coitados, vão ter menos produção mas para nós é bom, é positivo. Se houver um excesso de produção nestes países, a tendência é que o preço dos vinhos venha para baixo, o que é, naturalmente, negativo. O negócio depois corre o risco de não se tornar sustentável em termos económicos. 

Fala-se muito nos novos produtores de vinho, Argentina, Califórnia… Portugal sente a concorrência?

Sentimos claramente a concorrência. Vou dar um exemplo claro: no Brasil, Portugal hoje em dia é o número dois em termos de mercado. O primeiro é o Chile e depois estão os vinhos portugueses e só depois é que está a Argentina. O que está a acontecer em 2021 é que a Argentina está a crescer até mais do que nós. Não sabemos ainda mas há um sério risco de a Argentina nos ultrapassar e em vez de sermos o número 2 no mercado passarmos a ser o número 3. Mais uma vez: muito vinho leva a baixa de preços. É uma guerra comercial, se me permite o termo.

A Argentina está, neste momento, até a conseguir crescer um pouco mais rápido que nós e é possível que terminemos o ano em número 3 e que sejamos ultrapassados pela Argentina. E nós ultrapassámos a Argentina em 2016. Quando há muito vinho e há falta de outros mercados, muitas vezes, esses países ou os produtores desses países baixam os preços e muitas vezes entram de uma forma mais agressiva nos mercados. Naturalmente que isso nos traz problemas concorrenciais. E em termos de quotas de mercado arriscamos a perder um pouco de quota.

Não é o caso do Brasil, onde estamos a crescer em quota de mercado, mas a Argentina está a crescer um pouco mais até que nós. Essa concorrência mundial existe. O Brasil ainda tem alguma ligação afetiva com Portugal mas quando vamos a um país como a China, em que a ligação afetiva é pouca, naturalmente os nossos vinhos vão estar no mercado em concorrência direta com os do Chile, da Argentina, da África do Sul, Nova Zelândia, Austrália, entre outros. Os vinhos estão todos em concorrência direta e não havendo uma ligação emocional dos consumidores com determinado país, é tudo uma questão de imagem, preço, qualidade… é uma guerra comercial que temos que fazer.

Portugal tem vinhos diferentes dos outros porque temos as nossas castas, os nossos terroirs que são completamente diferentes de todos os outros. Temos muito boa relação de qualidade nos vinhos, temos vindo a fazer uma boa campanha de marketing, o que tem feito com que nós, apesar de sermos um pequeno país desconhecido no mundo, tenhamos conseguido afirmação, até mais que os outros.

Acaba por ser uma questão de gosto por parte do consumidor…

Claro, é sempre uma questão de gosto do consumidor. Mas o que acontece em muitos países, sobretudo nos países mais maduros, no consumo, como por exemplo o Canadá, EUA ou mercados nórdicos da Europa, as pessoas começam-se a cansar um bocadinho daqueles vinhos que são quase todos iguais e que têm por base o cabernet sauvignon ou chardonnay.

Os consumidores começam a querer coisas diferentes, produtos com muita qualidade mas diferentes. Com sabores diferentes, aromas diferentes… E aí Portugal tem muito para oferecer porque somos, de facto, um mundo de diversidade em termos de climas. Fazer um vinho na região de vinhos verdes não tem nada a ver com fazer um vinho do Douro. E são regiões que estão ao lado uma da outra. Isto não se passa nos outros países. As castas são diferentes, tudo é diferente.

É essa diversidade que Portugal tem para oferecer ao mundo e que faz com que muitos consumidores se comecem a desviar mais para vinhos portugueses. Procuram novas sensações, novos sabores, novos aromas. Isso tem feito com que consigamos crescer mais que os outros. 

Existia o problema da rolha de cortiça, por causa do sabor. É um problema ultrapassado?

Somos um setor que gosta muito de rolhas de cortiça que sejam mais discretas possível, que tenham o maior low profile possível. De facto, há um problema na cortiça que tem vindo a ser amenizado. É cada vez menos comum mas continua a existir.

O setor corticeiro sabe deste problema naturalmente, e tem essa preocupação de tentar acabar ou pelo menos tornar o gosto da rolha o menor possível e, de facto, há essa tendência de cada vez haver menos problemas. Mas continuam a existir e é muito desagradável para qualquer consumidor abrir uma garrafa de vinho – às vezes até vinhos caros – e aquilo cheirar a cloro, a rolha, é desagradável.

Esperamos que tão breve quanto possível consiga o setor de cortiça exterminar este problema para que qualquer consumidor no mundo, quando abrir uma garrafa de vinho, com uma boa rolha portuguesa, não ser saudado com uma rolha com uma personalidade forte demais. 

Como veem a concorrência por parte de outro tipo de bebidas?

Estamos completamente seguros no nosso mercado. O setor dos vinhos não é vender álcool, é vender um produto que está associado a um estilo de vida mais saudável, à gastronomia, à refeição e é um produto muito complexo. Não há dois vinhos iguais, os vinhos são todos diferentes. É uma bebida um pouco diferente das outras. Nada contra os destilados, nada contra a cerveja.

Todos têm o seu momento, todos têm o seu caminho a fazer. Acho que nada é comparável entre si. Não olhamos para a cerveja ou para os destilados como concorrência. Uns para uns momentos, outros para outros. Para nós não são concorrenciais, não é assim que olhamos para eles.

O que falta conquistar a este setor?

Temos o objetivo de atingir os mil milhões em 2023. Com os crescimentos que tivemos no ano passado e com o crescimento que estamos a ter este ano, vamos atingir esse objetivo um bocadinho mais cedo ainda: durante o ano 2023 e não no final.

Esse objetivo vai estar conquistado relativamente próximo e nós, setor, vamos ter que, em 2022, estabelecer novos objetivos para além de 2023. Mas aquele que era o nosso objetivo dos mil milhões, seguramente irá ser atingido e até antes do tempo. Obviamente que queremos ter muito mais reconhecimento internacional. Porquê? Não nos interessa só vender mais, não interessa estabelecer um objetivo dos mil milhões ou 1,5 mil milhões. Não é só isso.

Temos que conseguir vender melhor, temos que conseguir aumentar o preço médio e tornar o nosso setor mais sustentável economicamente. Claramente temos que aumentar o nosso reconhecimento para que qualquer consumidor fora de Portugal esteja disposto a pagar mais por vinho português porque reconhece nele qualidade. Temos que passar de uns ilustres desconhecidos para a maioria dos consumidores ainda.

Estamos nos líderes de opinião mas temos que estar também no regular consumidor. Temos que deixar de ser desconhecidos para sermos olhados como um país de prestígio e um país de grande qualidade de vinhos para conseguirmos com isso elevar o perfil de vinhos que exportamos.