Sudão: Forças de segurança prenderam três ativistas pró-democracia

Sudão: Forças de segurança prenderam três ativistas pró-democracia


As detenções realizadas esta noite na capital do país, Cartum, ocorreram algumas horas depois de os militares terem permitido que o primeiro-ministro deposto, Abdalla Hamdok, e a sua esposa regressassem a casa, após terem sido detidos.


As forças de segurança do Sudão prenderam hoje três importantes figuras pró-democracia no país, num momento em que a pressão internacional sobre os militares cresce devido ao golpe de Estado de segunda-feira.

 

As detenções realizadas esta noite na capital do país, Cartum, ocorreram algumas horas depois de os militares terem permitido que o primeiro-ministro deposto, Abdalla Hamdok, e a sua esposa regressassem a casa, após terem sido detidos.

Abdalla Hamdok, um antigo economista da ONU, foi detido juntamente com muitos responsáveis do Governo e figuras políticas quando os militares tomaram o poder na segunda-feira.

Os ativistas presos durante a noite são Ismail al-Taj, um líder da Associação de Profissionais Sudaneses, o grupo que esteve na vanguarda dos protestos que conduziram à queda de al-Bashir; Sediq al-Sadiq al-Mahdi, um dos líderes do maior partido político do Sudão e irmão do ministro dos Negócios Estrangeiros, Mariam al-Mahdi; e Khalid al-Silaik, um antigo conselheiro mediático do primeiro-ministro.

Segundo a mulher de Al-Silaik, Marwa Kamel, também foram levados os ativistas Nazim Siraj e Nazik Awad.

Marwa Kamel disse que al-Silaik foi detido momentos depois de ter dado uma entrevista à televisão Al-Jazeera, sediada no Qatar, criticou a tomada do poder pelos militares, e considerou Hamdok e o seu Governo a administração legítima do Sudão.

"O que o General Burhan fez foi um golpe de Estado completo … As pessoas vão responder a isto nos próximos dias", afirmou al-Silaik.

Os três ativistas detidos têm sido críticos constantes da tomada do poder pelos militares.

A tomada do poder pelas forças armadas ameaça travar a transição para a democracia no Sudão, que se iniciou após a expulsão, em 2019, do governante de longa data Omar al-Bashir e do seu Governo islâmico, na sequência de uma revolta popular.

O novo homem forte do poder no país, o general Abdel-Fattah al-Burhan, comprometeu-se a realizar eleições, como previsto, em julho de 2023, e a nomear, entretanto, um Governo composto por civis. Mas os críticos duvidam que os militares estejam seriamente empenhados em ceder eventualmente o controlo a um governo civil.

O golpe surgiu poucas semanas antes da altura em que era suposto Al-Burhan entregar a liderança do principal órgão de poder de transição, o Conselho Soberano, a um civil.

Dezenas de milhares de sudaneses tomaram as ruas nos últimos dois dias para apelar ao regresso do governo Hamdok. As forças de segurança em confrontos com os manifestantes mataram pelo menos quatro pessoas e feriram mais de 140 nos últimos dois dias.

Na segunda-feira, Burhan, o chefe do exército, dissolveu o Conselho Soberano e o governo de transição, e declarou o estado de emergência, alegando que os militares foram forçados a intervir para impedir o país de deslizar para a guerra civil.

A tomada de posse ocorreu após semanas de tensões crescentes entre líderes militares e civis ao longo do curso e ritmo da transição do Sudão para a democracia.

Entretanto, os voos de e para o aeroporto de Cartum devem recomeçar às 14:00 TMG de hoje, disse o diretor da aviação civil, Ibrahim Adlane, um dia após o golpe militar no Sudão.

O mesmo responsável tinha dito na véspera que os voos tinham sido suspensos "até 30 de outubro", mas hoje não explicou a antecipação.

"O aeroporto de Cartum retomará as suas atividades na quarta-feira [hoje] a partir das 16:00 locais (14:00 TMG)", afirmou Adlane à agência de notícias francesa AFP.

O aeroporto está localizado no centro de Cartum, onde os manifestantes bloquearam várias estradas com pedras e pneus queimados, e separado apenas por uma vedação das principais avenidas da capital sudanesa.

Hoje, pelo terceiro dia consecutivo, os manifestantes continuam nas ruas de Cartum para protestar contra o golpe e contra a detenção de altos dirigentes civis.