CDS – que futuro?


“Só Paulo Portas poderá ‘salvar’ o CDS”


O CDS marcou, para o próximo mês de novembro, as suas eleições internas, numa altura em que vive, talvez, a maior encruzilhada da sua história. Ou o CDS se reabilita e consegue manter a sua influência na sociedade portuguesa, ou declina e corre o risco de se desagregar e a democracia fica mais pobre.

Desde a constituição enquanto partido político, que o CDS tem assento parlamentar na Assembleia da República e participou, ao longo dos últimos 47 anos de Democracia, em sete dos vinte e um governos constitucionais, correndo o risco de não eleger nenhum deputado nas legislativas de 2023.

Para que todos possamos perceber os motivos da situação de fragilidade que o CDS tem vindo a atravessar, temos de recuar à sua fundação, pois, foi aí que se deu o que podemos chamar de “pecado original” – um partido com um programa de centro e um eleitorado que não era predominantemente de centro.

A conjuntura política e militar do pós-25 de abril impediu a legalização dos partidos que se afirmassem como partidos de direita, ficando assim impedidos de concorrer às eleições para a Constituinte, em 1975, o que levou o CDS, de Diogo Freitas do Amaral e Adelino Amaro da Costa, a ser o partido político mais à direita do sistema partidário recém-formado, mesmo que os principais dirigentes e o seu programa político fossem de centro.

Este impedimento, à constituição de partidos de direita, desequilibrou o sistema partidário, na medida em que as forças políticas que se conseguiram constituir eram predominantemente de esquerda ou, não sendo de esquerda, tinham uma matriz socializante, que era o caso do PPD/PSD.

Aquando da sua constituição, o CDS pretendeu ocupar um lugar, bem ao centro do sistema político, mas isso não passou de uma aspiração, porque este já se encontrava ocupado. Por um lado, tínhamos o Partido Socialista, ao centro-esquerda e, por outro, o PPD/PSD, ao centro-direita – o que tornava impossível o posicionamento do CDS ao centro.

O facto de não ter conseguido impor a sua vontade como um partido de centro e ser o partido mais à direita em Portugal, foi mais um constrangimento para o CDS porque a sua génese e a sua base social de apoio não eram coincidentes. Para além dos centristas católicos de inspiração giscardiana (os verdadeiros centristas, o eleitorado mais fiel ao CDS), congregou parte do eleitorado liberal, bem como toda a direita radical que ficou órfã de representação e se juntou ao CDS.

Nos últimos cinco anos, surgem dois novos partidos no espetro político, à direita, a Iniciativa Liberal (2016) e o CHEGA (2019), que retiraram uma fatia significativa do eleitorado do CDS. Este eleitorado é aquele que é menos fiel à matriz democrata-cristã, mas mantinha-se no CDS, porque não havia alternativas à direita que o representasse.

Depois desta reorganização à direita, o que vale hoje o CDS? Os mais recentes estudos de opinião, apontam para um resultado do CDS entre 1,5% e 2%. A verificar-se, será o pior resultado de sempre do partido, acreditando que, no máximo, poderá igualar o resultado de 1991, onde obteve a pior votação até à data, fruto da agregação à direita existente à época, onde, talvez, o CDS tenha sido fortemente penalizado pelo voto útil – estávamos em pleno cavaquismo.

Com um cenário pouco animador no horizonte, a luta interna do CDS disputa-se entre Francisco Rodrigues dos Santos, atual líder do CDS e Nuno Melo. Nas eleições do próximo mês, no entanto, nenhum dos dois se perfila com capacidade de agregar o partido e de recuperar o seu eleitorado.

Não acreditando em sebastianismos, só Paulo Portas poderá “salvar” o CDS. Porém, o antigo líder parece não estar disponível para voltar a ser líder partidário, sendo apontado como um dos possíveis candidatos da direita, nas próximas eleições presidenciais, em 2026.

 

Sónia Leal Martins

Politóloga

 

 

 

 

 

 

 

 

CDS – que futuro?


"Só Paulo Portas poderá 'salvar' o CDS"


O CDS marcou, para o próximo mês de novembro, as suas eleições internas, numa altura em que vive, talvez, a maior encruzilhada da sua história. Ou o CDS se reabilita e consegue manter a sua influência na sociedade portuguesa, ou declina e corre o risco de se desagregar e a democracia fica mais pobre.

Desde a constituição enquanto partido político, que o CDS tem assento parlamentar na Assembleia da República e participou, ao longo dos últimos 47 anos de Democracia, em sete dos vinte e um governos constitucionais, correndo o risco de não eleger nenhum deputado nas legislativas de 2023.

Para que todos possamos perceber os motivos da situação de fragilidade que o CDS tem vindo a atravessar, temos de recuar à sua fundação, pois, foi aí que se deu o que podemos chamar de “pecado original” – um partido com um programa de centro e um eleitorado que não era predominantemente de centro.

A conjuntura política e militar do pós-25 de abril impediu a legalização dos partidos que se afirmassem como partidos de direita, ficando assim impedidos de concorrer às eleições para a Constituinte, em 1975, o que levou o CDS, de Diogo Freitas do Amaral e Adelino Amaro da Costa, a ser o partido político mais à direita do sistema partidário recém-formado, mesmo que os principais dirigentes e o seu programa político fossem de centro.

Este impedimento, à constituição de partidos de direita, desequilibrou o sistema partidário, na medida em que as forças políticas que se conseguiram constituir eram predominantemente de esquerda ou, não sendo de esquerda, tinham uma matriz socializante, que era o caso do PPD/PSD.

Aquando da sua constituição, o CDS pretendeu ocupar um lugar, bem ao centro do sistema político, mas isso não passou de uma aspiração, porque este já se encontrava ocupado. Por um lado, tínhamos o Partido Socialista, ao centro-esquerda e, por outro, o PPD/PSD, ao centro-direita – o que tornava impossível o posicionamento do CDS ao centro.

O facto de não ter conseguido impor a sua vontade como um partido de centro e ser o partido mais à direita em Portugal, foi mais um constrangimento para o CDS porque a sua génese e a sua base social de apoio não eram coincidentes. Para além dos centristas católicos de inspiração giscardiana (os verdadeiros centristas, o eleitorado mais fiel ao CDS), congregou parte do eleitorado liberal, bem como toda a direita radical que ficou órfã de representação e se juntou ao CDS.

Nos últimos cinco anos, surgem dois novos partidos no espetro político, à direita, a Iniciativa Liberal (2016) e o CHEGA (2019), que retiraram uma fatia significativa do eleitorado do CDS. Este eleitorado é aquele que é menos fiel à matriz democrata-cristã, mas mantinha-se no CDS, porque não havia alternativas à direita que o representasse.

Depois desta reorganização à direita, o que vale hoje o CDS? Os mais recentes estudos de opinião, apontam para um resultado do CDS entre 1,5% e 2%. A verificar-se, será o pior resultado de sempre do partido, acreditando que, no máximo, poderá igualar o resultado de 1991, onde obteve a pior votação até à data, fruto da agregação à direita existente à época, onde, talvez, o CDS tenha sido fortemente penalizado pelo voto útil – estávamos em pleno cavaquismo.

Com um cenário pouco animador no horizonte, a luta interna do CDS disputa-se entre Francisco Rodrigues dos Santos, atual líder do CDS e Nuno Melo. Nas eleições do próximo mês, no entanto, nenhum dos dois se perfila com capacidade de agregar o partido e de recuperar o seu eleitorado.

Não acreditando em sebastianismos, só Paulo Portas poderá “salvar” o CDS. Porém, o antigo líder parece não estar disponível para voltar a ser líder partidário, sendo apontado como um dos possíveis candidatos da direita, nas próximas eleições presidenciais, em 2026.

 

Sónia Leal Martins

Politóloga