“Não há coisa como o caldo. Tudo mais é vício e gula”


Talvez por isso, quando ouço falar em proibições draconianas, em diabolizações das bebidas alcoólicas ou coisas do género, fico de pé atrás. Que história é essa agora de banirem os bolos e os salgados das escolas públicas?


Toda a gente sabe que Hitler era vegetariano, não tocava em álcool e abominava o fumo dos cigarros. Aqueles (como a sua infeliz companheira Eva Braun ou o infame Joseph Goebbels) que mantinham esse hábito nocivo para a saúde eram obrigados a afastar-se do führer sempre que queriam acender um cigarro – o que, nos últimos dias do Terceiro Reich, implicava sair do bunker para a praça da chancelaria coberta de cinzas e de escombros.

Talvez por isso, quando ouço falar em proibições draconianas, em diabolizações das bebidas alcoólicas ou coisas do género, fico de pé atrás. Que história é essa agora de banirem os bolos e os salgados das escolas públicas?
Não sei como será noutros países, mas em Portugal vemos certas leis emanarem de cima para baixo, de um grupo de iluminados para o povinho irresponsável e pouco esclarecido.

Terá passado pela cabeça de alguém perguntar às crianças o que achavam da proibição ou da comida das cantinas?
É que os senhores que mandam nisto tudo devem ter-se decidido pelo fim dos salgados e dos bolos nas escolas enquanto estavam bem instalados à mesa do Café de São Bento, do XL, ou dum desses bons restaurantes que há ali para as bandas da Assembleia. Entre duas garfadas de um suculento bife ou, quem sabe, já na hora da sobremesa, enquanto se alambazavam com uma mousse de chocolate ou com um chazinho de 12 anos…

Lembrei-me, a este propósito, de um clássico da literatura espanhola do século XVII, O Buscão, de Francisco de Quevedo. O protagonista, escudeiro de um jovem aristocrata, vai parar a uma escola em que os amos comem as melhores partes da carne, deixando e pele e os ossos para os outros. Entretanto, o mestre, de barriga cheia, vai dizendo: “Não há coisa como o caldo, digam o que disserem. Tudo o mais é vício e gula”; ou “Há nabo? Para mim não há perdiz que se lhe iguale”.

De volta às escolas portuguesas, muitas vezes os salgados, os pães com chouriço e os bolos eram uma alternativa à comida pouco recomendável da cantina. Tirar isso às crianças pode ser condená-las à fome. A menos que seja mesmo essa a ideia… Vendo bem, também é uma maneira de combater a obesidade.

“Não há coisa como o caldo. Tudo mais é vício e gula”


Talvez por isso, quando ouço falar em proibições draconianas, em diabolizações das bebidas alcoólicas ou coisas do género, fico de pé atrás. Que história é essa agora de banirem os bolos e os salgados das escolas públicas?


Toda a gente sabe que Hitler era vegetariano, não tocava em álcool e abominava o fumo dos cigarros. Aqueles (como a sua infeliz companheira Eva Braun ou o infame Joseph Goebbels) que mantinham esse hábito nocivo para a saúde eram obrigados a afastar-se do führer sempre que queriam acender um cigarro – o que, nos últimos dias do Terceiro Reich, implicava sair do bunker para a praça da chancelaria coberta de cinzas e de escombros.

Talvez por isso, quando ouço falar em proibições draconianas, em diabolizações das bebidas alcoólicas ou coisas do género, fico de pé atrás. Que história é essa agora de banirem os bolos e os salgados das escolas públicas?
Não sei como será noutros países, mas em Portugal vemos certas leis emanarem de cima para baixo, de um grupo de iluminados para o povinho irresponsável e pouco esclarecido.

Terá passado pela cabeça de alguém perguntar às crianças o que achavam da proibição ou da comida das cantinas?
É que os senhores que mandam nisto tudo devem ter-se decidido pelo fim dos salgados e dos bolos nas escolas enquanto estavam bem instalados à mesa do Café de São Bento, do XL, ou dum desses bons restaurantes que há ali para as bandas da Assembleia. Entre duas garfadas de um suculento bife ou, quem sabe, já na hora da sobremesa, enquanto se alambazavam com uma mousse de chocolate ou com um chazinho de 12 anos…

Lembrei-me, a este propósito, de um clássico da literatura espanhola do século XVII, O Buscão, de Francisco de Quevedo. O protagonista, escudeiro de um jovem aristocrata, vai parar a uma escola em que os amos comem as melhores partes da carne, deixando e pele e os ossos para os outros. Entretanto, o mestre, de barriga cheia, vai dizendo: “Não há coisa como o caldo, digam o que disserem. Tudo o mais é vício e gula”; ou “Há nabo? Para mim não há perdiz que se lhe iguale”.

De volta às escolas portuguesas, muitas vezes os salgados, os pães com chouriço e os bolos eram uma alternativa à comida pouco recomendável da cantina. Tirar isso às crianças pode ser condená-las à fome. A menos que seja mesmo essa a ideia… Vendo bem, também é uma maneira de combater a obesidade.