Milhares de carros e motocicletas cruzaram hoje as principais avenidas de Banguecoque, capital da Tailândia, para protestar contra as medidas do governo do primeiro-ministro Prayut Chan-ocha para enfrentar a pandemia.
Segundo a agência espanhola, Efe, desde o meio-dia, veículos circulam pelas ruas da cidade buzinando durante uma manifestação que visa chegar à casa do governante, localizada numa base militar na zona norte da capital.
Embora o movimento antigovernamental seja liderado principalmente por grupos de jovens universitários que exigem a renúncia imediata do primeiro-ministro, outras plataformas diferentes ligadas à oposição política juntaram-se ao protesto.
Entre eles, os conhecidos como "camisas vermelhas" e seguidores do ex-primeiro-ministro no exílio Thaksin Shinawatra, figura política que até há alguns meses agregava simpatia e animosidade em partes similares, mas que com os protestos tem conseguido reabilitar a sua imagem.
A Tailândia preveniu com sucesso a propagação do vírus durante o primeiro ano da pandemia, mas desde abril a situação começou a deteriorar-se após um surto de covid-19 detetado em vários estabelecimentos noturnos em Banguecoque.
O país acumula 907.157 casos confirmados, dos quais mais de 95% foram detetados desde abril, e 7.551 óbitos, quase 99% nesta vaga.
Soma-se a esse agravar da situação de saúde a desorganizada campanha de vacinação contra o vírus, com inúmeras mensagens oficiais contraditórias e erros de comunicação do executivo.
A economia tailandesa, onde o turismo é um dos pilares, foi duramente atingida pelo encerramento das fronteiras, enquanto o governo se manteve impassível diante dos pedidos de ajuda económica para os setores mais afetados.
Para conter o surto atual, que regista cerca de 20 mil casos e cerca de 200 mortes por dia, as autoridades impuseram uma série de medidas, incluindo recolher obrigatório e proibição de reuniões públicas.
A polícia tentou dissolver outras manifestações organizadas ao longo desta semana, lançando bombas de gás lacrimogéneo e disparando balas de borracha, enquanto alguns dos participantes responderam atirando pedras.
Além da renúncia de Prayut, o general que liderou o golpe de estado de 2014 e venceu as polémicas eleições de 2019, alguns dos grupos reclamam uma profunda reforma democrática do país, que chegue à Casa Real, com fortes vínculos com o exército e um papel fundamental na política tailandesa.
As reivindicações para fazer mudanças na instituição monárquica quebraram um tabu histórico na sociedade tailandesa, onde o adorado Rei Bhumibol Adulyadej, falecido em 2016, era reverenciado como um ser quase divino.
No entanto, o seu filho e herdeiro, Vajiralongkorn, não construiu uma reputação impoluta e desde que foi nomeado monarca, continuou a adicionar escândalos, como viver no exterior por grande parte do ano, evitando os seus deveres como soberano ou restaurar o concubinato após casar-se pela terceira vez.
Segundo a lei, as críticas à Casa Real e seus membros são severamente punidas pelo Código Penal, que prevê até 15 anos de prisão para cada crime.