Primeiro uma “estória” verdadeira. Nos doze meses que se seguiram a março de 1984, uma generalizada greve dos mineiros do carvão do Reino Unido ameaçou colocar o Governo conservador de Margaret Thatcher de joelhos perante a decisão desta de fechar dezenas de minas (quase todas estatais) não rendáveis.
Em setembro de 1984 a greve foi considerada ilegal (por falta de votações no interior das estruturas sindicais) e a primeira-ministra convocou cientistas e académicos para analisar alternativas energéticas para o futuro que livrassem o país da sua dependência do carvão.
A maioria inclinou-se para a energia nuclear e uma minoria – sem descartar o nuclear – avançou com a ideia de passar em força para a opinião pública alguns resultados provisórios já disponíveis na Academia – desde os anos 1970 – que apontavam o CO2 (fruto, também, da queima do carvão) como causa fundamental das chuvas ácidas e pela ameaça de um “aquecimento global” provocado pelos gases de efeito de estufa e pela destruição da camada de ozono.
Esses resultados conduziram (também) ao fim da greve e ao extremar de duas novas ideias: o nuclear nunca seria seguro e o aquecimento global seria desastroso e apocalíptico a curto prazo, exigindo meios ilimitados para o aprofundamento da sua investigação.
Assim nasceu, de forma caricatural, o tsunami científico-mediático das Alterações Climáticas: em 1987 começou a luta (vencedora) contra os gases CFC destruidores da camada de ozono e, “ganha” esta batalha, os militantes avançaram para o combate aos outros gases de efeito de estufa (o COP2, o metano e o vapor de água… sim, o vapor de água é também um importante gás de efeito de estufa, embora a sua permanência na atmosfera tenha contornos bem menos preocupantes); em 1988 foi criado o IPCC; em 1992 – na Conferência do Rio – foi adotada a Convenção sobre as Alterações Climáticas e… os então órfãos do esquerdismo comunista e afins encontraram no mito religioso das Alterações Climáticas uma nova forma de luta contra o Capitalismo (criando de imediato uma nova Inquisição destinada a calar os hereges agora apelidados de “negacionistas”).
Tudo isto a propósito do facto de a recente publicação (no passado dia 9 de agosto) do último Relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) das Nações Unidas ter desencadeado uma ofensiva generalizada nos meios de comunicação (especialmente dos países ditos “desenvolvidos”) que, objetivamente, pretende conduzir a um verdadeiro “pânico climático”.
O relatório é, formalmente, o contributo do Working Group I deste Painel (eles são três, mais uma Task Force) para o 6º relatório do IPPC (AR6) que será apresentado na próxima reunião da ONU em Glasgow, em novembro.
Acontece que muito há a dizer e refletir sobre este tema das “Alterações Climáticas” (“antes” apenas designado por “Aquecimento Global”):
– Um relatório, de 1300 páginas, um sumário técnico de 150 páginas e um sumário para decisores políticos de 42 páginas, pelo entusiasmo e “profundidade” de todos os comentadores e tudólogos que logo ouvimos, parecia já terem sido integralmente “lidos e analisados” no dia seguinte (!) à sua divulgação!;
– O relatório – na parte que já li – apresenta dois macro cenários, causas e consequências (à luz do que a ciência consegue prever para um problema altamente complexo e multidisciplinar) que consistem (i) no crescimento net zero dos gases de efeito de estufa (GEE) e (ii) no crescimento muito baixo ou baixo dos GEE (de origem antrópica);
– O numerosíssimo grupo de estudiosos e académicos que desde 1988 (ano da criação do IPCC) vivem, estudam e investigam o tema das Alterações Climáticas tem-se limitado, praticamente, ao estudo do efeito dos GEE com origem na atividade humana e à especulação (com modelos matemáticos) das suas nefastas consequências;
– Quase todo o dinheiro internacional e nacionalmente (há décadas!) alocado à investigação dos temas climáticos destina-se a este (fechado mas numeroso) grupo de estudiosos, sendo público e notório que escasseia o dinheiro para investigar outras linhas, aparentemente tanto ou mais importantes, como seja a variabilidade da radiação solar.
Neste quadro de “certezas” dos “ativistas climáticos” (já é profissão e currículo) sem margem para contraditório sério, importa tentar perceber quem ganha com este “tsunami informativo” do apocalipse climático:
– Ganham os políticos com agendas esquerdistas de curto prazo que identificam o capitalismo como causa de todos os males;
– Ganham – perdendo – os políticos mais bem preparados mas incapazes de arriscar colocar reservas ao politicamente correto (a ponto de o secretário Geral das Nações Unidas, encantado com a jovem ativista Greta, ter afirmado que este relatório “deve soar como uma sentença de morte para o carvão e os combustíveis fósseis” e muitos outros terem gritado “nem mais um furo para prospetar petróleo e nem mais uma central elétrica a carvão ou fuel”);
– Ganham os ideólogos e ativistas de uma nova “religião climática” que, naturalmente, se “oferecem altruisticamente” para proibir – com novas ditaduras – as sociedades de se desenvolverem à luz da ciência e do mercado responsáveis;
– Ganham setores industriais sem escrúpulos (muitos estiveram na origem do problema que agora dizem querer resolver), aceitando ou promovendo soluções mirabolantes e milagrosas para resolver, até 2050, a substituição dos combustíveis fósseis (e das matérias primas deles derivadas) à custa do aumento do custo da energia, da miséria e da perda de competitividade dos países hoje mais pobres.
Para todos os que leem este texto fica agora um desafio: parem uns segundos e olhem à vossa volta. Será possível até 2050 retirar das nossas vidas todos os polímeros (plásticos e afins) que constituem a matéria-prima indispensável aos produtos que consumimos e ao habitat artificial em que vivemos?
Outros – como o ultimamente “suspeito” Bill Gates – aceitam estes cenários catastrofistas e garantem (com alguma lógica) que a única resposta eficaz para substituir os combustíveis fósseis de forma rápida, generalizada e segura é a energia nuclear (cuja investigação e desenvolvimento tem avançado pouco, por ter passado a ser considerada um pecado capital nas sociedades modernas)…
Termino com o meu credo, nesta matéria, para que não venham os críticos dizer que eu disse o que não disse:
– Não duvido que as emissões de gases de efeito de estufa resultantes da atividade humana contribuem para as alterações climáticas que as últimas gerações vêm percecionando;
– Recuso-me a admitir que essa atividade humana (7,7 biliões de “formigas” residentes numa peça ínfima do universo) seja a PRINCIPAL causa dessas alterações (tendo em atenção a dimensão cósmica da envolvente terrestre, nomeada e principalmente, a conhecida e estudada – mas não previsível – alteração aleatória da geração de energia solar);
– Não aceito que alguns “iluminados e ungidos” (como tantos na história da humanidade) possam decidir e impor – em nome do “nosso interesse coletivo” (não foi assim sempre…?) – mudanças drásticas nos estilos e aspirações de vida e bem-estar dos habitantes do planeta;
– Não acredito (e preferia acreditar no contrário) que os homens, os países, as aspirações pessoais, a vontade de obter mais bem-estar diário, a concorrência das economias e a riqueza que daí resulta possam concordar com uma travagem drástica nas emissões antrópicas de GEE;
– Acredito que a indústria responsável e políticas progressivas e de bom senso possam mitigar seriamente este problema (que existe);
– Tenho pouca fé no altruísmo dos líderes políticos que contam, dos países e dos blocos políticos onde se inserem…
– Por último, penso que de Glasgow sairá uma mão cheia de nada (como saiu de Paris em 2015, onde nem um financiamento internacionalmente vinculativo foi acordado).