No verão estamos naturalmente mais tempo ao ar livre, com a pele mais exposta e, consequentemente, as picadas de insetos também se tornam mais frequentes. Quando sofremos uma picada de inseto, há várias formas de resposta do nosso organismo. Existem reações locais, cutâneas ou generalizadas, muitas vezes noutras localizações que não o sítio da própria picada. Podem surgir de forma imediata, em segundos ou minutos ou desenvolverem-se mais tardiamente.
Entre as reações mais frequentes, temos a vermelhidão, a sensação de calor ao redor da picada e um inchaço local. Esta resposta inflamatória pode acontecer com qualquer inseto, desde mosquito, melga, pulga a vespa ou abelha. Muitas vezes, o local da picada serve como porta de entrada para outros microorganismos. Nesse seguimento pode desenvolver-se uma infeção local, que designamos de celulite, situação que necessita muitas vezes de antibioterapia.
Em relação às reações alérgicas, também podem ser classificadas como locais, ligeiras, sem necessidade de cuidados até à possibilidade de termos uma reação alérgica generalizada, grave, que pode colocar em risco a vida de uma pessoa.
As reações anafiláticas são consideradas as reações alérgicas mais graves que podem ocorrer. Podem surgir tanto na criança, como na fase adulta, podendo estar relacionadas com outras doenças alérgicas, como asma ou rinite alérgicas. Como tal, no decorrer de uma picada de inseto, os sintomas reportados podem envolver o sistema respiratória – tosse e dificuldade respiratória – assim como queixas cutâneas, sejam prurido, urticária ou inchaço. Por vezes acontecer também queixas gastrointestinais – vómitos, dor abdominal ou diarreia – assim como queixas cardiovasculares, como hipotensão ou perda de consciência. Quando estão presentes estes últimos sintomas falamos já em choque anafilático, uma reação alérgica grave.
No caso das picadas por mosquitos, moscas e percevejos, as reações são frequentemente locais e benignas. Denominam-se de estrófulo e afetam sobretudo as zonas expostas, tronco e membros, com múltiplas pápulas, podendo deixar marcas cicatriciais. As medidas terapêuticas têm como objetivo atenuar o prurido ou comichão e diminuir a inflamação, que pode durar alguns dias ou mesmo semanas.
Nomeadamente em relação ao veneno de abelha e vespa, quando o organismo já reconhece as substâncias por eles injetadas, produz anticorpos específicos, que vão estando presentes na circulação sanguínea. Assim, neste tipo de reações, os sintomas surgem muito depressa após esse reconhecimento, sendo imprescindível uma rápida atuação por parte dos doentes ou familiares que presenciem a reação.
E como se tratam as reações alérgicas? Segundo as recomendações, a primeira linha de tratamento é a adrenalina injetável intramuscular. Com esta medida, interrompemos a cascata da reação alérgica, salvando a vida do doente. A adrenalina está disponível em canetas auto- injetáveis e o seu treino deve ser explicado, corrigido e revisto no âmbito da consulta. Mesmo que tenha sido administrada a caneta de adrenalina, não invalida que a pessoa seja observada em ambiente hospitalar para melhor monitorização e eventual terapêutica até à resolução completa do episódio e estabilização.
Como medidas gerais para reduzir a exposição a estes e outros insetos recomenda-se a utilização de redes mosquiteiras e o uso de roupas claras, que cubram toda a superfície de pele. Ainda o uso de repelentes e de calçado apropriado se se fizerem caminhadas em matas, parques ou zonas florestais. A medicação, como a caneta de adrenalina já mencionada, ou comprimidos anti-histamínicos, devem acompanhar sempre estes doentes, caso se considere que estejam em zonas ou ambientes considerados de maior risco, para que não se perca tempo, no caso de travar uma reação alérgica generalizada.
Em relação à orientação dos doentes com história de reações mais graves, o encaminhamento para uma consulta de imunoalergologia é fundamental para o estudo e a realização de testes diagnósticos, para um aconselhamento específico sobre como prevenir ou mesmo tratar ativamente episódios no futuro, já que, em relação à anafilaxia por picada de abelhas e vespas, existem vacinas específicas que reduzem a reatividade dos doentes a estes agentes.
João Pedro Azevedo é imunoalergologista no Hospital CUF Coimbra e Hospital CUF Viseu