Iluminados e obscurantistas


Apressam-se a distribuir rótulos e a emitir juízos como se houvesse os responsáveis, que promovem a vacinação, e os irresponsáveis, que a questionam. Ou os esclarecidos, que são a favor da ciência e do progresso, e os obscurantistas. Mais um bocadinho, e propunham a criminalização de quem recusa a vacina.


Ser ou não ser – vacinado – eis a questão. Se houve quem se atropelasse na ânsia de receber a “pica”, já eu, embora não tenha medo de agulhas, não estava especialmente entusiasmado com a ideia.

Não é difícil explicar. Por um lado, a forma apressada com que decorreu todo o processo de desenvolvimento e testagem da vacina não me inspirava muita confiança. Estaríamos a ser uma espécie de cobaias? O facto é que ninguém conhece os efeitos das vacinas a longo prazo. Por outro lado, os relatos de pessoas próximas que tiveram reações adversas ou mesmo complicações sérias também não eram de modo a encorajar-me. E, claro, havia sempre o raciocínio de que, se até aqui tinha escapado ao vírus, talvez pudesse continuar a escapar…

As dúvidas persistiam. Até que o telefone tocou. Era um funcionário do centro de saúde a agendar-me a vacina para dali a dois ou três dias. E aí o sentido cívico prevaleceu. Porquê cívico?_Porque ninguém questiona que a vacinação é um passo essencial em direção à normalidade, e não podemos querer atingir a normalidade só à custa dos outros. Resumindo: cheguei-me à frente.

A sensação ao chegar ao centro de vacinação foi a mesma de uma pessoa que tenha medo de andar de avião ao chegar ao aeroporto. Ao deparar-se com um magote de gente, algum receio que exista tende a dissipar-se perante a ideia de haver tantas pessoas, dia após dia, a fazer aquilo que se achava potencialmente perigoso.

Falei em “sentido cívico”. Se a nível individual não fazia muita questão de me “proteger”, pareceu-me que a nível coletivo podia contribuir, ainda que de maneira muito modesta, para conter a pandemia.

O que não significa que ache que todos têm de o fazer. Cada vez vejo mais pessoas indignadas por este ou aquele pôr em dúvida a eficácia da vacinação. Ou por simplesmente dizer que não está interessado. Apressam-se a distribuir rótulos e a emitir juízos como se houvesse os responsáveis, que promovem a vacinação, e os irresponsáveis, que a questionam. Ou os esclarecidos, que são a favor da ciência e do progresso, e os obscurantistas. Mais um bocadinho, e propunham a criminalização de quem recusa a vacina (embora defendam fervorosamente a descriminalização de outras coisas…).

Ora, ser vacinado não é um dever, é um direito. Tal e qual como não ser vacinado. Cada um deve exercê-lo se, quando e como entender.


Iluminados e obscurantistas


Apressam-se a distribuir rótulos e a emitir juízos como se houvesse os responsáveis, que promovem a vacinação, e os irresponsáveis, que a questionam. Ou os esclarecidos, que são a favor da ciência e do progresso, e os obscurantistas. Mais um bocadinho, e propunham a criminalização de quem recusa a vacina.


Ser ou não ser – vacinado – eis a questão. Se houve quem se atropelasse na ânsia de receber a “pica”, já eu, embora não tenha medo de agulhas, não estava especialmente entusiasmado com a ideia.

Não é difícil explicar. Por um lado, a forma apressada com que decorreu todo o processo de desenvolvimento e testagem da vacina não me inspirava muita confiança. Estaríamos a ser uma espécie de cobaias? O facto é que ninguém conhece os efeitos das vacinas a longo prazo. Por outro lado, os relatos de pessoas próximas que tiveram reações adversas ou mesmo complicações sérias também não eram de modo a encorajar-me. E, claro, havia sempre o raciocínio de que, se até aqui tinha escapado ao vírus, talvez pudesse continuar a escapar…

As dúvidas persistiam. Até que o telefone tocou. Era um funcionário do centro de saúde a agendar-me a vacina para dali a dois ou três dias. E aí o sentido cívico prevaleceu. Porquê cívico?_Porque ninguém questiona que a vacinação é um passo essencial em direção à normalidade, e não podemos querer atingir a normalidade só à custa dos outros. Resumindo: cheguei-me à frente.

A sensação ao chegar ao centro de vacinação foi a mesma de uma pessoa que tenha medo de andar de avião ao chegar ao aeroporto. Ao deparar-se com um magote de gente, algum receio que exista tende a dissipar-se perante a ideia de haver tantas pessoas, dia após dia, a fazer aquilo que se achava potencialmente perigoso.

Falei em “sentido cívico”. Se a nível individual não fazia muita questão de me “proteger”, pareceu-me que a nível coletivo podia contribuir, ainda que de maneira muito modesta, para conter a pandemia.

O que não significa que ache que todos têm de o fazer. Cada vez vejo mais pessoas indignadas por este ou aquele pôr em dúvida a eficácia da vacinação. Ou por simplesmente dizer que não está interessado. Apressam-se a distribuir rótulos e a emitir juízos como se houvesse os responsáveis, que promovem a vacinação, e os irresponsáveis, que a questionam. Ou os esclarecidos, que são a favor da ciência e do progresso, e os obscurantistas. Mais um bocadinho, e propunham a criminalização de quem recusa a vacina (embora defendam fervorosamente a descriminalização de outras coisas…).

Ora, ser vacinado não é um dever, é um direito. Tal e qual como não ser vacinado. Cada um deve exercê-lo se, quando e como entender.