Será Biden o verdadeiro Obama?


Numa reflexão recente no Le Monde Diplomatique (edição portuguesa) de maio, Serge Halimi, a propósito do primeiro volume da autobiografia do 44.º Presidente dos EUA, referia que Obama, infelizmente, terá sido, talvez, menos reformador do que a expetativa que recaía sobre si prometia. Apesar de Obama ter sido o primeiro presidente afro-americano (na terminologia estadunidense),…


Numa reflexão recente no Le Monde Diplomatique (edição portuguesa) de maio, Serge Halimi, a propósito do primeiro volume da autobiografia do 44.º Presidente dos EUA, referia que Obama, infelizmente, terá sido, talvez, menos reformador do que a expetativa que recaía sobre si prometia.

Apesar de Obama ter sido o primeiro presidente afro-americano (na terminologia estadunidense), de ser detentor de um dom de oratória magnífico e inspirador e de ter tornado acessível os cuidados de saúde a milhões de americanos, que a eles não conseguiriam aceder por não conseguirem suportar os caríssimos seguros de saúde, terão sido os dois mandatos uma presidência falhada em relação ao que era prometido?

Deixarei a questão para análise individual de cada um, sem, contudo, deixar de estabelecer aqui um pequeno paralelismo entre a Presidência de Obama e os primeiros tempos deste 46.º Presidente, Joe Biden que, como é sabido, foi Vice-Presidente de Barack Obama.

Torna-se difícil estabelecer comparações, por variados motivos. Desde logo, Biden tem a seu favor ter estado no inner circle de Obama, tendo acompanhado na primeira pessoa, as vitórias e as derrotas da 44.ª presidência, depois porque, de uma perspetiva transatlântica, a seguir a Trump qualquer regresso a uma normalidade institucional acaba por beneficiar o titular presente do cargo. Por outro lado, Obama teve em seu desfavor uma crise financeira como nunca vista e cujas respostas resultaram do possível compromisso político entre as administrações Bush e Obama, sob pena de todo o sistema financeiro planetário ruir como um castelo de cartas e com consequências na vida real das pessoas muito maiores que os que tivemos.

Talvez tudo isso seja determinante, talvez a sua idade (recorde-se que Biden foi o Presidente americano eleito com mais idade) lhe dê aquela coragem e confiança adicional para defender o que considera ser justo, mas a realidade é que Biden tem tido um início auspicioso para quem, como eu, é de esquerda.

Não obstante a existência de um trumpismo cada vez mais dominante no Partido Republicano e do conflito sectário ser cada vez maior nos EUA e de Biden continuar com um nível de aceitação nada extraordinário, o certo é que o Presidente americano, pátria do capitalismo, tem assumido com coragem diversos posicionamentos políticos que já fazem corar de vergonha vários governantes de esquerda europeia.

Veja-se a opção de atribuir um cheque de rendimento adicional aos americanos, de forma a estimular a economia interna, atingida pela pandemia, os planos de recuperação económica com um pacote financeiro associado, que reduzem à insignificância o plano europeu.

Biden, em 100 dias, já recuperou a liderança da agenda política mundial de combate às alterações climática e, pasmem-se, tem sido o impulsionador mundial de uma mais justa tributação dos milionários e das empresas multinacionais que enriquecem de forma incalculável, não pagando de impostos aquilo que lhes é devido em todo o mundo.

Os EUA têm tido como protagonistas improváveis da sua história Presidentes que poucos achariam que ficassem nos anais, como são os casos de Roosevelt e Johnson. Quem sabe se Biden não será o Obama que todos queríamos que tivesse sido?

Pedro Vaz

Será Biden o verdadeiro Obama?


Numa reflexão recente no Le Monde Diplomatique (edição portuguesa) de maio, Serge Halimi, a propósito do primeiro volume da autobiografia do 44.º Presidente dos EUA, referia que Obama, infelizmente, terá sido, talvez, menos reformador do que a expetativa que recaía sobre si prometia. Apesar de Obama ter sido o primeiro presidente afro-americano (na terminologia estadunidense),…


Numa reflexão recente no Le Monde Diplomatique (edição portuguesa) de maio, Serge Halimi, a propósito do primeiro volume da autobiografia do 44.º Presidente dos EUA, referia que Obama, infelizmente, terá sido, talvez, menos reformador do que a expetativa que recaía sobre si prometia.

Apesar de Obama ter sido o primeiro presidente afro-americano (na terminologia estadunidense), de ser detentor de um dom de oratória magnífico e inspirador e de ter tornado acessível os cuidados de saúde a milhões de americanos, que a eles não conseguiriam aceder por não conseguirem suportar os caríssimos seguros de saúde, terão sido os dois mandatos uma presidência falhada em relação ao que era prometido?

Deixarei a questão para análise individual de cada um, sem, contudo, deixar de estabelecer aqui um pequeno paralelismo entre a Presidência de Obama e os primeiros tempos deste 46.º Presidente, Joe Biden que, como é sabido, foi Vice-Presidente de Barack Obama.

Torna-se difícil estabelecer comparações, por variados motivos. Desde logo, Biden tem a seu favor ter estado no inner circle de Obama, tendo acompanhado na primeira pessoa, as vitórias e as derrotas da 44.ª presidência, depois porque, de uma perspetiva transatlântica, a seguir a Trump qualquer regresso a uma normalidade institucional acaba por beneficiar o titular presente do cargo. Por outro lado, Obama teve em seu desfavor uma crise financeira como nunca vista e cujas respostas resultaram do possível compromisso político entre as administrações Bush e Obama, sob pena de todo o sistema financeiro planetário ruir como um castelo de cartas e com consequências na vida real das pessoas muito maiores que os que tivemos.

Talvez tudo isso seja determinante, talvez a sua idade (recorde-se que Biden foi o Presidente americano eleito com mais idade) lhe dê aquela coragem e confiança adicional para defender o que considera ser justo, mas a realidade é que Biden tem tido um início auspicioso para quem, como eu, é de esquerda.

Não obstante a existência de um trumpismo cada vez mais dominante no Partido Republicano e do conflito sectário ser cada vez maior nos EUA e de Biden continuar com um nível de aceitação nada extraordinário, o certo é que o Presidente americano, pátria do capitalismo, tem assumido com coragem diversos posicionamentos políticos que já fazem corar de vergonha vários governantes de esquerda europeia.

Veja-se a opção de atribuir um cheque de rendimento adicional aos americanos, de forma a estimular a economia interna, atingida pela pandemia, os planos de recuperação económica com um pacote financeiro associado, que reduzem à insignificância o plano europeu.

Biden, em 100 dias, já recuperou a liderança da agenda política mundial de combate às alterações climática e, pasmem-se, tem sido o impulsionador mundial de uma mais justa tributação dos milionários e das empresas multinacionais que enriquecem de forma incalculável, não pagando de impostos aquilo que lhes é devido em todo o mundo.

Os EUA têm tido como protagonistas improváveis da sua história Presidentes que poucos achariam que ficassem nos anais, como são os casos de Roosevelt e Johnson. Quem sabe se Biden não será o Obama que todos queríamos que tivesse sido?

Pedro Vaz