Os avanços da ciência e a legítima ambição da sociedade no seu desenvolvimento económico e social representam, ao longo dos séculos, duas das forças motrizes determinantes para o progresso da Humanidade. Elas geram transformações e interações entre a ciência e a sociedade permanentes, alternando períodos de evolução rápida ou mesmo conceptualmente disruptiva com períodos de aparente imobilidade, que se poderão designar de incubação. Contudo, quer a ciência procura permanentemente respostas para os desafios postos pela sociedade quer a sociedade procura permanentemente aproveitar os avanços da ciência. Em resultado deste processo, hoje podemos dizer que a ciência invadiu a nossa vida quotidiana.
Este processo de permanente evolução é transformador, por vezes conceptualmente disruptivo, mas não destrutivo. A revolução industrial não destruiu a agricultura mas industrializou-a conceptualmente. O desenvolvimento da electrónica a partir dos anos cinquenta do século passado não destruiu a agricultura nem a indústria mas desencadeou a terciarização dos sectores primário e secundário da economia como um todo. A digitalização em curso também não será globalmente destrutiva mas transformará profundamente a sociedade de hoje em todas as suas vertentes: económica, seguramente, mas também social e política.
Num ano marcado pela pandemia, essa ideia da importância investigação científica da tecnologia e da engenharia acaba por se generalizar. Efetivamente, neste ano e meio que passou desde o início da pandemia, a sociedade percebeu de forma direta em que medida a ciência, a investigação, a tecnologia e a engenharia tem impacto no seu bem-estar, segurança, saúde e qualidade de vida. Sem ciência, investigação, tecnologia e engenharia, o caminho até às vacinas, que hoje nos permitem ver a luz da esperança ao fundo do túnel, teria sido muito mais longo e muito mais árduo também, porque não teriam havido os equipamentos e meios hospitalares, os meios de proteção e segurança e os meios de testagem, que nos permitiram ter o controlo possível da situação nestes longos meses, desde março de 2020.
Do lado da ciência este processo interativo é naturalmente feito predominantemente pelas Instituições de investigação científica, com relevo para as Universidades. As Instituições nascem com a definição de um conjunto de princípios fundadores e, desejavelmente, vão evoluindo ao longo do tempo, procurando consolidar-se de forma inclusiva face à sociedade em que se inserem, transformando-se gradualmente em pilares estruturantes dessa mesma sociedade. O sucesso sustentado destas instituições, onde o conhecimento e a ciência se desenvolvem de mão dadas com a formação de jovens que, eles próprios, irão contribuir na sua vida ativa para o progresso e desenvolvimento da sociedade, representa, agora e sempre, um contributo determinante para o sucesso das nações.
A existência de Instituições científicas sólidas, dinâmicas e socialmente inclusivas é assim crucial para o êxito da interação ciência-sociedade, força motriz essencial para o progresso da Humanidade. De facto, tecnologia é ciência com impacto económico, engenharia é ciência com impacto económico e social e a investigação científica, a educação e o ensino são os veículos da criação desses impactos. E a comunicação ao público em geral de forma rigorosa, daquilo que é verdadeiramente a ciência e a tecnologia, distinguindo daquilo que é pseudo-ciência, evitando a desinformação e o debate mal informado que, de outra forma, inevitavelmente moldarão a opinião pública distorcidamente com as consequências nefastas bem conhecidas para a equilibrada solução dos problemas em tempo útil.
E foi para dar substância a este triângulo conceptual que o Instituto Superior Técnico foi criado há quase 110 anos atrás, constituindo-se como força motriz de transformação do ensino da engenharia, ciência e tecnologia, crescendo como referência também na investigação, desenvolvimento e criação científica e tecnológica, sempre na senda de contribuir para um país mais desenvolvido e capaz de responder aos desafios presentes e futuros. Foi a 23 de maio de 1911.
*Professor jubilado, Comissário dos 110 anos do Instituto Superior Técnico
**Presidente do Instituto Superior Técnico