O Presidente da República falou ontem ao País durante cinco minutos, numa declaração breve e clara, para alertar para pressão extrema no Serviço Nacional de Saúde e lembrar aos portugueses que “vivemos o período mais difícil da pandemia” da covid-19. Por isso, “é preciso agir depressa e drasticamente”, pediu Marcelo Rebelo de Sousa.
Mais, o confinamento será duradouro, inclusive até março. “O que fizermos todos, poderes públicos solidários e portugueses, até março, até março, inclusive, determinará o que vai ser a primavera, o verão e quem sabe o outono e joga-se tudo nas próximas semanas, até março, inclusive”, avisou o presidente da República, insistindo que as restrições terão meses, nomeadamente no ensino à distância.
Inicialmente, Marcelo recordou as crescentes negações na sociedade, a insensibilidade à vida e à morte, Nada que resolva o problema que enfrentamos.
“Nenhuma das negações resolve as esperas infindáveis, o sufoco dos cuidados intensivos, o sofrimento dos doentes. O que mais importa é não perder a linha de rumo, a determinação, a capacidade de resistir e reagir. Se for verdade que somos dos primeiros nesta nova estirpe, é preciso agir depressa e drasticamente. Temos de ser mais estritos, mais rigorosos e mais firmes no que fizermos e não fizermos”, defendeu o Chefe de Estado. Marcelo lembrou ainda que “temos de continuar a vacinar, melhor e mais depressa. Ninguém no seu bom senso queria passar políticos e titulares de cargos públicos à frente de milhares de idosos”. E ninguém pode baixar os braços. É preciso evitar contactos, sair só para o essencial e justificável, pediu o Presidente.
Esta declaração surgiu no dia da décima renovação do Estado de Emergência, em que o tom é de gravidade. Na véspera da aprovação de mais um decreto de renovação do Estado de Emergência, o primeiro-ministro esteve no programa Circulatura do Quadrado, na TVI24 e assumiu o que todos já sabiam: “Nesta terceira vaga, as coisas estão a correr muito mal”. Costa reconheceu que houve uma confluência de fatores para o atual momento da pandemia da Covid-19: a variante inglesa do novo coronavírus. Mais, se tivesse tido conhecimento dos efeitos de alta propagação em Portugal da nova variante, “provavelmente, as restrições que entraram em vigor no princípio de janeiro teriam entrado logo em vigor no dia 26 de dezembro”. Assumidos, os erros, Costa não teve meias palavras para dizer que “vamos continuar a enfrentar o pior momento ainda durante as próximas semanas”.
Do debate de ontem sobre o novo estado de emergência ficou a certeza de que vai haver restrições também nas fronteiras, com uma retificação de última hora ao decreto presidencial, a pedido do Governo. A reposição do controlo de fronteiras está, assim, reposta até dia 14 de fevereiro. E as aulas não presenciais regressam no dia 8 de fevereiro, conforme ficou definido no Conselho de Ministros.
No Parlamento, antes desta decisão, Marta Temido, a ministra da Saúde, revelou que a variante britânica já representa 50 por cento dos casos na Região de Lisboa e Vale do Tejo. E pediu contenção aos políticos neste momento: “Não é aceitável que utilizemos a morte e a doença como argumento político”, atirou a governante.
Já o líder do PSD, Rui Rio, fez o discurso mais duro numa renovação de um estado de emergência. Votou a favor, mas deu um “murro na mesa”. “Perante as graves de governo, cabe-nos aqui dar um murro na mesa”, atirou o líder do PSD. Já o líder parlamentar do Bloco de Esquerda, Pedro Filipe Soares, anunciou mais uma abstenção como um “cartão amarelo” ao Executivo. E lembrou a falta de preparação ou um orçamento suplementar de 2020 “todo por cumprir”. António Filipe, do PCP, insistiu que é preciso o reforço dos rastreios, reforço dos apoios sociais e da capacidade de resposta na Saúde. Mais uma vez o PCP votou contra a renovação do Estado de Emergência. Telmo Correia, do CDS, por seu turno, acusou o Governo de falhar. Mais: “Quando corre bem, faz propaganda. Quando corre mal, não é nada com ele”, argumentou.
Por seu turno, André Silva, do PAN, reconheceu que não há alternativa ao estado de emergência, mas pediu mais medidas ao Governo. “As simulações matemáticas dizem-nos que serão necessários, pelo menos, 45 dias de confinamento para que o esforço que está a ser feito pelas pessoas possa ser eficaz”, apontou André Silva, porta-voz do PAN. André Ventura, do CHEGA, atacou o Governo por só agora encerrar fronteiras, enquanto Joacine Katar Moreira, deputada não-inscrita, recordou que fazia um ano que Ventura a tinha mandado para a sua terra de origem e que era preciso “ um rigoroso confinamento do racismo, da pobreza, da violência doméstica, do populismo e do taticismo em tempos de pandemia”.
Para memória futura, fica a irritação de Eduardo Cabrita com a direita por ter “amnésia” ou “espírito de comentador de futebol, que à segunda sabe tudo o que correu mal no jogo de sábado” neste combate à pandemia.