Estrelas que dançam


O confinamento amarra-nos à tristeza como se estivéssemos presos às teias de Jack Kerouac, que vão explodindo por entre as estrelas que perderam o brilho. Uma sombra escura de medo e de prepotência anoitece sobre nós. Pessoa ensinou-nos que há barcos para todos os portos menos para a vida não doer.


Enquanto os novos pinochets nos restringem as liberdades – e ainda não se lembraram de começar a fechar todos os que não têm covid nos estádios de futebol –, eu preciso de ler sobre a liberdade. Porque não, não, não, meu caro Sérgio Godinho, a liberdade não está a passar por aqui. Descobri estrelas que dançam na correspondência entre Tiago Salazar e Frederico Duarte de Carvalho, camaradas de profissão – sim, os jornalistas tratam-se por camaradas –, bem mais novos do que eu mas com um anseio de criação que me deixou preso por inteiro às suas Cartas do Confinamento, que tiveram dúvidas em publicar mas, felizmente, publicaram. É um testemunho melancólico, muitas vezes, mas sempre resistente, e eu preciso de ler sobre a resistência, preciso de saber que a Constituição tem um artigo que defende da resistência aos abusos de poder (o 21.o), venham eles de uma cambada desacreditada de políticos nos quais nem metade do país vota, de polícias que se comportam como braços armados do novo fascismo, de juízes imberbes que se limitaram à vida resumida nas linhas das sebentas. É bom saber que, em algum lado, nem que nas linhas de um livro, continuam a existir os Camaradas do Não!

Comecei a escrever esta coluna como se fossem, também elas, cartas de confinamento. Cartas para a minha mãe, os meus amigos, para mim mesmo ou para ninguém em específico. Foi em março, e o confinamento amarra-nos à tristeza como se estivéssemos presos às teias de Jack Kerouac, que vão explodindo por entre as estrelas que perderam o brilho. Uma sombra escura de medo e de prepotência anoitece sobre nós. Pessoa ensinou-nos que há barcos para todos os portos menos para a vida não doer. Nunca sei ao certo de que lado fica a porta de saída da vida – talvez nas páginas de um livro. Mas continuo a saber de cor o caminho que me leva para longe dos labirintos sinistros deste país amargurado ao qual só quero dizer até sempre!


Estrelas que dançam


O confinamento amarra-nos à tristeza como se estivéssemos presos às teias de Jack Kerouac, que vão explodindo por entre as estrelas que perderam o brilho. Uma sombra escura de medo e de prepotência anoitece sobre nós. Pessoa ensinou-nos que há barcos para todos os portos menos para a vida não doer.


Enquanto os novos pinochets nos restringem as liberdades – e ainda não se lembraram de começar a fechar todos os que não têm covid nos estádios de futebol –, eu preciso de ler sobre a liberdade. Porque não, não, não, meu caro Sérgio Godinho, a liberdade não está a passar por aqui. Descobri estrelas que dançam na correspondência entre Tiago Salazar e Frederico Duarte de Carvalho, camaradas de profissão – sim, os jornalistas tratam-se por camaradas –, bem mais novos do que eu mas com um anseio de criação que me deixou preso por inteiro às suas Cartas do Confinamento, que tiveram dúvidas em publicar mas, felizmente, publicaram. É um testemunho melancólico, muitas vezes, mas sempre resistente, e eu preciso de ler sobre a resistência, preciso de saber que a Constituição tem um artigo que defende da resistência aos abusos de poder (o 21.o), venham eles de uma cambada desacreditada de políticos nos quais nem metade do país vota, de polícias que se comportam como braços armados do novo fascismo, de juízes imberbes que se limitaram à vida resumida nas linhas das sebentas. É bom saber que, em algum lado, nem que nas linhas de um livro, continuam a existir os Camaradas do Não!

Comecei a escrever esta coluna como se fossem, também elas, cartas de confinamento. Cartas para a minha mãe, os meus amigos, para mim mesmo ou para ninguém em específico. Foi em março, e o confinamento amarra-nos à tristeza como se estivéssemos presos às teias de Jack Kerouac, que vão explodindo por entre as estrelas que perderam o brilho. Uma sombra escura de medo e de prepotência anoitece sobre nós. Pessoa ensinou-nos que há barcos para todos os portos menos para a vida não doer. Nunca sei ao certo de que lado fica a porta de saída da vida – talvez nas páginas de um livro. Mas continuo a saber de cor o caminho que me leva para longe dos labirintos sinistros deste país amargurado ao qual só quero dizer até sempre!