O campeão da dívida comporta-se como o cobrador do fraque


O cidadão (ou à empresa, que também as há) que vê a sua vida (ou atividade) bloqueada por uma dívida ao fisco ou à Segurança Social. É tratado como um pária que perde o acesso a direitos que estão ao alcance dos cumpridores


Em entrevista ao i publicada na passada sexta-feira, o presidente da Cáritas Portugal, Eugénio Fonseca, falou de pobreza envergonhada, de desemprego, de desencanto. Relatou situações de pessoas que até tinham recebido alimentos, mas a quem faltava dinheiro para a botija do gás que permitiria cozinhá-los. E chamou a atenção para o drama daqueles “que querem reerguer a sua vida, mas têm dívidas às Finanças, e enquanto não as pagam não podem pedir crédito”. E concluía: “Ficam encurralados”.

Não foi a primeira vez que ouvi falar de pessoas encurraladas pelas Finanças. Mas foi a primeira vez que me apercebi do absurdo da situação. Durante o período de “prosperidade” ouvimos dizer que a dívida nacional estava a diminuir – mas os números apresentados diziam sempre respeito à percentagem do PIB. “Isso é que conta”, diziam-nos. Na verdade, era uma forma de relativizar, para não dizer escamotear, o monstro da dívida. E, como havia uma perspetiva de crescimento da economia, o monstro parecia domado.

Embora em termos absolutos a dívida continuasse a crescer para valores astronómicos, garantiam-nos que não havia motivo de preocupação uma vez que se estimava que o PIB cresceria a um ritmo mais elevado. Mas e agora que o PIB caiu dramaticamente? Essa é talvez uma pergunta demasiado incómoda para obter uma resposta satisfatória. Voltemos ao cidadão (ou à empresa, que também as há) que vê a sua vida (ou atividade) bloqueada por uma dívida ao fisco ou à Segurança Social. É tratado como um pária que perde o acesso a direitos que estão ao alcance dos cumpridores. 

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