Luís Pedro de Abreu. “É magia as pessoas verem o resultado final e dizerem ‘era mesmo isto que queria’”

Luís Pedro de Abreu. “É magia as pessoas verem o resultado final e dizerem ‘era mesmo isto que queria’”


“As pessoas que veem os programas acham que conseguem decorar”, revela. Mas o arquiteto de interiores sabe que nem sempre é assim tão fácil. 


por Sónia Peres Pinto e Vítor Rainho

 

Filho de artistas – o pai é Luís Filipe de Abreu –, optou por uma carreira ligada à arquitetura de interiores. Começou a sua experiência em grandes ateliês, nomeadamente o de Tomás Taveira, mas cedo decidiu que o seu caminho passaria por trabalhar por conta própria – agora conta com uma sócia – e por projetos mais pequenos. O seu rosto tornou-se conhecido dos portugueses por participar no programa Querido, Mudei a Casa!, mas a sua carreira vai muito mais além. Luís Pedro de Abreu fala dos projetos que tem agora em mãos e como a covid-19 mudou as necessidades dos portugueses. Salas com espaços para escritório e remodelações de outras divisões tornaram-se imperativas nesta fase. Outra alteração diz respeito às decorações que, até aqui, tinham muito peso: o alojamento local. Agora, o desafio é mudar esses espaços para arrendamento de longa duração. A par disso há que somar ainda outros projetos internacionais para que tem sido sondado.

 

Como chegou a arquiteto de interiores? Como foi o seu caminho até chegar aqui?

Formei-me em Arquitetura um pouco influenciado pela minha família, porque são quase todos das artes. No meu caso fui influenciado pelo meu tio e padrinho (Rodrigues Fernandes), que é arquiteto e com quem convivi muito, era das partes mais chegadas da minha família. A minha tia e minha madrinha – a mulher do meu padrinho e irmã da minha mãe – sempre foi decoradora. Isto já vinha do meu tio-avô, que era decorador, chamava-se Carlos Ribeiro. Sempre foi uma influência para mim desde muito miúdo, mais ou menos desde os meus 14 anos. Nas férias, eu e os meus primos íamos para o terreno dos meus tios para ganhar um trocos – tirar cópias, dobrar cópias –, depois comecei a desenhar e desde muito miúdo comecei a trabalhar no ateliê. Vem daí um pouco a influência. Os meus primos do lado deste meu tio, que eram quatro – um já faleceu –, foram todos arquitetos, à exceção de um que é engenheiro. Do lado dos meus pais é que é tudo mais ligado à pintura e escultura.

E depois acaba o curso…

Começo a trabalhar em ateliês grandes, uma série deles, que já nem me lembro dos nomes. Um dos ateliês onde trabalhei foi para o Tomás Taveira, onde trabalhei dois anos e meio. Comecei muito cedo mas, talvez pelo meu feitio, não me dei muito bem a trabalhar para eles e, mal pude, comecei a trabalhar por conta própria em trabalhos pequenos de decoração de interiores, de arquitetura, de remodelações de interiores. Nunca mais tive vontade de voltar a trabalhar num ateliê grande. Aprendi muito nos ateliês grandes, onde trabalhei vários anos, mas havia sempre uma coisa que me maçava um bocado: os projetos demoram muito tempo. Primeiro que se veja a obra feita é uma coisa… Os trabalhos pequenos, as decorações de interiores, são uma coisa mais imediata, mais rápida. É fazer agora para arrancar a obra para o mês que vem.

Nunca fez nada de exteriores?

Fiz um pouco de exteriores, alterações de moradias. Agora, uma moradia de exterior, por exemplo, de raiz, nunca fiz. Fiz projetos, meti projetos à câmara, assinei projetos, isso sim. Fiz uma obra muito grande no Estoril para um elemento da família Champalimaud que foi uma moradia gigante, em que fizemos ampliações para cima, projetos à câmara, projetos de jardins, projetos de muros. Foi uma obra que durou três anos. Depois houve uma coisa que marcou profundamente a minha vida. Uma amiga minha, minha ex-namorada, que é dona do programa Querido, Mudei a Casa!, quando começou a fazer o programa perguntou-me se não queria fazer uns programas.

Isso foi há quantos anos?

O programa, acho que tem 16 ou 17 anos… Faço há 14 ou 15 anos. Quando me convidou dei-lhe um redondo não porque, com a minha vergonha e a minha falta de à-vontade, disse-lhe que não ia fazer. Mas depois fiquei “grávido”. Fiquei à espera de ter o meu filho e, aí, reequacionei tudo. Pensei que tinha de me fazer à vida de outra maneira e percebi que o programa podia ser um bom caminho. Nessa altura telefonei-lhe e perguntei se a proposta que me tinha feito há dois anos ainda estava de pé. E foi aí que comecei a fazer o programa, já fiz mais de 100.

Qual foi a obra mais marcante que fez no programa? Algum caso de mais necessidade…

Muitas… É um pouco difícil responder a essa pergunta. Fui a casa de pessoas muito necessitadas, entrei em casas que eram autênticos dramas, casas que não sonhamos que existam e nem imaginamos que as pessoas possam viver naquelas condições. Isso foi uma coisa que o programa me trouxe. Trouxe-me várias coisas: uma delas que, até hoje ainda não percebi bem, é a capacidade que nós, como equipa, temos de fazer muito em tão pouco tempo. Claro que há algumas coisas que não ficam tão bem feitas, mas sempre tive a preocupação de fazer menos mas fazer bem feito. Há outros decoradores que penduram coisas onde não podem pendurar, colam coisas onde não dá para colar… Mas houve um programa muito marcante. Fizemos um especial que fiz a meias com outra decoradora, em Alenquer. Era uma moradiazinha nos limites de uma aldeia, um pouco fora da aldeia, ao pé da prisão. Fizemos a casa toda. As pessoas viviam com uma casa de banho completamente sem condições em que metade das torneiras não funcionavam. A cozinha, a sala e os quartos eram em terra batida, com tapetes por cima uns dos outros, cheios de terra. Na cozinha, as paredes não eram sequer estucadas nem tinham mosaicos, eram cimento cheio de bolor, era uma coisa dantesca (…).

Leia o artigo completo na edição impressa do jornal i. Agora também pode receber o jornal em casa ou subscrever a nossa assinatura digital.