Direita. Declarações de Rio sobre Chega agitam o PSD

Direita. Declarações de Rio sobre Chega agitam o PSD


Hipotético diálogo futuro com o partido de André Ventura deixou alguns sociais-democratas em choque. 


A entrevista do presidente do PSD, Rui Rio, à RTP3, na semana passada, ainda tem eco no PSD. Uma declaração sobre o Chega acabou por deixar alguns militantes do partido em choque. Tudo porque o presidente social-democrata não afastou por completo qualquer diálogo com o Chega, liderado por André Ventura, no futuro, admitindo tal cenário desde que aquele partido se torne uma versão bem mais moderada.

O primeiro a reagir foi José Eduardo Martins, antigo deputado, na rede social Facebook: “Isto é só a confissão de uma enorme aflição. O Dr. Rio saberá bem, acho eu, espero eu, que o Chega se mudar não faz sentido. A mudança que faz falta não virá nem do Chega nem do triste suicido do CDS. Não é de nada disso que a direita democrática e liberal está à espera”, atirou o também antigo secretário de Estado.

Rio começou por descartar qualquer hipótese de diálogo com o Chega, mas, mais à frente ( mesma entrevista) surgiu a frase da polémica: “Não depende do PSD, depende do Chega. Se o Chega evoluir de uma tal maneira que – embora seja um partido marcadamente de direita, em muitos casos de extrema-direita, muito longe de nós que estamos ao centro –, se o Chega evoluir para uma posição mais moderada, eu penso que as coisas se podem entender”. O líder do PSD quis dizer que o seu partido não fará nenhuma aproximação ao CHEGA, mas se o partido de André Ventura se moderar, é possível (quem sabe) algum caminho para o diálogo. Foi o suficiente para deixar alguns militantes incomodados.

 Ao choque por estas palavras, em que admitiu ( numa versão remota) que o Chega se possa aproximar do PSD,  seguiu-se o silêncio de muitos. Mas nem todos ficaram calados. O antigo líder do PSD Rui Machete não poupa nas palavras na sua reação. Em declarações ao i, Rui Machete começa por explicar que “se o Chega for uma coisa muito moderada, já não tem nada a ver com o Chega. O Chega, tal como se apresentou, foi como um partido de um certa violência do ponto de vista político, e portanto, teríamos outro partido” para admitir tal aproximação ao PSD.

Mas Machete vai mais longe no diagnóstico: “Por este caminho, o PSD não vai ter grandes possibilidades de ser governo. Por um lado, não tem tido uma ação verdadeiramente relevante de fiscalização do Governo. É um partido que está na oposição, tem que fiscalizar o Governo. É evidente que é correto não prejudicar o interesse nacional”, argumentou Rui Machete, mas o interesse nacional não obriga a que não se possa ser mais duro  quando algo está mal.

Depois há, “a evolução política do espetro partidário português”, lembra Machete, reconhecendo que para se governar “é preciso fazer um governo de coligação”, aludindo à polarização  partidária. Acresce-se,  nesta análise deste destacado militante do PSD,  que “o chamado bloco central não tem grande hipótese de se concretizar”. Ou seja, terá sempre de se avançar com uma solução em que o PSD se coligue com outro partido à direita, bem como o PS “com um partido mais à esquerda”. Machete não dá a solução, nesta fase, para o caso do PSD, mas deixa um recado claro: optar por fazer essa aliança com uma força política, das características do Chega, “é descaracterizar por completo o PSD”. O aviso está dado.

Mais duro do que Machete foi o ex-deputado Carlos Abreu Amorim. Que tem sido um forte crítico de Rui Rio. Em declarações ao i, o ex-parlamentar considera que “neste momento, o líder do PSD falar sobre hipóteses de coligações só serve para deitar areia para os olhos dos militantes, que estão muito descontentes com a colagem cada vez mais evidente do PSD ao PS”. 

Carlos Abreu Amorim defende que o líder do PSD admitiu uma coligação com o Chega no futuro, sem margem para dúvidas: “Rui Rio admitiu uma aliança com o Chega, porque na semana anterior tinha feito um favor desbragado a António Costa. Tentou reequilibrar a sua imagem junto do eleitorado do PSD. Só é enganado por isto quem quer”, advertiu o ex-deputado. O “favor” de que falava era o fim dos debates quinzenais, a verdadeira “prova dos nove”  de que a política portuguesa, a nível partidário, “é comandada pelo diálogo entre António Costa e Rui Rio, sendo que Rui Rio [surge] numa posição subordinada e secundária a António Costa”. Dito de outra forma: “ [ Rui Rio]Pisca o olho à direita e faz o jogo da esquerda socialista”. Tudo não passa de mera “jogada política”, concluiu Carlos Abreu Amorim.

De realçar que este domingo, o líder do Chega, André Ventura, promoveu uma contramanifestação, em Lisboa, para provar que Portugal não é racista, numa resposta às várias iniciativas de fim de semana para homenagear o ator Bruno Candé, morto a tiro em plena luz do dia, em Moscavide, por um reformado de 76 anos. O crime foi encarado como um ato racista.

Ventura voltou a insistir que o País “é inclusivo” e não há racismo. Na manifestação era visível a presença alguns militantes do PSD)e  Ventura avisou que se o líder do PSD não quiser participar naquele tipo de manifestações, promovidas pelo Chega “o PSD desaparece”. E rematou: “Já estamos fartos desta conversa de  que tudo é racismo em Portugal”, atirou, rodeados de centenas de apoiantes. Na manifestação esteve também Pedro Borges de Lemos, do CDS, além da mandatária presidencial de Ventura, a atriz Maria Vieira, numa iniciativa que soou a campanha para as Presidenciais de 2021.

Curiosamente, no Twitter, Rio respondeu à polémica sobre coligações com o Chega numa réplica a Pedro Marques Lopes, comentador na SIC Notícias: “Não, não se pode conversar com o Chega. Que quer dizer Rui Rio com “se moderarem o discurso”? Que se deve esquecer todo o discurso racista e xenófobo feito até esse momento?”. Na contra resposta, Rio atirou: “Caro Pedro Marques Lopes, eu não disse isso. Veja bem o que eu disse”.

Entretanto, o líder do CDS já reagiu à manifestação promovida por André Ventura: “A verdadeira direita que o CDS representa não cai nas ratoeiras ideológicas da extrema-esquerda para se afirmar” e que “o bom senso é único radicalismo de que Portugal precisa”, declarou Francisco Rodrigues dos Santos.