Morreram ao mesmo tempo. Totói partiu primeiro, na sexta-feira, dia 3. Era mais velho. Abriram-lhe os portões da planície da eternidade aos 81 anos. Seninho seguiu-o, 24 horas mais tarde, com apenas 71. António Eduardo Fortes, o Mãozinha, sofreu a injustiça do olvido. Nunca ninguém o conheceu pelo nome com que o batizaram no Mindelo, em Cabo Verde, a 13 de outubro de 1938: era o Totói e mais nada. Também nunca ninguém conheceu Arsénio Rodrigues Jardim pelo nome que lhe deram a 1 de julho de 1949, em Sá da Bandeira, Angola: era o Seninho e chegava. Volta e meia havia quem se lembrasse dele. Foi campeão pelo FC Porto, jogou no Cosmos de Nova Iorque, lado a lado com Pelé e Beckenbauer.
O destino tem destas coisas e a Senhora da Gadanha não dorme nunca. Vem lá do lugar sinistro onde exala o seu hálito fétido de morte e leva quem lhe dá na gana, sem dar satisfações. Totói e Seninho; Seninho e Totói. Estranho e inesperado encontro entre a Rua do Adeus e a Travessa da Saudade.
Totói veio de África com o irmão gémeo, o Djunga. Passou pelo Lusitano de Évora, pelo Farense e por outros mais miúdos: Tramagal, Peniche, Fátima, Marrazes… Em 1964 foi para Tomar, jogar no União. Quando era miúdo, eu gostava muito do União de Tomar. Não sei se por causa do equipamento, às riscas grossas, pretas e vermelhas, se por causa do nome, se por viver em Benavente e o União ser o ribatejano da i Divisão. Certamente, também por causa de Totói. O avançado que não tinha uma mão, a esquerda. Chamaram-lhe o Eusébio de Tomar antes de o verdadeiro Eusébio ter jogado nas margens do Nabão.
Seninho veio de África em 1969 – onde voltou para o serviço militar, jogando no FC Moxico – para jogar no FC Porto.
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