Caso Reguengos de Monsaraz. “Há perseguição aos médicos pela ARS Alentejo”

Caso Reguengos de Monsaraz. “Há perseguição aos médicos pela ARS Alentejo”


Sindicatos consideram mobilização de médicos para lar em Reguengos de Monsaraz “descabido, ilegal e sem sentido”. Moura decidiu suspender visitas a lares e alunos da Guarda testaram positivo depois de estarem em festas.


A situação no lar em Reguengos de Monsaraz não dá tréguas aos profissionais de saúde, sabendo-se agora que vários médicos do Agrupamento de Saúde (ACES) do Alentejo Central, do Hospital do Espírito Santo de Évora (HESE) e da Unidade Local de Saúde do Norte Alentejano (ULSNA) foram mobilizados para a instituição a pedido da Administração Regional de Saúde (ARS) do Alentejo. Os sindicatos dos médicos consideram a medida ilegal e garantem que os médicos estão a trabalhar horas a mais. Ao i, Jorge Roque da Cunha, secretário-geral do Sindicato Independente dos Médicos (SIM), considera que “em vez de palmas, há maus tratos, falta de respeito e de cumprimento da lei”. E acrescenta que “a situação chegou onde chegou e a responsabilidade é justamente da ARS Alentejo, que em devido tempo não fez os testes e medidas preventivas junto dos utentes e funcionários”. Roque da Cunha compara a situação com o que se passou quando o número de infetados por covid-19 aumentou exponencialmente na região Norte: “Quando foi no Norte, eles fizeram com que os militares avançassem e internaram os doentes no hospital militar e têm neste momento médicos militares”.

Este domingo, segundo os dados divulgados pela Autoridade de Proteção Civil do município, registaram-se mais três mortes, elevando o número total de vítimas mortais para 12. Já de acordo com o boletim divulgado pela Direção-Geral da Saúde (DGS), o número de casos registados foi de 132.

Apesar da situação, o Sindicato Independente dos Médicos considera “absolutamente descabido, absolutamente ilegal e sem sentido” a mobilização dos profissionais de saúde, sublinhando que há “uma perseguição aos médicos no Alentejo”. E assume que existe “ilegalidade em mobilizar médicos de outros hospitais, de outros concelhos para o lar, e médicos de família também para o lar, onde a pretexto da sua proximidade, os obrigam a estar lá 12 horas por dia”.

Também o Sindicado dos Médicos da Zona Sul (SMZS), que denunciou a situação, criticou a ARS do Alentejo, admitindo que esta teve “uma atitude autocrática que carece de sustentação legal, uma vez que a deslocação para outro concelho diferente do local habitual de trabalho apenas poderá ocorrer se existir concordância expressa do médico”.

Esta denúncia surge depois de outra decisão polémica tomada pela ARS Alentejo: a suspensão de férias de todos os médicos, enfermeiros e prestadores de cuidados primários pertencentes ao distrito de Évora até ao dia 10 de julho. “Como é evidente não faz qualquer sentido proibir férias no Alentejo em relação a uma determinada situação”, adianta Jorge Roque da Cunha. O dirigente sindical assume que os profissionais de saúde fazem tudo o que está ao seu alcance no combate ao vírus, havendo “dezenas de médicos que, em três meses, ultrapassaram o número de horas extraordinárias previsto”. “São 150 horas, mas a esmagadora maioria dos médicos hospitalares já ultrapassaram essas horas”, acrescenta.

Visitas suspensas nos lares em Moura A cerca de 50 quilómetros de Reguengos de Monsaraz, no concelho de Moura, também no Alentejo, a Proteção Civil decidiu ontem suspender as visitas nos lares. A medida entra hoje em vigor e vai manter-se por 15 dias. Em causa, disse o município, está a “análise à evolução do número de casos de infeção pelo novo coronavírus SARS-CoV-2 na região do Alentejo”. Segundo os últimos dados divulgados ontem pela DGS, registam-se em Moura 71 casos de infeção por covid-19.

Além da suspensão das visitas nos lares de Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS), a Câmara Municipal de Moura vai esta quarta-feira começar a testar, novamente, os profissionais que estão no Serviço de Urgência Básica, os Bombeiros Voluntários e os profissionais da delegação de Safara e Sobral da Adiça da Cruz Vermelha Portuguesa.

Estudantes da Guarda testam positivo Este sábado à noite chegou ao Instituto Politécnico da Guarda (IPG) a notícia de que vários estudantes testaram positivo à covid-19, tendo oito deles ficado internados na unidade hospitalar da Guarda por não existirem condições nos alojamentos para garantir o isolamento. Com alunos infetados, o IPG decidiu suspender os exames presenciais e todos os estudantes, a partir de agora, vão fazer as avaliações a partir de casa. “Segundo as informações transmitidas ao IPG, uma parte dos contágios terá ocorrido em ‘festas covid’ realizadas na Guarda, à semelhança do que terá ocorrido noutras cidades com estabelecimentos de ensino superior”, avançou em comunicado o instituto, acrescentando que “nessas festas o convívio dos jovens terá decorrido sem cumprir as recomendações das autoridades de saúde”.

De acordo com o boletim divulgado ontem pela DGS, registaram-se 328 novos casos de infeção, com a região de Lisboa e Vale do Tejo a representar 77% desse total – 254 casos. As cerca de duas dezenas de casos num lar das Caldas da Rainha são uma das situações que causam maior apreensão.