Newcastle United.  A polémica venda  do clube inglês  não tem fim à vista

Newcastle United. A polémica venda do clube inglês não tem fim à vista


Negócio da compra do clube por parte de um fundo governamental da Arábia Saudita estava em fase avançada, mas conheceu novo revés. No centro da polémica está a pirataria que tem atacado a Liga inglesa, e não só. Entretanto, já há novo potencial comprador.


O Newcastle já esteve mais perto de ter novo dono. Num momento em que tudo parecia encaminhado para um fundo governamental da Arábia Saudita adquirir 80% das ações do clube do norte de Inglaterra por 355 milhões de euros (valor pedido pelo bilionário inglês e ainda atual proprietário da maior parte do clube Mike Ashley, que baixou o montante inicial, fixado em 435 milhões de euros, devido à crise pandémica), a operação sofre novo revés. Em causa está o facto de a Organização Mundial do Comércio (OMC) ter revelado um relatório no qual é possível perceber que a Arábia Saudita ajudou a promover a pirataria contra a Premier League, assim como contra La Liga, Bundesliga, UEFA e FIFA.

Segundo avançou o jornal espanhol Marca, o referido documento diz que o país árabe, liderado pelo príncipe herdeiro Mohammed bin Salman, não tomou medidas para travar as operações da beoutQ – plataforma que opera naquele país – e para proteger a propriedade intelectual dos titulares dos direitos de transmissão televisiva relativa aos jogos. Também a BeIN Sports, operadora de televisão, já tinha pedido que o negócio fosse escrutinado, sobretudo pelo facto de o regime saudita se recusar a travar a pirataria na transmissão dos jogos da Liga inglesa no país árabe. Após o anúncio feito pela OMC, a UEFA foi lesta a reagir, vincando a posição do organismo contra a pirataria. “Esta decisão mostra claramente que ninguém envolvido em pirataria audiovisual deve ser considerado acima do Estado de direito”, disse Aleksander Ceferin. “Aqueles que procuram seguir o exemplo da beoutQ não devem ter dúvidas de que a UEFA fará o possível para proteger a propriedade dos jogos e apoiar os seus parceiros, cujo investimento no futebol faz com que este permaneça o desporto mais popular do mundo, desde a base até ao nível de elite”, acrescentou ainda o líder do organismo que tutela o futebol europeu.

Contudo, este está longe de ser o único senão desta operação multimilionária em que as polémicas têm dominado ao longo dos últimos cerca de três meses de negociações. Ainda antes dos novos factos tornados públicos pela OMC, também a Amnistia Internacional (AI) tinha feito saber a sua posição relativamente ao negócio, lembrando que o clube pode vir a ficar nas mãos de um país que tem violado de forma recorrente os direitos humanos desde que Mohammad bin Salman subiu ao poder, em 2017. No último mês de abril, Felix Jakens, líder da AI no Reino Unido, lembrou a “repressão a que foram sujeitos” os defensores dos direitos humanos em território saudita, “incluindo os corajosos defensores dos direitos da mulher”. Além disso, foi também lembrado a “flagrante ocultação em relação ao terrível assassinato de Jamal Khashoggi”, o jornalista do Washington Post assassinado no consulado saudita em Istambul, na Turquia; e o “histórico vergonhoso de ataques militares indiscriminados a casas e hospitais no Iémen”. “A lavagem desportiva pode ser combatida. Como tal, apelamos aos funcionários e adeptos do Newcastle para perceberem melhor a terrível situação de violação dos direitos humanos na Arábia Saudita”, concluiu Jakens à data.

De notar que a compra de clubes por parte de fundos governamentais de outros países está longe de ser uma novidade, pelo que as motivações envolvidas no processo são alvo de análise da própria liga em que o clube em causa está inserido – a instituição está obrigada a dar o seu parecer e a detetar se existe (ou não) algum tipo de irregularidade na venda. Em Inglaterra encontra-se desde logo o exemplo do Manchester City, adquirido pelo Abu Dhabi United Group, pertencente ao xeque Mansour bin Zayed Al Nahyan, membro da família real que governa os Emirados Árabes Unidos (curiosamente, em 2019 existiram rumores que davam como garantida a aquisição do Newcastle pelo grupo). Também na Ligue 1 está logo à cabeça o Paris Saint-Germain, que é gerido pelo governo do Catar através de um fundo de investimento.

Certo é que o impasse no negócio que envolve a parte dominante do Newcastle (adquirida por Mike Ashley em 2007, por 153 milhões de euros) traz novos potenciais interessados para o jogo. De acordo com a Sky Sports, o magnata Henry Mauriss (CEO da empresa de televisão americana Clear TV) surgiu como um possível comprador, com uma suposta oferta superior à proposta feita por Mohammed bin Salman. Ao que tudo indica, Mauriss estaria à espera que o negócio com o fundo saudita caísse por terra para avançar com a proposta – e pretende adquirir o emblema inglês ainda antes do início da temporada 2020/21.

A polémica venda do clube parece não ter fim à vista e promete ainda fazer correr muita tinta…