Desemprego. Cenário negro em todo o mundo com taxas a disparar

Desemprego. Cenário negro em todo o mundo com taxas a disparar


Só nos Estados Unidos, mais de 10 milhões perderam o emprego em duas semanas. Europa não escapa à tendência e taxa de desemprego continua a aumentar. Em Portugal, maioria das empresas em layoff deverão mais tarde entrar em insolvência, segundo os economistas ouvidos pelo i.


O atual cenário da taxa de desemprego é desanimador e não vai parar de aumentar em consequência do impacto do novo coronavírus. Os economistas contactados pelo i admitem, no entanto, que tudo depende de quanto tempo vai durar a quarentena em cada país. Portugal não vai ficar alheio a esta tendência e, apesar de muitas empresas terem entrado em layoff, acreditam que o caminho seguinte será a insolvência.

Mas os números falam por si. Só nos Estados Unidos dez milhões perderam o emprego em 15 dias no espaço de duas semanas e vários economistas já falam num verdadeiro tsunami no mercado laboral. Feitas as contas, o número de novos desempregados nos EUA equivale a toda a população de Portugal. O primeiro recorde já tinha sido batido na semana anterior, com 3,2 milhões de novos pedidos de subsídio.

Certo é que estes números ganham um novo fôlego em relação ao que era registado antes da pandemia, os EUA registavam cerca de 200 mil novos pedidos por semana há pelo menos um ano.

 Tiago Cardoso, analista da Infinox, acredita que “estes números vão subir semana a semana” e acredita que a taxa de desemprego no mercado norte-americano irá rapidamente atingir entre os 20 e os 30%”. Mas nem tudo são más notícias. De acordo com o responsável, “assim que a economia começar a recuperar rapidamente os desempregados irão ser absorvidos”. diz ao i.

Já João Duque defende que “muitos trabalhadores norte-americanos que agora se sentem desprotegidos rapidamente irão voltar ao mercado de trabalho, assim que a economia se sentir a recuperar”, diz ao i

Também a Europa não escapa à crise do desempego. A Espanha é para já um dos países mais afetados. Os centros de emprego espanhóis registaram 302 mil novas inscrições em março em relação ao mês anterior e, ao mesmo tempo, o número de trabalhadores a pagar contribuições sociais também baixou de forma significativa.

A Segurança Social da quarta maior economia da zona euro perdeu, num mês, mais de 800 mil contribuintes. A 31 de março, tinha 18.445.436 registos, menos 833.979 do que no último dia de fevereiro. A taxa de desemprego saltou para 9,3%, no mês passado.

O mesmo cenário repete-se em França. A ministra do Trabalho, Muriel Pénicaud, diz que quase um quinto da força de trabalho foi afetada: “337 mil empresas fizeram o pedido de apoio, a grande maioria são pequenas empresas. E estas candidaturas representam 3,6 milhões de funcionários”.

Ainda não são conhecidos os últimos dados de Itália, mas de acordo com os economistas contactados pelo i o “cenário será devastador”.

Na Áustria, o número de desempregados também atingiu níveis recorde desde o fim da 2ª Guerra por covid-19. Mais de 504 mil pessoas ficaram desempregadas, um aumento de 52,2% em relação a fevereiro.

De acordo com Tiago Cardoso os olhos estão postos na Suécia. Apesar de já terem registado mais de 300 mortes e 6 mil casos de covid-19 no país, as fronteiras continuam abertas e as crianças continuam a ir à escola – fecharam apenas os secundários e as universidades. Foram proibidos eventos com mais de 50 pessoa e só às pessoas com mais de 70 anos é que foi pedido que evitem contacto social.

 

E Portugal?

A perspetiva não é animadora. Para Tiago Cardoso, a maioria das empresas que recorreu a layoff não voltará a abrir portas e deverá avançar mais tarde para a insolvência. Uma opinião partilhada por Luís Duque ao admitir que muitas dessas empresas “ao não terem receitas, mais cedo ou mais tarde, irão fechar as portas”, refere o o economista ao i. “A recuperação irá ser muito lenta nas empresas portuguesas e, mesmo os trabalhadores que estão atualmente em layoff irão mais tarde para o fundo de desemprego”, diz João Duque.

De acordo com os últimos dados do Ministério do Trabalho, quase 32 mil empresas portuguesas já se candidataram ao layoff simplificado, mecanismo de salvaguarda dos postos de trabalho posto em prática para apoiar as empresas durante a pandemia de covid-19.

O número de trabalhadores por conta de outrem declarado em fevereiro pelo conjunto das 31.914 empresas candidatas ao layoff corresponde a um universo de 552 mil trabalhadores.

A maioria das empresas candidatas ao apoio laboram nas áreas de alojamento e restauração, reparação de veículos e indústrias transformadoras, especifica-se no documento, que refere ainda que a maior parte dos pedidos surge de microempresas, com 10 ou menos trabalhadores (cerca de 74%), e de pequenas empresas, com menos de 50 trabalhadores (cerca de 20%).

Tendo em conta as zonas geográficas, a maioria dos pedidos surge em Lisboa e Porto, que, juntos, somam quase 14 mil, dividindo-se os restantes por Braga, Aveiro e Faro.

Em março, de acordo com o Ministério de Ana Mendes Godinho, foram comunicados 59 processos de despedimento coletivo (face aos 36 declarados em fevereiro), abrangendo 843 trabalhadores. Recorde-se que os números oficiais de desemprego relativos a março serão conhecidos a 20 de abril, adiantando que “os dados preliminares apontam para um aumento marginal”, face aos dados de fevereiro, com mais “cerca de 28 mil pessoas desempregadas”, aumentando o número total para cerca de 320 mil pessoas.