Varandas e a aposta de dez milhões


A contratação de Amorim por dez milhões de euros parece-me um erro colossal que roça a loucura. O que tem o Sporting a ganhar para compensar tamanho investimento?


Se entretanto não houver nenhuma surpresa, o Sporting apresenta hoje o seu quarto treinador da época – e o sexto, se não estou em erro, da presidência de Frederico Varandas. Apesar de ter sido vilipendiado pela Associação Nacional de Treinadores de Futebol aquando da sua nomeação para técnico principal do Sporting de Braga, Rúben Amorim fez um percurso brilhante aos comandos da equipa minhota. Dez vitórias em 13 jogos, alguns deles muito difíceis: ganhou ao Porto por duas vezes, ao Sporting também por duas vezes e ao Benfica na Luz, na altura longínqua em que os encarnados ainda eram líderes incontestados do campeonato.

Apesar disso tudo, a contratação de Amorim por dez milhões de euros parece-me um erro colossal que roça a loucura. Em primeiro lugar, porque se trata de um valor manifestamente exagerado por um treinador que ainda não deu provas. Nem Jorge Jesus, no apogeu da fama, depois de ter conquistado títulos e mais títulos, custou sequer perto disso.

Em segundo lugar, porque os problemas do Sporting vêm de trás e não se resolvem com uma mudança de treinador.

Por último, porque o clube de Alvalade neste momento já não tem nada a ganhar. Se disséssemos que estava em jogo uma qualquer competição importante (e lucrativa), poder-se-ia admitir tamanho investimento. Era um risco, mas podia dar retorno. A triste realidade, porém, é que o Sporting já não tem nada por que lutar. Talvez o terceiro lugar no campeonato. Mas será que justifica pagar um treinador a peso de ouro?

A dimensão da aposta dá-nos, pois, uma medida não do que Rúben Amorim pode trazer ao Sporting, mas do preço que Varandas está disposto a pagar pela sua sobrevivência como presidente do clube. No fundo, é mesmo disso que se trata: de uma aposta de tudo ou nada. É a sua última cartada. Se falhar, tem o destino traçado. E o mais provável é que, como aqueles jogadores de roleta alienados que se arruínam ao apostar o que têm e o que não têm, esta decisão se revele errada. Espero sinceramente estar enganado, mas temo que só contribua para Varandas se afundar definitivamente.