Na maioria das famílias portuguesas, os dias que antecedem o Natal são uma lufa-lufa extenuante. É preciso comprar os presentes em falta em centros comerciais apinhados de gente; enfrentar parques de estacionamento sobrelotados; suportar filas intermináveis nas lojas enquanto se é massacrado com as mesmas músicas natalícias ano após ano.
Depois há os preparativos para a ceia, que normalmente exigem uma visita de última hora ao supermercado e uma pequena maratona à volta dos tachos. E, ao fim do dia, depois de lavada a loiça e arrumada a cozinha, talvez ainda tenham ficado alguns embrulhos por fazer, o que obriga a um esforço extra antes do merecido descanso…
Para muitos casais, o Natal é também sinónimo de quilómetros na estrada, pois há que visitar as famílias de ambas as partes. É preciso correr de um lado para o outro, de modo a satisfazer toda a gente. E sabe Deus como nós portugueses andamos sempre atrasados numa corrida contra o tempo… Qual paz e tranquilidade, qual quê! O Natal é um período de atividade intensa, preocupações, correrias e stresse acumulado.
Talvez por tudo isso esta seja uma das épocas mais mortíferas do ano: vários estudos apontam para que o dia de Natal seja, a par do Ano Novo, aquele em que a probabilidade de morrer é mais elevada. Por uma daquelas estranhas ironias da vida, a época em que se celebra o nascimento é também aquela em que se regista um pico de óbitos.
Em Portugal tivemos vários casos trágicos que emprestam tons mais sombrios a esta quadra. No concelho da Trofa, no espaço de poucas horas, uma mulher caiu de um prédio quando tentava entrar em casa através da varanda da vizinha porque se tinha esquecido da chave, e uma outra foi atropelada pelo irmão quando se despedia.
Sobreviver ao Natal não é, por isso, apenas uma metáfora. Quando chegamos ao dia 26 de dezembro e podemos finalmente respirar fundo, aí sim, temos motivos para celebrar. Sem euforias e, de preferência, com muita água das Pedras para compensar algum excesso cometido por estes dias.