Alojamento local. Só no Algarve  há mais de 32 mil unidades que geram 980 milhões por ano

Alojamento local. Só no Algarve há mais de 32 mil unidades que geram 980 milhões por ano


A grande maioria das unidades foram alvo de um investimento de até 10 mil euros. A média do retorno ronda os cinco e os seis anos. Albufeira, Loulé e Portimão concentram 50% da oferta na região algarvia.


O Algarve já está rendido à oferta do alojamento local, não ficando alheio à tendência que se verifica no resto do país. Só nesta região existem 32 405 unidades registadas neste segmento, com Albufeira a ocupar o primeiro lugar da lista. Só esta zona conta com 7361 alojamentos locais. Segue-se Loulé, com 5033, e Portimão, com 4319. Feitas as contas, estes três concelhos agregam 50% dos alojamentos locais na região algarvia. A conclusão é do primeiro estudo realizado sobre alojamento local no Algarve, promovido pela Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (Ahresp).

Só entre o segundo semestre do ano passado e os primeiros seis meses de 2019 abriram, nesta região, 5752 alojamentos locais. A atividade emprega, na região algarvia, mais de 20 mil pessoas, gerando um volume de negócios de 980 milhões de euros por ano. O estudo “Qual o impacto do Alojamento Local na região do Algarve?” foi realizado pelo ISCTE entre julho do ano passado e junho deste ano e abrangeu 2947 unidades de alojamento local e um total de 233 proprietários.

A oferta, mostra o estudo, é também bastante abrangente e dividida por várias tipologias: a maior parte corresponde a apartamentos (77%), mas existem também moradias (21,3%), estabelecimentos de hospedagem (1,3%), hostels (0,3%) e também quartos (0,1%).

O estudo apresentado pela Ahresp revela números positivos, uma vez que 68,8% dos alojamentos têm taxas de ocupação médias anuais superiores a 50%. A maioria das reservas, aponta o documento, é realizada através da plataforma Booking. Em segundo lugar aparecem as reservas diretas, que ultrapassam o Airbnb, que se fixa no terceiro lugar.

Já no que diz respeito à estrutura de gestão, a gestão do alojamento local algarvio encontra-se fragmentada: 57,3% dos proprietários gerem apenas uma unidade. Ainda assim, 0,8% dos proprietários geram 101 ou mais unidades. A maior parte dos proprietários (66,1%) exercem a sua atividade como pessoa coletiva e gerem 88,1% dos alojamentos. O estudo faz ainda um perfil dos proprietários dos estabelecimentos e revela que os individuais tendem a ser mais velhos e com um nível de habilitações intermédio, sendo o turismo e, em particular, a gestão do alojamento local a principal atividade e foco dos proprietários.

A grande maioria das unidades (72,9%) teve um investimento de até 10 mil euros, mas uma percentagem ainda significativa (6%) teve um investimento a superar os 500 mil euros. O retorno desse investimento é esperado numa média de cinco a seis anos, revela o estudo, que acrescenta ainda que a crescente procura turística externa, em conjunto com a melhoria da perceção sobre Portugal, é vista com otimismo e como uma oportunidade de mercado.

O estudo aponta que um dos principais desafios futuros para este tipo de negócio é a sazonalidade e os enquadramentos fiscal e regulamentar. Mas não só: as questões legais e de licenciamentos, a concorrência, a redução do poder de compra e o apoio à promoção são algumas das dificuldades apresentadas para o futuro. Nesta altura, os proprietários revelam sentir necessidade de serviços de apoio especializado no domínio fiscal-jurídico, de formação e preparação comercial e de marketing.

O estudo revela ainda que a análise de clusters permitiu identificar três grandes grupos de alojamentos que se distinguem pela tipologia de hóspedes que acolhem e a taxa de ocupação média: alojamentos familiares (49,9%), para casais (42,5%) e para grupos (7,7%).

Hóspedes O documento avança que Inglaterra, Portugal e França têm tendência a ser os destinos emissores mais relevantes no Algarve, mas há também turistas de nacionalidade alemã, espanhola e brasileira.

Já a atratividade do alojamento local no Algarve quando comparado com outros equipamentos hoteleiros, diz o estudo, baseia-se em vários fatores, sendo a localização, a acessibilidade e a competitividade da relação qualidade-preço as mais aliciantes para quem escolhe o destino. Ainda assim, o apoio do anfitrião, a decoração dos espaços e as regras flexíveis (animais/tabaco/festas) são fatores que pesam no que toca à escolha de alojamento.

Quanto ao destino, o clima, a gastronomia, a simpatia e a hospitalidade, a localização e a acessibilidade, atrações turísticas e segurança são algumas das principais escolhas dos turistas quando escolhem o Algarve para férias.

Nos últimos cinco anos, a taxa média de ocupação naquela região registou uma subida sustentada, “quase dobrando ao final de cinco anos para um valor de 65,1%”.

Realidade na capital Os últimos dados da Ahresp em relação a Lisboa apontam para uma redução de unidades registadas. O estudo feito apontava para pouco mais de 30 mil unidades, em que cerca de 40% dos imóveis estavam instalados em edifícios desocupados e 27% eram habitação própria. E apesar de os AL estarem localizados em imóveis relativamente recentes, cerca de 25% estão instalados em edifícios anteriores a 1950.

Já em relação aos gestores de AL, cerca de 69% são proprietários dos imóveis, enquanto os restantes 31% são inquilinos. A tipologia mais representada é a de apartamento (74%), seguido de moradia (12%) e hostel (9%).

De acordo com o mesmo estudo, a esmagadora maioria dos proprietários (73%) utilizam as plataformas de reserva para promoção e comercialização. Mas cerca de 65% das unidades são geridas pelos proprietários, e 57% não prescindem de fazer eles próprios o acolhimento e receção dos hóspedes.

A maioria (63%) pretende, em primeiro lugar, obter mais rendimentos e metade espera recuperar o investimento em apenas um ano. No entanto, 61% vê a carga fiscal como a maior ameaça à sua atividade.

Na motivação dos hóspedes para a escolha de um AL observou-se que as reviews de outros hóspedes e a localização são os principais influenciadores na escolha, tendo o preço um peso também relevante (51,8%).

De acordo com o feedback dado pelos hóspedes, a maioria (85%) indica a localização de um AL, seguido do apoio do anfitrião (73%), como os principais aspetos que valorizaram na experiência obtida.

Trazer para a legalidade O presidente da Associação do Alojamento Local em Portugal (ALEP) lembrou, em entrevista ao i, que “em alguns mercados como o Algarve e Lisboa começa a haver uma oferta estrangeira. São estrangeiros que compraram para ter uma segunda casa e, quando não a utilizam, arrendam. É um mercado que existe e tem maior peso no Algarve. É o caso de franceses, brasileiros que ficam cá um ou dois meses a gozar a tal reforma dourada”.

No entanto, Eduardo Miranda garantiu que antes de começar o boom do alojamento local, no Algarve era quase tudo ilegal. “Hoje diria que em Lisboa e Porto, a ilegalidade é marginal. No Algarve, ainda temos um desafio, porque ainda há muito o boca-a-boca. Trazer a oferta para a legalidade foi uma das grandes conquistas e Portugal lidera a nível mundial”.

De acordo com as contas do responsável, cerca de 92% dos titulares têm um a três alojamentos locais, o que dá para um salário, com sorte. “Em Lisboa, que é o maior mercado, se calhar vão tirar 500 euros por um T1”, revelou na mesma entrevista ao i.