Pizzi, o homem que faz três posições


Ao contrário do que normalmente se diz, o Benfica não tem um grande plantel. Tem até um plantel muito desequilibrado. A defesa é excelente, com André Almeida, Rúben Dias, Ferro e Grimaldo, tendo todos alternativas razoáveis. Mas do meio-campo para a frente começam os problemas.


Aí, o Benfica tem um conjunto de jogadores razoáveis, mas não tem um grande jogador. Basta dizer que o melhor é Pizzi, que durante anos foi visto com ceticismo. E não abona muito a favor dos avançados o facto de o melhor marcador da equipa ser um médio…

Claro que isto também acontece porque Rafa, de longe o melhor avançado da Luz, está há muito tempo lesionado.

A falta de avançados de categoria reflete-se nas dúvidas que o treinador tem tido lá na frente. Já jogaram Seferovic e De Tomás, e agora jogam Vinicius e Chiquinho. Nenhum deles é brilhante. O melhor será Vinicius, pelo oportunismo e pela pujança física. Tomás, com alguns bons pormenores, foi uma grande desilusão.

Mas voltemos a Pizzi. Curiosamente, estive ligado ao seu trajeto. No dia em que Enzo Pérez saiu da Luz, o Benfica ficou sem médio ofensivo. Parecia não haver no plantel nenhum jogador com características para aquela posição. Mas num jogo da Taça de Portugal (ou da Taça da Liga), contra o Braga, Jesus experimentou Pizzi naquela posição. E eu gostei. Revelou boa visão de jogo, criatividade e capacidade de colocar a bola à distância.

Está encontrado o substituto de Enzo – pensei.

Em conversa posterior com Jorge Jesus, porém, este torceu o nariz. “Ele não mete o pé, e naquela posição é preciso não ter medo de meter o pé”, explicava-me o treinador. Eu insistia nas suas qualidades, mas ele falava-me dos defeitos…

A verdade é que, no jogo seguinte, Jesus colocou mesmo Pizzi no meio-campo, ele fez uma boa exibição e ganhou o lugar. Nunca mais saiu. Jesus deu o braço a torcer. Confidenciou-me um dia: “Ele seria sempre um extremo vulgar e é um belíssimo jogador no corredor central”.

Mas Rui Vitória, quando chegou ao Benfica, não entendeu o mesmo – e Pizzi foi primeiro para a ala e depois para o banco. Parecia ter terminado a sua aventura como médio.

Mas a teimosia do jogador revelar-se-ia mais forte do que a ideia do treinador. E, a pouco e pouco, Pizzi voltou à equipa, tornou-se titular e hoje é uma peça fundamental. Está a jogar num lugar um pouco diferente – um extremo que inflete para o meio, funcionando simultaneamente como ala e como médio ofensivo –, mas faz tudo: surge junto à linha, surge no meio, surge na área a marcar.

De certo modo, faz hoje três posições: extremo, médio e avançado. Entretanto começou a ser chamado à seleção com regularidade, tornou-se o jogador mais influente da equipa, o seu melhor marcador – e até o melhor marcador do campeonato. É obra! Melhor trajeto não era possível.


Pizzi, o homem que faz três posições


Ao contrário do que normalmente se diz, o Benfica não tem um grande plantel. Tem até um plantel muito desequilibrado. A defesa é excelente, com André Almeida, Rúben Dias, Ferro e Grimaldo, tendo todos alternativas razoáveis. Mas do meio-campo para a frente começam os problemas.


Aí, o Benfica tem um conjunto de jogadores razoáveis, mas não tem um grande jogador. Basta dizer que o melhor é Pizzi, que durante anos foi visto com ceticismo. E não abona muito a favor dos avançados o facto de o melhor marcador da equipa ser um médio…

Claro que isto também acontece porque Rafa, de longe o melhor avançado da Luz, está há muito tempo lesionado.

A falta de avançados de categoria reflete-se nas dúvidas que o treinador tem tido lá na frente. Já jogaram Seferovic e De Tomás, e agora jogam Vinicius e Chiquinho. Nenhum deles é brilhante. O melhor será Vinicius, pelo oportunismo e pela pujança física. Tomás, com alguns bons pormenores, foi uma grande desilusão.

Mas voltemos a Pizzi. Curiosamente, estive ligado ao seu trajeto. No dia em que Enzo Pérez saiu da Luz, o Benfica ficou sem médio ofensivo. Parecia não haver no plantel nenhum jogador com características para aquela posição. Mas num jogo da Taça de Portugal (ou da Taça da Liga), contra o Braga, Jesus experimentou Pizzi naquela posição. E eu gostei. Revelou boa visão de jogo, criatividade e capacidade de colocar a bola à distância.

Está encontrado o substituto de Enzo – pensei.

Em conversa posterior com Jorge Jesus, porém, este torceu o nariz. “Ele não mete o pé, e naquela posição é preciso não ter medo de meter o pé”, explicava-me o treinador. Eu insistia nas suas qualidades, mas ele falava-me dos defeitos…

A verdade é que, no jogo seguinte, Jesus colocou mesmo Pizzi no meio-campo, ele fez uma boa exibição e ganhou o lugar. Nunca mais saiu. Jesus deu o braço a torcer. Confidenciou-me um dia: “Ele seria sempre um extremo vulgar e é um belíssimo jogador no corredor central”.

Mas Rui Vitória, quando chegou ao Benfica, não entendeu o mesmo – e Pizzi foi primeiro para a ala e depois para o banco. Parecia ter terminado a sua aventura como médio.

Mas a teimosia do jogador revelar-se-ia mais forte do que a ideia do treinador. E, a pouco e pouco, Pizzi voltou à equipa, tornou-se titular e hoje é uma peça fundamental. Está a jogar num lugar um pouco diferente – um extremo que inflete para o meio, funcionando simultaneamente como ala e como médio ofensivo –, mas faz tudo: surge junto à linha, surge no meio, surge na área a marcar.

De certo modo, faz hoje três posições: extremo, médio e avançado. Entretanto começou a ser chamado à seleção com regularidade, tornou-se o jogador mais influente da equipa, o seu melhor marcador – e até o melhor marcador do campeonato. É obra! Melhor trajeto não era possível.